Na postagem anterior dissemos que duas histórias tomariam outro rumo tempos depois da queda do Boing737 – Super200, na madrugada de oito de junho de 1982, minutos antes de aterrar no Aeroporto Pinto Martins, na capital cearense. A primeira delas, a das famílias de Laura Maria Temporal de Lara, seu marido Renato, seu irmão Affonso e de Júlio, seu cunhado, vítimas da tragédia que resultou na morte dos 137 ocupantes da aeronave, graças à carta psicografada por Chico Xavier, Uberaba, MG. A outra, a do casal Olinda e Gerson Feder, que meses depois, em dia diferente daquele em que se fizeram presentes os familiares da primeira comunicante, em circunstâncias semelhantes – reunião pública, misturados à pequena multidão aglomerada no recinto do Grupo Espírita da Prece, a maioria sem contato prévio com o médium... –, ouviram ao final da reunião daquela noite/ madrugada, a leitura, entre as várias mensagens recebidas por ele, a da filha Olimar Feder Agosti. Jovem advogada de 30 anos, casada há apenas três meses, saíra de São Paulo a fim de encontrar o marido Geraldo Agosti, com quem passaria alguns dias de férias na bela cidade do Nordeste brasileiro. Filha única, Olimar, como não poderia ser diferente, deixou um imenso vazio no coração dos pais que, meses depois, seguiram o mesmo caminho percorrido ao longo dos anos, por milhares de outros pais, mães, filhos, na esperança de ouvirem algo que os reconfortasse ou esclarecesse na sua desventura. E, a exemplo de muitos outros, tiveram a felicidade de receber das mãos de Chico, a carta por ele psicografada entre inúmeras de autores com históricos diferentes, algo constante em suas atividades de sexta e sábado nos anos 70, 80 e parte de 90. Comentando o acontecido, sua mãe diria: “- A mensagem de Olimar foi uma das maiores emoções da vida, pois com a separação de uma filha jovem, inteligente, bonita por fora e por dentro, de forma repentina e brutal, o equilíbrio somente foi possível pela fé inabalável em Deus e pela ajuda dos amigos iluminados, que nos deram a chance de termos o contato claro, impressionante, autêntico, que fortaleceu nossa crença e nos inspirou a confiar que a vida é eterna para quem ama. Recebemos mais uma prova de que a morte material é patente, porém o nosso espírito continua na trajetória da vida eterna”. Comparando e analisando sua carta e a de Laura Maria, percebe-se claramente como são diferentes as percepções das pessoas, sua capacidade de ver e sentir a realidade, por vezes, comungada por várias outras. Logo no início, Olimar revela: “- Estou ainda sob a impressão difícil de descrever – a impressão dos que passaram pela ocorrência de que partilhei. Ainda assim, estou na condição da filha reconhecida que lhes pede a bênção. Venho trazida, porque, por mim própria, a iniciativa da visita a que me entrego, seria quase impraticável. A vovó Marieta considerou, porém, que seria justo endereçar-lhes alguma notícia e estou pronta para isso”. Compreensível que, sendo o corpo espiritual ou períspirito o molde do qual o corpo físico é uma réplica, passível de tratamentos variados no Plano Espiritual, o tempo de recuperação emocional, psicológico e estrutural não é rápido estando condicionado às necessidades e méritos de cada um. Recuperando detalhes da viagem interrompida, diz Olimar: “- Lembro-me perfeitamente de nossa despedida natural antes da decolagem do avião, tudo alegria e certeza de paz com a promessa do reencontro com o nosso querido Geraldo em Fortaleza para que a minha alegria fosse completada. A viagem começou se m novidades que mereçam menção especial. Alguns passageiros, creio que veteranos nas travessias aéreas se punham a dormir, tentei fazer o mesmo, no entanto, não conseguia perder-me no repouso desejado. Refletia na vida e montava mentalmente os meus projetos para a excursão iniciada. Guardava a ideia de que alguém velava comigo, sem que eu pudesse identificar qualquer presença espiritual. Mais tarde é que soube que a vovó Marieta estava ao meu lado”. Nesse ponto da narrativa, importante lembrar o citado no caso anterior, em que recuperamos a informação reiteradas vezes citada em cartas psicografadas por Chico Xavier, onde seus autores afirmavam que “acontecimentos imprevisíveis na Terra, estão marcados para acontecer no Plano Espiritual”, o que explica a presença de familiares e amigos no outro lado da vida preparados para auxiliar as vítimas no transe da morte. Retornemos às reminiscências de Olimar: “-Tudo seguia sem sobressaltos, máquina estável e segurança em tudo. A aeromoça ia e vinha de quando em quando, oferecendo brindes para nosso reconforto e irradiando o sorriso com que parecia desejosa de nos tranquilizar. Consultei o horário e pensava na mãezinha Helena (a sogra, residente em Fortaleza) a esperar-me na alta madrugada, quando o estrondo reuniu a todos na mesma ideia horrível. Num relâmpago de segundo ainda consegui mentaliza-los em companhia do GE, mas o raciocínio desapareceu como por encanto. Dores não senti. Creio hoje que nas calamidades imprevistas qual aquela em que me vi, não há tempo para registro de sofrimento pessoal. Se isso aconteceu deve ter sido um pesadelo que o assombro empalideceu. Nada mais vi nem ouvi. Não sei fazer qualquer comparação para transmitir-lhes essa ou aquela ideia do sucedido”. Ocorrências como a que envolveu os passageiros do voo 168 consomem frações de segundo, certamente impossibilitando qualquer registro preciso ou minucioso. Falando sobre seu despertar, Olimar conta: “Quanto tempo estive largada ao esquecimento de mim ainda ignoro. Primeiramente a amnésia me dominou totalmente, em seguida, me vi colada a uma apatia sem nome. Vi pessoas em derredor de mim, sabia que um leito acolhedor me aguardava, entretanto, muito vagarosamente passei a interessar-me na busca de minhas próprias recordações. Percebia-me visitada por amigos, escutava - lhes os votos de recuperação tão rápida quanto possível, no entanto falar ainda era algo muito complicado nos mecanismos de relacionamento de que dispunha”. As centenas de mensagens recebidas mediunicamente por Chico Xavier, dos que, através da morte violenta resgatam perante as Leis Soberanas que nos controlam a evolução, confirmam que além dessa vida, tudo se dá como aqui, exigindo a hospitalização para tratamento, local onde somos, muitas vezes, visitados por amigos, conhecidos ou familiares já transferidos para essa Dimensão vibratória. Seguindo, Olimar escreveu: “Passaram-se dias sobre dias, até que pude interpelar minha querida avó que se identificou para minha tranquilidade. Iniciei meus contatos e, com espanto, vim a saber que já não mais pertencia ao nosso mundo familiar, segundo os vínculos físicos. Aturdia- me saber que me achava num corpo absolutamente igual ao meu e a muito custo aceitei a realidade de que o outro, aquele que eu deixara no avião sinistrado, era uma veste que se me fizera inútil. A transição era violenta demais para que me conformasse sem rebeldia, sentia sim uma certa mágoa contra a vida, porque efetivamente não poderia dizer contra a morte, já que a morte passara a ser inexistente em meu modo de pensar e sentir. Dei largas ao meu pranto de angústia, o que minha avó Marieta considerou normal. Ela não me proibiu qualquer manifestação de tristeza ou desalento, mas me afirmou que seria muito importante superar a crise com minha força de vontade, como se naquelas horas a tivesse. Os conselhos e avisos, porém, valiam por medicações de muito significado para que eu conseguisse refazer energias a fim de revê-los e comecei a extrair do íntimo de meu próprio Ser, a decisão de vencer a mim própria. Reagi com as possibilidades de resistência que não perdera de todo e transferi-me da amargura para a esperança. Era preciso ajustar-me às Leis de Deus que são as Leis da Vida, compreender que os meus anseios de moça deviam ceder lugar a um entendimento melhor, e gradativamente consegui entrar no conhecimento de outros amigos, todos eles familiares queridos que me estimulavam à renovação. Avô Francisco, a nossa querida Dirce, o avô Bruno e tantos corações devotados como que me emprestavam novas forças ao meu cérebro a fim de que eu conseguisse pensar por mim mesma, e pude visita-los pela primeira vez. Reunimos as nossas lágrimas sem que assinalassem a minha presença e reconheci que se me fazia necessário o reerguimento de modo a ser-lhes útil”. Nesse ponto, alguns dados importantes. O primeiro, a menção dos familiares citados desconhecidos para Chico e desencarnados em 1956,1963 e 1976, respectivamente. O segundo, a confirmação que as ligações mento-afetivas não cessam com a morte, sendo comum visitas, naturalmente respeitadas determinadas condições, entre os que morreram fisicamente e os que permanecem no Plano em que nos encontramos, muitas vezes, até durante o sono, fatos interpretados como sonhos. Segue Olimar: “- Tomei conhecimento de quanto haviam feito em meu auxílio e agradeço as preces e os atos de religião, os anseios de me tocarem inutilmente, as últimas lembranças e as flores que me ofertaram, desconhecendo de que maneira as colocariam ao meu dispor”. À época – 1982 – não se dispunha das técnicas de identificação existentes, obrigando a realização de um sepultamento coletivo, dado recuperado por Olimar numa das visitas aos pais, e ignorado até então pelo médium Xavier. A respeito das homenagens, Olimar considera: “Acontece, pais queridos, que eu não mais precisava de espaço terrestre para receber todas essas lembranças do coração, pois acolhi todos os gestos de amor que me dedicaram, por dentro de mim, qual se trouxesse comigo um imã desconhecido que os atraia. A dor da mamãe e o sofrimento do meu pai, com o pesar de nosso Geraldo e de todos os gestos de amor que me dedicaram, por dentro de mim, qual se trouxesse comigo um imã desconhecido que os atraia”. Essa referência diz respeito das flores que lhe foram ofertadas no cemitério de Fortaleza, onde não havia possibilidade de ser identificado o local dos restos mortais, gesto de carinho só do conhecimento dos parentes mais próximos. A carta da jovem, incluída no livro ESPERANÇA E ALEGRIA (ceu) continua, acrescentando detalhes que atestam que por trás das páginas escritas através do médium Chico Xavier, estava realmente a personalidade que a assinou.
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