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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Doação de Órgãos Para Transplantes: Para Refletir


“- Graças a Deus, melhorei da hemorragia incessante que me enlouquecia. Depois de algumas semanas de aflição, um médico apareceu com uma boa nova. Ele me disse que as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno tampão que, colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar o fluxo do sangue imediatamente. Eu, que não fizera bem aos outros, que me omiti sempre na hora de servir, compreendi que o Bem mesmo feito involuntariamente por uma pessoa morta é capaz de revigorar-nos as forças da existência”. O depoimento inserido na longa carta que Wladimir Cezar Ranieri escreveu aos pais meses após sua desencarnação, através do médium Chico Xavier em reunião pública no Grupo Espírita da Prece, em Uberaba (MG), nos oferece importante informação sobre outro significado dos transplantes. Wladimir, à época com 25 anos, dominado por obsessiva hipnose imposta por parte de criaturas desencarnadas que o seguiam, cujos convites injustos escutava e as quais poderia rechaçar fazendo uso do livre-arbítrio se não tivesse sido fraco, tentou fugir da vida recorrendo a um tiro de revolver no próprio peito, fazendo uso de uma arma que seu pai mantinha em gaveta do escritório de seu estabelecimento comercial, ao qual fora para substituir o irmão, convalescendo de uma cirurgia nos olhos de transplante de córnea. Enfrentando dificuldades para empregar-se, atendeu solicitação da mãe para auxiliar o pai naquele doze de maio de 1985 que mudaria traumaticamente a vida da família a que pertencia. Em sua carta psicografada incluída no livro AMOR E SAUDADE (ideal), isenta a mãe da sensação de culpa pelo pedido que lhe fizera, confessando o sofrimento experimentado ao ver o pai desesperado correndo na direção de seu corpo caído, tentando a respiração boca-a-boca que o fez sorver o sangue resultante da intensa hemorragia que se processava, gesto que lhe mostrou o quanto de amor seu genitor dispunha em seu coração em relação a ele, desejando, em vão levantar os braços para ser um menino de novo naquele colo paternal de homem bom que não vacilava em livrá-lo de qualquer sufocação, trazendo para a boca que o beijara tantas vezes em criança, o sangue do filho crescido que se fizera ingrato perante aqueles que mais o queriam na Terra”. No episódio relacionado ao benefício que resultou na cessação da sensação da perda continuada de sangue pelo orifício aberto em seu corpo físico e que persistiu no corpo espiritual (períspirito), necessário destacar que ele, motivado pelo sucesso do transplante de córnea em seu irmão Wagner, doou voluntariamente suas córneas ao Banco de Olhos de São Paulo. No acervo construído com as centenas de cartas mediúnicas recebidas por Chico Xavier, existe outra envolvendo o jovem Roberto Igor Porto Silva, que, por sinal, resultou no primeiro transplante cardíaco bem sucedido no Rio Grande do Sul. Roberto, desencarnou aos 25 anos, no dia primeiro de junho de 1984, em consequência das múltiplas fraturas resultantes de acidente com a moto que dirigia em alta velocidade a caminho da empresa onde trabalhava. Declarada sua morte cerebral, sua irmã autorizou a retirada de seu coração atendendo à solicitação dos médicos do Hospital que o assistiam. Recordando seus derradeiros momentos em nossa Dimensão, na mensagem recebida na reunião pública de cinco de abril de 1985, nove meses depois da sua morte física e incluída na obra VOZES DA OUTRA MARGEM (ide), conta : “- Mãe, deixei o meu corpo, como quem se afastava de uma roupa que se fizera imprestável, e, logo de saída, conquanto me sentisse privado da visão, senti uma dor muito grande no tórax. Os amigos de meu pai (seu pai desencarnara em 19/12/1976), me solicitaram esquecesse o vigor daquela agulhada que me transtornava todo o Ser; no entanto, eles se apressaram em me auxiliar com o magnetismo e a dor desapareceu. Soube mais tarde de que naquele momento eu tivera o coração do corpo físico arrancado para servir ao transplante que favoreceria um homem que se avizinhava da morte. Meu pai me informou que a medida fora autorizada por minha irmã e deu-me a conhecer a utilidade da providência, de vez que eu não mais recuperaria o corpo quebrado até a medula. Explicou-me que era justo o trabalho que se fez, entregando-se o meu coração, que ainda pulsava, ao irmão doente que, com isso, poderia continuar vivendo, e esclareceu-me com tanta lógica que acabei aderindo, reconhecendo que a Magali (sua irmã), vendo-me quase morto, do ponto de vista físico, permitira que o meu coração servisse para alguém que necessitava dele. Logo que me confessei agradecido e satisfeito com a medida, notei que o coração em meu corpo espiritual pulsava forte e robusto. Conto-lhe a minha experiência para que não se impressione com o que aconteceu, porquanto da queda de que fora vítima não mais levantaria. (...)Segundo   pode o seu generoso coração concluir, seu filho está feliz por ter encontrado o ensejo de cooperar em auxílio de alguém na hora da liberação que se achava prestes a se consumar”. Comparando os dois exemplos, encontramos três pontos que merecem ser comentados. Primeiro,  Wladimir chegara ao Hospital morto e Roberto Igor no estado de morte cerebral. Segundo, Wladimir doara espontaneamente as córneas e Roberto Igor, cedeu seu músculo cardíaco à revelia, por decisão de sua irmã. Vemos que situações são bem diferentes. Terceiro, a assistência dos técnicos que operavam no processo de desligamento se fez rapida, reduzindo os desconfortos por ele experimentados. A propósito, o Benfeitor Emmanuel, na obra PLANTÃO DE RESPOSTAS (ceu), confirma isso dizendo que “ mesmo que a separação entre o Espírito e o corpo não tenha se completado, a Espiritualidade dispõe de recursos para impedir impressões penosas e sofrimentos aos doadores”. Pronunciando-se em entrevista de televisão, em 1968, preservada no livro ENTREVISTAS (ide), Chico Xavier, disse que a “situação do doador de órgãos, no momento da morte, é o mesmo que sucede com uma criatura que cede seus recursos orgânicos a um estudo anatômico, sem qualquer repercussão no Espírito que se afasta – vamos dizer, de sua capsula material. Nosso amigo André Luiz considera que, excetuando-se determinados casos de mortes em acidentes e outros casos excepcionais, em que a criatura necessita daquela provação, ou seja, o sofrimento intenso no momento da morte, esta de um modo geral não traz dor alguma porque a demasiada concentração do dióxido de carbono no organismo determina anestesia do sistema nervoso central, provocando um fenômeno que eles chamam de acidose. Com a acidose vem a insensibilidade e a criatura não tem estes fenômenos de sofrimento que imaginamos. O doador, naturalmente, não tem, em absoluto, sofrimento algum".    Respondendo a questão sobre como a Espiritualidade encara o problema dos transplantes, diz que, “assim, como nós utilizamos o motor de um carro, com os demais implementos estragados, num outro carro que esteja com seus implementos perfeitos mas com o motor inutilizado. Não podemos comparar o homem com o automóvel, mas podemos adotar o símile para compreender que o transplante de órgãos é muito natural”. Sobre a doação, dizem o Amigos Espirituais que “assim como aproveitamos uma peça de roupa, que não tem utilidade para determinado grupo, e esse amigo, considerando a nossa penúria material, nos cede tal peça, é muito natural, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles que possam utilizá-los com segurança e proveito”. Sobre um possível choque entre o órgão que permaneceu no corpo espiritual e o que foi substituído no corpo físico, explicou, na época, que André Luiz considerava como um problema claramente compreensível, pois o coração do corpo espiritual está realmente presente no receptor, provocando os elementos da defensiva do corpo físico, o que os recursos imunológicos aperfeiçoados pelas pesquisas farmacêuticas, vão sustar ou coibir”. Na referida entrevista, Chico revelou ainda que “os Espíritos auxiliam e muito a doadores, receptores, bem como, equipes cirúrgicas, complementado que a Espiritualidade Superior considera, que a missão do médico se reveste de tamanha importância que, ainda mesmo o médico absolutamente materialista está amparado, pelas forças do Mundo Superior, a benefício da saude humana”.  Chico Xavier em opinião preservada no obra LIÇÕES DE SABEDORIA ( Fe),  considerava que “quando o doador é pessoa habituada ao desprendimento da posse de quaisquer objetos e desinteressada desse ou daquele domínio sobre pessoas e situações, a doação prévia de órgãos que lhe pertençam, por ocasião da morte física, não afeta o corpo espiritual desse doador. Entretanto, se estamos à frente de alguém que não atingiu o desprendimento que mencionamos, será importante pensar que esse alguém não se encontra com a precisa habilitação para doar recursos além da desencarnação”. 

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