“O restaurante barato regurgitava. Muita alegria, muita gente. (...) Transpusemos a entrada. As emanações do ambiente produziam em nós indefinível mal estar. Junto de fumantes e bebedores inveterados, criaturas desencarnadas de triste feição se demoravam expectantes. Algumas sorviam baforadas de fumo arremessadas ao ar, ainda aquecidas pelo calor dos pulmões que as expulsavam, nisso encontrando alegria e alimento. Outras aspiravam o hálito de alcoólatras impenitentes. Indicando-as, informou o Orientador: ‘- Muitos de nossos irmãos, que já se desvencilharam do seu vaso carnal, se apegam com tamanho desvario às sensações da experiência física, que se cosem àqueles nossos amigos terrestres temporariamente desequilibrados nos desagradáveis costumes por que se deixam influenciar. O que a vida começou, a morte continua”. A cena e o comentário inseridos no livro NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE (feb), por seu autor André Luiz, através da mediunidade de Chico Xavier, surpreende, porém não é novidade. Tecendo considerações sobre comunicação havida na Sociedade Espírita de Paris, Allan Kardec disse que um dia, apresentou-se a um médium vidente, um Espírito morto recentemente com um cachimbo na boca, fumando. À observação que lhe fizeram, de que aquilo não era conveniente, respondeu: “- Que quereis! Tenho um tal hábito de fumar que não me posso privar do cachimbo”. O que era mais singular, acrescenta Kardec , é que o cachimbo dava fumaça, bem entendido, para o vidente e não para os assistentes. Segundo a revista The Economist, “os cigarros estão entre os produtos de consumo mais lucrativos do mundo. O único produto legal que vicia a maioria dos consumidores e muitas vezes os matam”. Compradores leais, fabricantes satisfeitos, lucros impressionantes. E, como comprovado, um minuto a menos de vida a cada minuto gasto a fumar. A revista Newsweek, revela que “o fumo causa 50 vezes mais mortes que as causadas pelas drogas ilegais”. E a dependência não se extingue com a morte do corpo físico. Assim como vimos na abordagem sobre o álcool, o Espírito, através do corpo espiritual ou períspirito, mantém-se preso às necessidades de sensação, buscando lugares ou pessoas onde, protegidos pela invisibilidade, possam nutrir as ilusões que lhe são peculiares, já que as Leis Cósmicas que nos controlam a caminhada existencial determinam que recebamos sempre conforme nosso estágio evolutivo. No ano de 1979, o jornalista Fernando Worm realizou interessante entrevista com o Instrutor Espiritual Emmanuel, pelo médium Chico Xavier, que indagado se o fumante, tendo desencarnado, tão logo desperte do letargo da morte física, sente desde aí o prosseguimento da vontade de fumar, disse que “quando o Espírito não conseguiu desvencilhar-se de hábitos determinados, enquanto no corpo físico, é compreensível que esses mesmos hábitos não o deixem tão logo se veja desencarnado”. Explica que a ação negativa do cigarro se mantém no períspirito ( corpo espiritual), continuando o problema da dependência até que a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do corpo espiritual ceda lugar à normalidade do envoltório perispiritico, o que, na maioria das vezes, tem a duração do tempo correspondente ao tempo em que o hábito perdurou na existência física do fumante. Quando a vontade do interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume inconveniente, o tratamento dele, no Mundo Espiritual, ainda exige quotas diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até que consiga viver sem qualquer dependência do fumo”. Tentando nos auxiliar a entender algo sobre esses cigarros etéricos, acrescenta que “o fumo, decorrente de recursos condensados para a sustentação de hábitos humanos, em derredor do Plano Físico, é constituído por agentes químicos semelhantes àqueles que integram o fumo, no campo dos homens já que, em se tratando de costume nocivo da entidade espiritual, tanto encarnada quanto desencarnada, a erradicação do hábito de fumar nos círculos de atividade espiritual, no que tange às sensações de ordem espiritual, é tão difícil quanto na Terra”. Naturalmente essa situação alcança somente aqueles que, por méritos ou necessidades, já se encontram em áreas onde o tratamento lhe possa ser oferecido. Descrevendo a ação dos componentes do cigarro no períspirito de quem morre, diz que “as sensações do fumante inveterado, no mais Além, são naturalmente as da angustiosa sede de recursos tóxicos a que se habituou no Plano Físico, de tal modo obsedante que as melhores lições e surpresas da Vida Maior lhe passam quase despercebidas, até que se lhe normalizem as percepções”. Considera, que “no capítulo da saúde corpórea, o assunto deveria ser estudado na Terra mais atenciosamente, de vez que a resistência orgânica decresce consideravelmente com o hábito de fumar, favorecendo a instalação de moléstias que poderiam ser claramente evitáveis. A necrópsia do corpo cadaverizado de um fumante em confronto com o de uma pessoa sem esse hábito estabelece clara diferença”. Salienta que “não apenas quanto ao fumo, mas igualmente quanto a outros hábitos prejudiciais, somos compelidos na Espiritualidade a esquecê-los, se nos propomos a seguir para diante, no capítulo da própria sublimação. O tratamento na Vida Maior para que nos desvencilhemos de costumes nocivos perdura pelo tempo em que nossa vontade não se mostre tão ativa e decidida, quanto necessário, para a liberação precisa, de vez que nos planos extrafisicos, nas vizinhanças da Terra propriamente dita, as reincidências ocorrem com irmãos numerosos que ainda se acomodam com a indecisão e a insegurança”. Mais de um século antes, Allan Kardec obtivera dos Instrutores que o auxiliaram a compor O LIVRO DOS ESPÍRITOS que o homem pode vencer sempre as suas más tendências pelos próprios esforços, e, às vezes, com pouco esforço; o que lhe falta é vontade. Poucos são os que se esforçam (questão 909),e, na resposta à pergunta 911, que não existem paixões de tal maneira vivas e irresistíveis que a vontade seja impotente para as superar, havendo “muitas pessoas que dizem: ‘Eu quero.’ mas a vontade está apenas nos seus lábios. Elas querem, mas, estão bem contentes que assim não seja. Quando se crê não poder vencer suas paixões, é que o Espírito nele se compraz em consequência de sua própria inferioridade. Aquele que procura reprimí-las compreende a sua natureza espiritual; vencê-las é para ele um triunfo de Espírito sobre a matéria”. Dando-nos uma idéia da amplitude do problema, Emmanuel diz que “muitas vezes os filhos ou netos de fumantes e dispsônamos inveterados, são aqueles mesmos Espíritos afins que já fumavam ou usavam agentes alcóolicos em companhia deles mesmos, antes do retorno à reencarnação. Compreensível, assim, que muitas crianças (Espíritos extremamente ligados aos hábitos e idiossincrasias dos pais e dos avós), apresentem, desde muito cedo, tendências compulsivas para o fumo ou para o álcool, reclamando trabalho persistente e amoroso de reeducação”. Opinando sobre a alegação de pessoas que afirmam não poder deixar de fumar porque o cigarro é uma companhia contra a solidão, diz que, “embora não desejando imprimir censura ou condenação a ninguém, considera que o melhor dissolvente da solidão , é o trabalho em favor do próximo, através do qual se forma, de imediato, uma família espiritual em torno do servidor”. A respeito de pesquisas médicas que revelam que a dependência física dos fumantes, sua ‘fome’ de nicotina e derivados do fumo, costuma ser mais compulsiva que a dependência orgânica dos viciados em narcóticos, afirma acreditar que “ambos os tipos de dependência se equiparam na feição compulsiva com que se apresentam, cabendo-nos uma observação: é que o fumo prejudica, de modo especial, apenas ao seu consumidor, quando os narcóticos de variada natureza são suscetíveis de induzir seus usuários a perigosas alucinações que, por vezes, lhes situam a mente em graves delitos, comprometendo a vida comunitária”. Por ocasião dessa entrevista, reproduzida na obra JANELA PARA A VIDA(fergs), Worm ouviu também Chico Xavier sobre outros pontos igualmente importantes. O primeiro, se considerava o hábito de fumar um suicídio em câmara lenta, obtendo dele a seguinte resposta: -“ Creio que o hábito de fumar não pode ser definido por suicídio conscientemente considerado. Será um prejuízo que o fumante causa a si mesmo, sem a intenção de se destruir, mas prejuízo que se deve estudar com discernimento, sem condenação, para que a pessoa se conscientize quanto às consequências do fumo, no campo da vida, de maneira a fazer suas próprias opções”. Indagado se teria alcançado condições de desempenho do seu mandato mediúnico, se fosse dependente da nicotina, afirmou crer que “não, com referência ao tempo de trabalho, de vez que a ingestão de nicotina agravaria as doenças de que sou portador”. Se teria um conselho aos fumantes enfraquecidos por derrotas sucessivas na luta para vencer a dependência física e mental criada pela nicotina,disse: “ A prece e o trabalho, em meu entendimento, sempre os melhores recursos para defender-nos contra qualquer desequilíbrio”.
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