...“E começaram a falar noutras línguas” e “... ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua”. O grego Luchianos, que depois de sua conversão passou a chamar-se Lucas - sua vida foi maravilhosamente retratada pela grande escritora inglesa Taylor Caldwell ( segundo Chico, sua mãe naquela existência o que explica a beleza de seu trabalho), na obra MÉDICO DE HOMENS E DE ALMAS -, incluiu no documentário ATO DOS APÓSTOLOS, logo no capítulo dois, versículos quatro e seis, a descrição do surpreendente fenômeno sugerido pelas palavras usadas acima para explicar as cenas testemunhadas pelos que lhe relataram o fato. Séculos depois, Allan Kardec, desenvolvendo uma classificação inicial da variedade dos médiuns escreventes, no excelente compêndio intitulado O LIVRO DOS MÉDIUNS, chamou de médium poliglota, “o que tem a faculdade de falar ou escrever em línguas que não conhece”, acrescentando, contudo, serem “muito raros”. Décadas depois, Charles Richet, dentro da escola Metapsíquica, por ele fundada, voltaria a tratar do assunto, adotando para essa faculdade mediúnica o termo xenoglossia, a qual mereceria do pesquisador italiano Ernesto Bozzano, um livro com esse título, tratando especificamente do assunto. Uma dentre as hipóteses alinhadas na referida compilação é que o fenômeno só seria possível pela existência, no inconsciente da individualidade de registros arquivados em encarnações em que se serviu desse idioma para se expressar e comunicar na região, raça ou pátria em que renascera. Chico Xavier, entre as múltiplas formas em que sua mediunidade foi utilizada para a recepção de mensagem, está a em outros idiomas. Vários, em sua longa jornada a serviço dos Espíritos. Sabe-se que Chico não teve formação além do antigo primário, tendo repetido duas vezes a quarta série, avaliado por seu examinador na época, Doutor Christiano Ottoni, como “inteligência muito lúcida, superior à normal, excelente memória, grande poder de assimilação e presença de espírito, embora a instrução em nível baixo, em relação àquelas faculdades”. O primeiro a fazer referências a esse tipo de mensagem foi o repórter Clementino de Alencar, enviado especial do jornal O Globo, para investigar Chico Xavier, a origem dos escritos pós-morte do escritor Humberto de Campos e dos vários poetas do PARNASO DE ALEM TÚMULO. Surpreso com o que encontrou, um jovem humilde, pobre, cultura incipiente, permaneceu em Pedro Leopoldo, MG, por dois meses testando o objeto de sua pesquisa, obtendo da Espiritualidade inúmeras demonstrações de sua ação junto ao médium. Um dos fatos que o surpreendeu foram relatos que davam conta da recepção por ele de mensagens em inglês e italiano, cujo aprendizado, à época, somente acessível nos grandes centros. E Chico, pelos rudes labores e carga de trabalho remunerado na venda do “seu” Zé Felizardo, não lhe permitiriam tais “luxos”. Numa de suas matérias, de doze de maio de 1935 – Chico contava 25 anos de idade -, Alencar faz referências a algumas dirigidas em inglês ao doutor Romulo Joviano, que se tornaria seu chefe na Fazenda Modelo. Formara-se ele em Zootecnia pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, sendo seu autor Alexander Seggie, que lhe fora colega de estudos e amigo íntimo durante os anos de formação, tendo desencarnado na França, durante a Primeira Guerra Mundial. Nas referidas páginas, Alexander, cuja existência o jovem médium ignorava, dava mostras de sua elevada nobreza de alma e cultura filosófica, já que se tornara professor de Filosofia Platônica e Kantiana. Ignorava ainda que o amigo, num trocadilho, chamava o brasileiro “Jove” (Jupiter, em inglês), alusão ao sobrenome Joviano. Ainda no texto enviado ao diário carioca, o repórter reproduz mensagem recebida na reunião de 23 de novembro de 1933, assinada por Emmanuel, que, embora destinada a todos, era, de certo modo dirigida ao Doutor Rômulo, presente e com interessante peculiaridade: foi escrita com as letras enfileiradas ao inverso. Ao reescrevê-la no sentido correto, o destinatário, profundo conhecedor do inglês, identificou um erro na colocação de um artigo e um pronome. Resolve, em inglês, interpelar Emmanuel, recebendo dele extensa resposta no mesmo idioma, entre outras coisas desculpando-se pelos erros cometidos, dizendo-se, apenas um aluno inábil e não um mestre na utilização da língua. Alencar inclui ainda uma mensagem em italiano, recebida no mesmo mês de fevereiro de 1933, grafada da mesma maneira curiosa que a precedente. Objetivando fazer um derradeiro teste para saber se por trás daquele jovem ingênuo havia realmente algo mais, quando informado por Emmanuel sobre o fim as experiências dos ultimos dois meses, o jornalista formulou quatro perguntas em inglês, a última das quais mentalmente, recebendo a resposta desta em 18 linhas também em inglês, obtendo mais uma evidência sensacional como publicado n'O Globo de 4 de junho de 1935. Mais ou menos na mesma época, o médium psicografaria mensagem em inglês ao Consul da Inglaterra, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Senhor Harold Walter. Anos depois, presente à solenidade levada a efeito no Teatro Municipal de São Paulo, Chico psicografaria perante numeroso público, entre outras, uma mensagem/ saudação de Emmanuel aos presentes, em inglês e escrita de trás para frente, a chamada especular, somente possível de ser lida diante de um espelho. Testemunha de muitos desses momentos, o doutor Rômulo Joviano, contou ao amigo Clóvis Tavares, conforme relatado em TRINTA ANOS COM CHICO XAVIER (ide), que, por força do trabalho, “em visita, certa vez, a uma fazenda do Doutor Louis Ensch, engenheiro luxemburguês, fundador da Usina de Monlevade da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em Monlevade, MG, Chico recebeu mensagens, endereçadas ao mesmo, em idioma luxemburguês. Maravilhado, o destinatário declarou que as páginas foram escritas no melhor estilo da língua nacional de sua pátria, o Grão Ducado de Luxemburgo, e tão belas que somente luxemburgueses cultos poderiam com tal apuro articulá-las”. Noutra ocasião, em visita a uma parenta sua residente em Barbacena, MG, a escritora Maria Lacerda de Moura, assistindo uma reunião de estudos orientalistas, após esta ter escrito no quadro-negro algumas palavras em português, possivelmente um “mantra”, para meditação dos presentes, “Chico recebe, através da psicofonia sonambúlica, uma mensagem em idioma hindu, havendo a entidade comunicante, conduzido o médium até o mesmo quadro-negro, traçando diversas expressões ininteligíveis para os presentes, posteriormente reconhecidas como mantras grafados em caracteres sânscritos”. O próprio professor Clovis Tavares, além de estar presente no memorável encontro de Chico Xavier/ Pietro Ubaldi, em 17 de agosto de 1951, quando o Espírito Francisco de Assis escreveu mensagem ao escritor italiano, recebeu orientação de entidade amiga em espanhol e, outra vez, delicado poemeto na mesma língua. Inúmeras mensagens particulares foram recebidas ao longo dos anos, em vários idiomas, que o médium também ignorava completamente: alemão, italiano, árabe e grego. Perderam-se, no entanto, pelo seu caráter estritamente íntimo. Por fim, um dos últimos exemplos dessa mediunidade em Chico Xavier, foi registrado nas mensagens psicografadas pelo jovem Roberto Muskat, desencarnado aos 19 anos, em que faz inúmeras citações em hebraico, somente traduzidas com o concurso de prestimosos rabinos, em face do desconhecimento das mesmas, por parte de seus pais.
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