Ao longo das décadas de 70, 80 e 90, datas comemorativas como Dia das Mães e Natal, foram marcadas pela publicação de inspiradoras mensagens psicografadas por Chico Xavier, realçadas por belíssimo material gráfico. A iniciativa pertenceu a várias editoras nascidas em torno de livros compostos por textos de diversos Espíritos psicografados pelo médium mineiro. Uma das entidades que mais se repetiu, pela sensibilidade extravasada em seus trabalhos, foi a poetiza conhecida como Maria Dolores. A maior parte dos que se encantavam com suas produções, no entanto, não sabia que seu nome verdadeiro, na recente encarnação, foi Maria de Carvalho Leite. Renasceu em Bonfim da Bahia, estado da Bahia, em dez de setembro de 1900, parte de uma família constituída de cinco filhos, três homens e duas mulheres, entre as quais ela. Inteligência rara, diplomou-se professora aos 16 anos, tendo, de acordo com os padrões da época, formação em piano, pintura, costura e culinária. Personalidade forte, católica por tradição, casou-se com o médico Odilon Machado, de quem se desquitaria, posteriormente, sem experimentar a maternidade biológica, vivencia em que não se realizaria nesta existência. Em 1939, fixa-se na cidade de Itabuna, onde conhece o imigrante italiano Carlos Camine Larocca, proprietário do Café Baiano e de uma tipografia denominada A Época, tendo se tornado preso político após a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, para lutar contra a Itália. No período de permanência nessa cidade, eclode sua mediunidade, tornando-se meio para que seu guia espiritual, Doutor Antonio Carlos Lopes, aconselhasse doentes que o buscavam, orientando-lhes o remédio para seus males. Impossibilitada de ser mãe, adota a menina Nilza Yara, em 1936. Prossegue com ações pessoais em favor dos desvalidos, distribuindo em datas festivas como o Dia das Mães e Natal, alimentos e gêneros alimentícios. Inicia, por essa época, correspondência com Chico Xavier, a quem visitaria, algumas vezes, nos anos seguintes, em Pedro Leopoldo, “brincando” com o médium que, se lhe fosse possível, tomaria sua mão para escrever, quando não mais estivesse no Plano Físico. Lembrando a passagem, Chico revelou em entrevista, preservada por Elias Barbosa, no livro NO MUNDO DE CHICO XAVIER (ide), que “riam ambos do fato, quando o assunto vinha de novo, à baila, nas suas conversações”, acrescentando que “por mais reafirmasse a promessa, nunca admitiu que isso viesse a acontecer, porquanto, era ela, entre ambos, uma senhora relativamente moça, desfrutando boa saúde”. Em 1947, muda-se para Salvador, instalando-se na Cidade Baixa, passando, a lecionar no Ginásio Carneiro Ribeiro. Entre outras atividades, escreve, por quase treze anos, nos jornais Diário de Notícias e o Imparcial, do qual, por sinal, tornou-se redatora chefe da Pagina Feminina, ocultando-se no pseudônimo Maria Dolores. Suas opiniões e ações em favor dos direitos humanos e do sofrimento dos infelizes lhe valeram o adjetivo de “comunista”, resultando também em várias intimações para se explicar perante autoridades públicas. Quando do avassalador crescimento do movimento da Legião da Boa Vontade, iniciado por Alziro Zarur (a partir de orientação espiritual de Emmanuel, através de Chico Xavier), lança-se de corpo e alma à sua representação na Bahia. Amiga do jovem Divaldo Pereira Franco, por ocasião da fundação da Mansão do Caminho, ofereceu as cinco primeiras mesas e cadeiras para o refeitório. Recordando-se dela, Divaldo a descreve como uma personalidade jovial, alegre e otimista, citando que, quando da visita de Pietro Ubaldi à Bahia, pela primeira vez, em 1951, o hospedou em sua casa, onde por sinal, ele o conheceu, já que fazia parte da Comissão Organizada para recepciona-lo. Maria Dolores fundou no bairro em que morava, o grupo Mensageiras do Bem, liderando os mesmos trabalhos assistenciais em favor dos desvalidos, desenvolvidos, pessoalmente, por onde passara. Adota, ao longo dos anos, outras meninas, assumindo o papel de mãe e orientadora, a última das quais, um mês antes de sua desencarnação. Dentre os inúmeros poemas que escreveu e, manteve guardados, temendo críticas por considera-los “passadistas” demais, selecionou alguns e organizou o livro CIRANDA DA VIDA, único publicado enquanto encarnada, para que a renda auferida com sua venda revertesse em favor de suas ações sociais. Incansável, pouco antes de completar 59 anos, foi acometida por uma pneumonia que lhe impôs a morte física, em 27 de agosto de 1959, apesar dos esforços de amigos que a internaram no Hospital Português, já que o marido encontrava-se na Itália. Quase cinco anos depois, no dia 29 de março de 1964, seu Espírito se fez visível a Chico Xavier, provocando-lhe intensa emoção, a ponto de não conseguir conter as lágrimas, por vê-la tão claramente diante de si, bela e remoçada. A partir daí, o desejo expresso anos antes se materializou, pois, a mediunidade de Chico serviu para que comunicasse ao mundo suas impressões em forma de poemas de rara beleza estética, lírica e espiritual. Além das páginas incluídas em compilações feitas para inúmeros livros pelo orientador Emmanuel, outros foram editados somente com suas produções como ALMA E VIDA, CAMINHOS DO AMOR, A VIDA CONTA(ceu); CORAÇÃO E VIDA E MARIA DOLORES (Ideal) e, o primeiro ANTOLOGIA DA ESPIRITUALIDADE(feb), onde encontra-se a primeira produção pelo médium Chico Xavier, psicografada no dia do seu reencontro, onde, além de uma autocrítica, Maria Dolores oferece excelente material para reflexões. O título, ANSEIO DE AMOR, onde ela conta: “- Quando me vi, depois da morte, / Em sublime transporte / E reclamei contra a fogueira / Que me havia calcinado a vida inteira / Pela sede de amor... / Quando aleguei que fora, em toda a estrada, / Folha ao vento, Andorinha esmagada / Sob o trator do sofrimento... / Quando exaltei a minha dor, / Mágoa de quem amara sempre em vão, / Farta de incompreensão... / Alguém chegou junto de mim / E disse assim: / - Maria Dolores, / Você, que vem do mundo / E se diz / Tão cansada e infeliz, / Que notícias me dá do vale fundo / De provação, / Onde a criatura de tanto padecer / Não consegue saber / Se sofre ou não? / Você, que diz trazer o seio morto, / Que é que me pode falar / Dos meninos sem pão e sem conforto, / Das mulheres sem lar, / Dos enfermos sozinho / Que a febre e a fome esmagam nos caminhos, / Sem sequer um lençol ou a bênção de uma prece, / Dando graças a Deus quando a morte aparece?!... / Você, Maria Dolores, / Que afirma haver amado tanto / E que deve ter visto / O sacrifício e o pranto / De quem clama pelo Cristo, / Suplicando o carinho que não tem, / Que é que me pode contar daquelas outras dores, / Daquelas outras aflições / Dos que choram trancados em manicômios e prisões, / Buscando amor, pedindo amor, / Exaustos de tristeza e de amargura, / Como feras na grade, / Morrendo de secura, / De solidão, de angústia e de saudade?!... / ................................. / Bem querer!.... Bem querer!.... / Ai de mim, que nada pude responder! / Que tortura, meu Deus, a verdade no Além!... / Calei-me, envergonhada... / Eu apenas quisera ser amada, / Não amara a ninguém...”
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