Três situações: PRIMEIRA - Quarto confortável, onde dormia um homem idoso fazendo ruído singular. Via-se-lhe, perfeitamente, o corpo espiritual unido à forma física, embora parcialmente desligados entre si. Ao seu lado permanecia uma entidade, trajando vestes absolutamente negras. Notei que o companheiro adormecido permanecia sob impressões de doloroso pavor. Gritos agudos escapavam-lhe da garganta. Sufocava-se, angustiadamente, enquanto a entidade escura fazia gestos que eu não conseguia compreender. Sertório acercou-se de mim e observou: - Vieira está sofrendo um pesadelo cruel. Creio que ele terá atraído até aqui o visitante que o espanta”. SEGUNDA – “Daí a dois minutos, penetrávamos outro apartamento privado; todavia o quadro agora era muito triste e constrangedor. Marcondes estava, de fato, ali mesmo, parcialmente desligado do corpo físico, que descansava com bonita aparência, sob as colchas rendadas. Não se encontrava ele sob impressões de pavor, como acontecia ao primeiro visitado; entretanto revelava a posição de relaxamento, característica dos viciados do ópio. Ao seu lado, três entidades femininas de galhofeira expressão permaneciam em atitude menos edificante. (...) – Ele mesmo nos chamou para a noite de hoje – exclamou a segunda atrevidamente – e não se afastará de modo algum. (...) – Também temos um curso de prazer. Marcondes não se afastará”. TERCEIRA - Madrugada. “Concentrei minha atenção numa dupla feminina que conversava, rente à grade. Certa mulher já desencarnada dizia para a companheira, ainda presa à experiência física, parcialmente liberta nas asas do sono. – Notamos que você ultimamente, anda mais fraca, mais serviçal... Estará desencantada, quanto aos compromissos assumidos? A interpelada explicou um tanto confundida: - Acontece que João (o marido) se filiou a um circulo de preces, o que, de alguma sorte, nos vem alterando a vida. A outra deu um salto à retaguarda, ao modo de um animal surpreendido e gritou: - Orações? Você está cega quanto ao perigo que isso significa? Quem reza cai na mansidão. É necessário espezinhá-lo, torturá-lo, ferí-lo, a fim de que a revolta o mantenha em nosso círculo. Se ganhar piedade, estragar-nos-á o plano, deixando de ser nosso instrumento na fábrica”. Desde que Freud deu um caráter científico ao estudo sobre os sonhos com a publicação, em 1900, do livro INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS, avançou-se muito. Jung, seu discípulo rebelde ampliou a visão do Mestre propondo a divisão deles em dois tipos: comuns e arquetípicos, estes revestidos de grande poder revelador para quem sonha. A visão mecanicista da Medicina que entende o corpo apenas como uma máquina também evoluiu bastante, dividindo o sono em cinco estágios, descobrindo no quinto, o Movimento Rápido dos Olhos (REM), que as ondas cerebrais aumentam sua intensidade a nível semelhante ao do estado de vigília, provocando segundo os pesquisadores, o fenômeno chamado sonho. Apurou-se que até os bebes no útero apresentam o tal Movimento Rápido dos Olhos. Descobriu-se também que as células nervosas chamadas neurônios, secretam substâncias químicas chamadas neurotransmissores, identificando-se até agora 70, responsáveis por atividades como a memória, atenção, aprendizagem (acetilcolina); excitação física/mental e bom humor (noradrenalina); modulação da dor, redução de estresse (endorfina); sensação de prazer ( dopamina),entre outras. Meio século antes do pai da Psicanálise começar a se ocupar do tema, Allan Kardec já o fizera nas abordagens com os Espíritos que o auxiliaram a compor a base do Espiritismo, na obra O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Dedicou doze perguntas ( 400 a 412) sobre o tema, obtendo respostas muito esclarecedoras para aqueles que não veem no sonho uma atividade meramente fisiológica. Entre elas, que “o Espírito jamais está inativo quando seu corpo repousa; que o sono o liberta parcialmente; que pelo efeito do sono os encarnados estão sempre em relação com o Mundo Espiritual ; que o sono influi mais em nossas vidas que pensamos; que os sonhos são indicadores dessa liberdade; possibilitando lembranças do passado e, às vezes, a previsão do futuro; propiciando contato com outros Espíritos; fixando a lembrança de lugares e coisas relacionadas a acontecimentos remotos ou futuros; permitindo aos maus Espíritos atormentar as almas fracas e pusilamines; não sendo necessário o sono completo e profundo para a emancipação do Espírito, bastando o entorpecimento dos sentidos num simples cochilo; que a atividade do Espírito, durante o repouso ou o sono do corpo, pode fatigar a este, estando o Espírito ligado a ele, como o balão cativo ao poste, abalado pelas sacudidas do balão ante o vento forte”. Racionalizando as informações, Gabriel Dellane dividiu os sonhos em quatro tipos: fisiológico (resultando das necessidades biológicas); psicológico (determinado pelas emoções e preocupações); anímico ( destravando da memória profunda lembranças do passado remoto ou recente) e espiritual (como nos exemplo com que iniciamos esses comentários) . Através de Chico Xavier, Emmanuel explicaria na questão 49 d’O CONSOLADOR (1940,feb), que na maioria das vezes, o sonho constitui atividade reflexa das situações psicológicas do homem no mecanismo das lutas de cada dia, quando as forças orgânicas entregam-se ao repouso necessário. André Luiz (espírito), na obra MISSIONÁRIOS DA LUZ (1945,feb), reproduziu considerações do Instrutor Alexandre explicando que “ o cérebro de carne, pelas injunções da luta a que o Espírito foi chamado a viver, é aparelho de potencial reduzido, dependendo muito da iluminação de seu detentor, no que se refere à fixação de determinadas bênçãos divinas. O arquivo de semelhantes reminiscências, no livro temporário das células cerebrais, é muito diferente nos discípulos entre si, variando de alma para alma”. Alguns estudiosos de nossa Dimensão afirmam que o homem utiliza ínfima porcentagem do próprio cérebro. A maioria nem cinco porcento, um Einstein, talvez dez. Nisso, talvez, a explicação do porque não nos lembrarmos da íntegra dessas vivências, enquanto alguns afirmam não sonhar nunca. Engano, pois a ciência garante que todos os mamíferos sonham, até a girafa que dorme apenas duas horas por noite. Posteriormente, no livro LIBERTAÇÃO, André ouve Gubio considerando que “ a determinadas horas da noite, três quartas partes da população de cada um dos hemisférios da Crosta Terrestre se acham nas zonas de contato conosco (Plano Espiritual) e a maior percentagem desses semi - libertos do corpo, pela influência natural do sono, permanecem detidos nos círculos de baixa vibração (...). Por aqui, muitas vezes se forjam dolorosos dramas que se desenrolam nos campos da carne. Grandes crimes têm nestes sítios as respectivas nascentes”. Há, portanto, muitos elementos para aprofundarmos conhecimentos no campo dos sonhos, considerando o repertório oferecido pelo Espiritismo. A propósito, se você quer saber os desdobramentos das cenas mostradas no início, os encontrará no capítulo 8 de MISSIONÁRIOS DA LUZ e 6 de LIBERTAÇÃO, citados ao longo deste texto
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