A madrugada avançava para os clarões da manhã de 25 de agosto de 1985, na cidade de Cuiaba, Mato Grosso, quando os amigos Fabio Mario Henry e Albano, resolveram deixar a balada em que se encontravam em casa noturna da capital mato-grossense para retornar a suas moradias. Ao saírem do recinto, contudo, foram seguidos por outro dos participantes da noitada, que, por algum mal entendido, vinha cobrar satisfações, detendo os rapazes, bastante alterado. Ante a reação de espanto de ambos e da discussão que se iniciou, o provocador sacou um revolver, desferindo vários disparos, um dos quais atingiu Fábio, enquanto Albano pôs-se a correr na tentativa de se proteger. A confusão atraiu várias pessoas que detiveram o agressor. O projetil recebido por Fábio, contudo, determinou sua morte física, apesar das frustradas tentativas de socorro mobilizadas. Perplexidade, revolta, dor, inconformação não envolveram apenas os pais e os três irmãos, mas todos os amigos de Fábio que cursava o quarto ano de Agronomia na Universidade Federal do Mato Grosso, cuja diretoria, pelo excelente desempenho nos estudos, conferiu-lhe simbolicamente o diploma do curso que estava a poucos meses de concluir. Família de convicções espíritas, doze dias após o ocorrido, seus pais estavam em Uberaba (MG), a procura de algum conforto, ouvindo do médium que as duas avós, materna e paterna, havia recebido Fábio na sua passagem para o Plano Espiritual, tendo-o sob seus cuidados no natural processo de recuperação e readaptação à vida de onde saíra vinte e três anos antes, notícia que lhes tranquilizou um pouco, amenizando a terrível sensação de perda. Outras visitas houve, resultando em pequenos recados, até que, dois dias antes de completar-se o primeiro ano de sua partida, na reunião da noite/madrugada de 23 de agosto de 1986, perante numeroso publico, Chico psicografou, entre outras, a carta de Fábio. Esclarecedora e confortadora, a mensagem devolvia-lhes a certeza de que o amado filho não morrera, apenas mudara de Dimensão existencial. Logo no começo, Fabio diz: “- Mãezinha Hortência, todas as nossas provações já passaram. Aquele projetil acidental que me arredou da vida física se transformou em bisturi de benemerência, que me devolveu a harmonia e saúde ao coração. Compareço aqui com o avô Pedro, o nosso Pietro”. Algumas pessoas podem estranhar a aparente naturalidade e rapidez com que Fábio superou sua compulsória transferência de Plano existencial. Chico explicava que tal reação pode ser entendida pelo fato dele não ser leigo nestas questões de sobrevivência, já que o tema espiritualidade sob a ótica do Espiritismo era objeto de conversas entre os familiares a que se vinculava. A referência ao familiar desencarnado cujo nome Chico desconhecia é outro dado interessante e recorrente em várias cartas por ele psicografadas, autenticando de certa forma a veracidade da manifestação mediúnica. Mais à frente, Fábio demonstra estar ciente da reação de seus irmãos e pais quanto à atitude do inseparável amigo Albano que fugiu do local em meio ao tiroteio, sem esboçar defesa ou prestar socorro a ele, como observamos neste trecho: “-Não permita que meus irmãos lhe julguem o comportamento com desacerto, porque o nosso prezado Albano não podia e nem devia permanecer no mesmo lugar em que caí para não mais levantar. Não hospede ressentimento em seu coração. Mãe, você foi sempre o perdão e o entendimento para nós, os seus filhos. Não se admita ressentida com um amigo que para mim foi sempre um irmão”. Chico Xavier costumava dizer que a Justiça Divina é infalível, buscando o infrator nos mais inesperados locais e momentos para que as sentenças lavradas por nós contra nós mesmos, sejam cumpridas. O caso de Fábio, por isso mesmo, não poderia ser exceção. Os momentos de alegria fruídos por ele e pelo amigo, na verdade, prenunciavam o término da expiação criada em existência anterior. Exatamente por isso a revolta, ante os irremediáveis e surpreendentes acontecimentos com os quais nos defrontamos nos caminhos da vida, não se justificam. Nada é por acaso. Mas, o mais surpreendente da carta de Fábio, viria a seguir. Após citar a vovó Rosina que também estava ao seu lado enquanto escrevia, revela: “- Posso dizer-lhe, com permissão dos nossos Mentores da minha vida nova, que o bisavô Evaristo que atirou sobre o próprio peito, suicidando-se na Itália, sou eu mesmo, que tive agora o coração aniquilado por um tiro acidental”. A inesperada informação resgatou entre os familiares e descendentes radicados no Brasil, o triste e lamentável episódio que marcou em 1920, a história pregressa da família quando as ancestrais ainda viviam na cidade de Lucca, no início do século 20. Lá, o bisavô paterno Evaristo Henry, nascido em 9 de fevereiro de 1871, engenheiro ferroviário, funcionário do governo italiano, suicidou em 8 de fevereiro de 1920, com um tiro no coração. Mais à frente, Fábio comenta o lado positivo do aparente infortúnio que o atingiu: “- Já conquistamos algum progresso segundo as Leis de Deus. Na posição do chamado Nono Evaristo, despedacei o meu peito com um projetil, no suicídio, e resgatei minha dívida fora das sombras da autodestruição, porque o tiro não partiu de mim contra mim mesmo e sim de um desconhecido, que fora das condições normais, já se encontrava embriagado naquela madrugada de 25 de agosto, desfechou um tiro contra mim, sem a intenção de acertar-me”. Como afirmava Chico, ocorrências como esta nos ajudam a entender a razão de tantas mortes aparentemente precoces: são Espíritos que deixaram de concluir o tempo previsto para programas que os fizeram reencarnar em existências passadas e voltam para viver exatamente o numero de anos que faltou para concluí-los”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário