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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A Função Educativa da Dor


Tentando mostrar aos pais como cresceu, a criança pega na faca para cortar   um pedaço de pão e, acidentalmente, fere o próprio dedo. Outra, desafiando a ordem de sua mãe, põe a mão no ferro de passar roupa aquecido e se queima. Compondo sua memória periférica da personalidade atual, tanto uma quanto a outra, descobriram o significado da dor física. Premida pelas necessidades financeiras, terminada a licença maternidade, a mãe deve retornar ao trabalho, precisando deixar sua criança no berçário, testemunhando a reação desesperada da mesma ante a pressentida primeira provisória separação. Os pais, como num ritual, repetem brigas diárias ignorando a presença da criança no ambiente doméstico, por vezes, envolvendo ou usando-a como instrumento de mútua agressão. Ante esses fatos, a criança começa a experienciar outro tipo de dor: a emocional. Confinada no apartamento da família, a criança desconhece o significado da palavra disciplina, seja alimentar, comportamental ou social, transformando-se no adolescente obeso, deslocado, sendo discriminado na escola, no condomínio em que vive, vivenciando outro tipo de dor: a psicológica. Educadores, especialistas na saúde mental, naturalmente possuem teses e conhecimentos capazes de tipificar ou colorir esses quadros com suas próprias cores e tintas, provavelmente concordando em um único ponto: são situações muito comuns no desenvolvimento do Ser humano que desde o nascimento caminha para a fase adulta de sua existência em nossa Dimensão. Na formação da personalidade que o identificará na sociedade, além da impressão digital ou o mapa genético, como vemos, a dor constitui-se em elemento importante na definição do indivíduo que se inserirá no meio em que atuará. Personalidade - como qualquer um de nós pode dizer -, derivada mais do senso de observação individual que de orientações verbais ou exemplos oferecidos. E o pior é que centrada exclusivamente nessa realidade em que nos reconhecemos, ignorando - ou preferindo ignorar- outras pretéritas ou futuras. Aqui, o fim chega para todos, mais dia, menos dia. A prova pode ser feita contemplando nossa imagem refletida no espelho hoje e a fotografia de dez ou vinte anos atrás. Não temos como nos enganar. Nem em relação ao antes e o depois. Absorvidos na visão de curto prazo, desdenhamos a de médio ou longo prazo.  Se prestarmos atenção, por exemplo, em famílias de vários irmãos, oriundos dos mesmos pais, evidenciam-se sugestivas diferenças. Tendências, gostos e preferências absolutamente diferentes, apesar da origem e influência comuns, sugerindo características desenvolvidas pela individualidade antes do berço. Para os desprovidos de preconceitos, efetivamente interessados em refletir sobre os “porquês?”, o Espiritismo e vários Instrutores Espirituais têm muito a oferecer. No tópico da dor, por exemplo, apresentam-nos uma visão bastante ampla. Precedendo em alguns anos a extraordinária obra vertida para nossa Dimensão pelo Espírito conhecido como André Luiz, o Orientador Espiritual de Chico Xavier, por seu intermédio construiu o livro O CONSOLADOR (feb). Organizando de forma muito didática as 411 respostas que dá à equivalente número de perguntas, variando de temas focalizando a visão do Espiritismo sobre Ciência, Filosofia e Religião, no tópico EVOLUÇÃO, tratando da dor, opina: “- Podemos classificar o sofrimento humano do Espírito como a dor-realidade e o tormento físico, de qualquer natureza, como a dor-ilusão. Em verdade, toda dor física colima o despertar da alma para seus grandiosos deveres, seja como expressão expiatória, como consequência dos abusos humanos, ou como advertência da natureza material ao dono do organismo. Mas, toda dor física é um fenômeno, enquanto que a dor moral é essência. Daí a razão porque a primeira vem e passa, ainda que se faça acompanhar das transições de morte dos órgãos materiais, e só a DOR ESPIRITUAL é bastante grande e profunda para promover o luminoso trabalho do aperfeiçoamento e da redenção”. Anos depois, o benfeitor Clarêncio, explicaria ao recém-chegado André Luiz em NOSSO LAR (feb): “-Dor, para nós, significa possibilidade de enriquecer a alma; a luta constitui caminho para a divina realização”. Na convivência com a mãe de Lísias, registra: “- Na Terra temos sempre a ilusão de que não há dor maior que a nossa. Pura cegueira: há milhões de criaturas afrontando situações verdadeiramente cruéis, comparadas às nossas experiências”. Posteriormente, em MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb), acompanhando as apreciações dum Espírito apresentado como Irmão Francisco, colhe interessante observação: “- No leito de morte, as criaturas são mais humanas e mais dóceis. Dir-se-ia que a moléstia intransigente enfraquece os instintos mais baixos, atenua as labaredas mais vivas das paixões interiores, desanimaliza a alma, abrindo-lhe, em torno, interstícios abençoados por onde penetra infinita luz. E a dor vai derrubando as pesadas muralhas da indiferença, do egoísmo cristalizado e do amor-próprio excessivo. Então, é possível o grande entendimento”.  N’ OBREIROS DA VIDA ETERNA (feb), o Instrutor Jerônimo, em certo diálogo com André Luiz, observa que “a dor desenha a tela da lógica no fundo da consciência, com muito mais nitidez que todos os compêndios do mundo”. Em ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), Clarêncio, ouvido por André Luiz em NOSSO LAR (feb), considera “a dor e a luta, a provação e o sofrimento, únicos elementos reparadores, suscetíveis de produzir em nós o reajuste necessário, quando nos pomos em desacordo com a Lei”, enquanto em LIBERTAÇÃO (feb),  a entidade de nome Matilde afirma que “somos diamantes brutos, revestidos pelo duro cascalho de nossas milenárias imperfeiçoes, localizados pela magnanimidade do Senhor na ouriversaria da Terra. A dor, o obstáculo e o conflito são bem-aventuradas ferramentas de melhoria em nosso favor”. Mas, a mais reveladora das informações disponibilizadas pela repórter André Luiz, reproduz comentário do Instrutor Druso na obra AÇÃO E REAÇÃO. Diz o seguinte: “- A dor é ingrediente dos mais importantes na economia em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a DOR-EVOLUÇÃO, que atua de fora para dentro, aprimorando o Ser, sem a qual não existiria progresso (...). Há a DOR-EXPIAÇÃO, que vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça (...). Como temos ainda a DOR-AUXÍLIO, na qual, pela intercessão de amigos devotados à nossa felicidade e vitória, recebemos a bênção de prolongadas e dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a queda no abismo da criminalidade, seja, mais frequentemente, para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte. O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, DORES-AUXÍLIO, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso  na Vida Espiritual”.

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