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domingo, 9 de setembro de 2012

O "Racha"

A vida seguia seu curso normal para o casal Helena e André Monteiro Rodrigues, residentes na cidade de Ourinhos, no sudeste paulista. Três dos seus filhos cumpriam a rotina comum da formação estudantil, enquanto o mais velho, Wellington, então com 21 anos, cursava a Faculdade de Engenharia de Bauru, na qual ingressara alguns anos antes. O dia 7 de junho de 1979, contudo mudaria radicalmente a vida de todos os familiares, com inesperado telefonema solicitando a presença dos pais em Bauru, pois, o filho havia sofrido um acidente. Desarvorados e pressentindo o pior, seguiram para o endereço indicado, constatando a terrível e nunca esperada situação: Wellington estava morto, não tendo resistido aos múltiplos ferimentos decorrentes dos vários capotamentos do carro que ganhara, semanas antes, do pai, e, com o qual participava na noite anterior de um “racha” com amigos na rodovia Bauru-Piratininga. Perplexidade, inconformação, revolta, foram os sentimentos experimentados por todos a partir daquele dia, especialmente o pai que se culpava pelo fato do caro com que presenteara o filho pensando facilitar-lhe o acesso à Faculdade e o deslocamento pela cidade em que passara a viver, ter sido a causa de sua morte. Relembrando aqueles tristes dias, o Dr. André Monteiro Rodrigues, pai do rapaz, conta que “com o passar do tempo, amigos espíritas de Ourinhos que o visitavam, traziam notícias de Wellington e do Carlinhos, o amigo que ocupava o banco do passageiro e que igualmente morrera”. Confessa que “acreditava em tudo, contudo, não se conformava”. Por sugestão de um amigo médico, Dr. José Apolinário, três meses e vinte e cinco dias depois, foi com a esposa a Uberaba (MG), procurar Chico Xavier. Dentro da casa do Chico, teve a felicidade de ouvir que “o Wellington estava presente em companhia do avô Oswaldo meu pai”. Neste momento, não me contive e as lágrimas encharcaram-me a face. À noite, já na reunião, Chico psicografou a primeira mensagem do meu filho. Ouvi sua leitura aos prantos... No local, havia cerca de 200 pessoas. Pedi a palavra, e, naquele momento, fiz minha profissão de fé. Disse que ao Espiritismo uns vão por amor e outros pela dor. Tinha ido pela dor com a perda do filho estimado, mas graças a Deus fui”. À medida que falava e chorava, contagiava a todos, e, no final o choro foi um só. Dizendo-se desnorteado para escrever sua carta, Wellington, pede aos pais “não chorarem com tanta expressão de sofrimento e chamarem por ele”. Na ampla e profunda pesquisa que desenvolvemos ao longo dos anos nas centenas de cartas/mensagens recebidas por Chico Xavier, este é um pedido constante, pois, as mentalizações e verbalizações dos que ficam em nossa dimensão remoendo detalhes da perda e das circunstâncias que a assinalaram repercutem no Espírito que também sofre com a inesperada mudança, precisa de paz para se harmonizar e mantem-se sob intenso bombardeio de ondas de pensamentos carregadas de vibrações de dor moral. Reconstituindo seus derradeiros momentos em nossa dimensão, Wellington acrescenta: “- Realmente o problema foi uma “parada” difícil de resolver. Tive a ideia de que nos achávamos num pano de bilhar. Os carros eram as nossas bolas para pontos felizes e infelizes. Toquei para determinada direção, mas outro veículo nos acertou em cheio. Desejei socorrer o Carlinhos, mas não consegui. Não sei quanto tempo perdurou aquela situação de sono enfermiço, recolhendo as mais estranhas sensações. Queria manter-me aceso, mas nada consegui. Um sono profundo, traçado de sonhos em que tudo me vinha na memória, desde os meus primeiros dias de criança empolgou-me totalmente. Não tive outra saída senão cair num torpor esquisito no qual se falei alguma coisa foi claramente sem pensar”. Esses dois momentos também se repetem em inúmeros outros depoimentos psicografados por Chico Xavier: a chamada visão retrospectiva ou a recapitulação dos acontecimentos de todas a existência num átimo de tempo e a ideia do torpor, espécie de desmaio de curta ou longa duração até que o que morreu para nossa Dimensão, desperte no chamado Mundo Espiritual. Continuando seu depoimento, Wellington conta: “- Depois de algum tempo – que julgo longo -, acordei numa tarde agradável. Reconheci o lugar. Era o Jardim Melo Peixoto (praça pública em Ourinhos, SP), propício à meditação e aos bons pensamentos. Quis arrancar-me de lá para casa, mas não consegui. Parecia que eu entrara em outros processos de existência, no campo de gravitação. Reconheci-me preso à terra e, sentado, esperei que alguém me orientasse nos passos de volta ao lar. Muitas pessoas passaram por mim. Mas não me viam e nem me ouviam”. Tem se a impressão que Wellington estava num ponto de transição entre as duas Dimensões: a Material e a Espiritual. Wellington segue: - “Estranhando o caso, e com minha recordação do acidente a me empolgar o pensamento, continuei esperando... até que meu avô Oswaldo surgiu à minha frente, com dois amigos que se identificaram na condição de amigos dele, de nome Cristone e José Fernandes Grillo, que me convidaram para acompanha-los. E surpreendi-me, porque entrelaçando o meu braço com o de meu avô, senti-me leve de inesperado, buscando junto deles o refúgio onde me vejo ainda em tratamento. Estou melhor, mas nada sei do Oldack”. Os personagens citados, são antigos moradores de Ourinhos, desencarnados há vários anos, enquanto o outro é Carlos Oldack de Bem, o Carlinhos que encontrava-se no carro acidentado. A carta inserida no livro ASSUNTOS DA VIDA E DA MORTE (geem), contem outros detalhes importantes, dentre os quais destacamos o seguinte: - “Nosso corpo aqui não está isento dos resultados difíceis que remanescem dos acidentes. Não temos um corpo de impressões, e, sim, um veículo de manifestação com fisiologia maravilhosamente organizada. E a qualquer estrago obtido no mundo, nos casos de impacto, somos obrigados a tratamentos laboriosos, como acontece em qualquer hospital de Ourinhos. É um mundo novo, com faculdades novas a servir-nos, mas não disponho de outro recurso, senão aguardar a passagem do tempo, a fim de fazer as minhas próprias averiguações”.



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