“...seu filho anda partido em dois, tamanho é o meu anseio de
realizar-me na condição de homem(...). Muitos rapazes se desligam facilmente
desses anseios. Tenho visto centenas que me participam estarem transfigurados
pela religião e outros adotam exercícios de ioga com o objetivo de cortarem
essas raízes da mocidade com o mundo(...).Meu tio Ivo fala em amor entre jovens
apenas usufruindo o magnetismo das mãos dadas, e até já experimentei, mas a
pequena não apresentava energias que atraíssem para longos diálogos sobre as
maravilhas da vida por aqui. Fiz força e ela também; no entanto, nos separamos
espontaneamente, porque não nos alimentávamos espiritualmente um ao outro.
Creio que meu caso é uma provação que apenas vencerei com o apoio do
tempo(...). Dizem por aqui que os pares certos trocam emoções criativas e
maravilhosas no simples toque de mãos; no entanto, estou esperando o milagre”.
O desabafo foi feito por Ivo Barros Correia Menezes à mãe, em carta
psicografada por Chico Xavier, seis anos após seu desencarne aos 18 de idade,
quando o veículo em que se encontrava com amigos foi colhido por ônibus cujo
motorista ultrapassou o sinal vermelho. Embora o sexo além da morte não tenha
sido objeto de mais aprofundados estudos por Allan Kardec, os Espíritos que
auxiliaram no cumprimento do programa desenvolvido através do médium de Pedro
Leopoldo, deixaram importantes subsídios para nossas reflexões. André Luiz, por
exemplo, acompanhando a benfeitora Narcisa num atendimento num dos pavilhões em
que começava a servir na colônia descrita em NOSSO LAR (feb), atraído por gritaria próxima, foi contido por ela,
no instintivo movimento de aproximação, ouvindo dela: “- Não prossiga, localizam-se ali os
desequilibrados do sexo. O quadro seria extremamente doloroso para seus olhos”.
Mais à frente, num diálogo com Dona Laura que o acolhia em sua residência na
colônia, registra que “toda experiência sexual da criatura que já
recebeu alguma luz do Espírito, é acontecimento de enorme importância para si mesma”.
MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb), expõem
situação verificada com Marcondes que “no
desdobramento natural do sono físico deveria estar em palestra proferida
durante a madrugada pelo Instrutor Alexandre, em instituição localizada na
Crosta e que é localizado em seu quarto de dormir, parcialmente desligado do
corpo que descansava com bonita aparência, sob as colchas rendadas (...),
revelando posição de relaxamento, característica dos viciados do ópio, tendo a
seu lado, três entidades femininas” - definidas por André como
da pior espécie de quantas já tinha visto nas regiões das sombras -, “em
atitude menos edificante, atraídas, segundo disseram pelos
pensamentos curtidos pelo encarnado no dia anterior”. O caso de Odila apresentado no ENTRE A TERRA E O CÉU (feb), mostra a situação de mulher desencarnada, evidenciando
no corpo espiritual, o centro genésico plenamente descontrolado, não querendo
senão o marido, em vista do apego enlouquecedor aos vínculos do sexo, que a
paixão nada faz senão desvirtuar”. Segundo análise do Instrutor Clarêncio,
embora “possua admiráveis qualidades morais, jazem eclipsadas. Desencarnou em
largo vigor de seu idealismo, sem uma fé religiosa capaz de reeducar lhe os
impulsos, justificando-se desse modo a superexcitação em que se encontra”.
Calderaro, o Benfeitor apresentado em NO
MUNDO MAIOR (feb), explica que “a sede do sexo não se acha no corpo
grosseiro, mas na alma, em sua sublime organização”. Acrescenta que “o
cativeiro nos tormentos do sexo(...) é questão da alma, que demanda processo
individual de cura, e sobre esta só o Espírito resolverá no tribunal da própria
consciência”. Na mesma obra,
acompanhando tarefa socorrista efetuada em recinto reservado de um clube de
dança, André observa: “-Algumas dezenas de pares encarnados dançavam,
tendo as mentes absorvidas nas baixas vibrações que a atmosfera vigorosamente
insuflava. Indefinível e dilacerante impressão dominou-me o Ser. Não provinha
da estranheza que a indiferença dos cavalheiros e a leviandade das mulheres me
provocaram; o que me enchia de assombro era o quadro que eles não viam. A
multidão de entidades conturbadas e viciosas que aí se movia era enorme. Os
dançarinos não bailavam sós, mas, inconscientemente, correspondiam, no
ritmo açodado da música inferior, a ridículos gestos dos companheiros
irresponsáveis que lhes eram invisíveis. Atitudes simiescas surgiam aqui e
ali, e, de quando em quando, gritos histéricos feriam o ar”. Comentando
a cena, o Orientador diz: “- Observamos, neste recinto, homens e mulheres
dotados de alto raciocínio, mas assumindo atitudes de que muitos símios talvez
se pejassem(...). Muitos deles são profundamente infelizes, precisando de nossa
ajuda e compaixão. Procuram sufocar no vinho ou nos prazeres certas noções de
responsabilidade que não logram esquecer”. Na obra SEXO
E DESTINO (feb), Neves, um dos personagens da narrativa, encontra o genro e
funcionária de sua empresa numa – como ele diz – furna penumbrosa em plena madrugada, qual
marido e mulher, entregues à champanha e música lasciva. “Entidades perturbadoras e
perturbadas, jungidas ao corpo dos bailarinos(...). Em recanto
multicolorido, onde algumas jovens exibiam formas seminuas em coleios
esquisitos, vampiros articulavam trejeitos, completando, em sentido menos
digno, os quadros que o mau gosto humano pretendia apresentar em nome da
arte. Tudo rasteiro, impróprio, inconveniente”. Chamando a atenção para
essa realidade não divisada pelos nossos
sentidos normais, inúmeros depoimentos poderiam ser acrescentados a estes.
Finalizando, porém, destacamos um que de certo modo surpreende por sua
peculiaridade. Provém do E A VIDA
CONTINUA (feb), envolvendo Ernesto Fantini que, vários meses após ter
desencarnado, ansioso, retorna ao lar que fora dele defrontando-se com um
quadro que jamais poderia imaginar. Conta: “-Elisa – a esposa -,
descansava... O corpo magro, o rosto mais profuzamente vincado de rugas e os cabelos
mais grisalhos. No entanto, junto dela, estirava-se um homem desencarnado”.
Tratava-se de colega de infância, cuja amizade conservara adulto e que, embora
também casado, pressentia nutrir atração anormal por sua esposa, a qual, a
compartilhava. Anos antes, acreditava ter eliminado o rival numa caçada
– na verdade atingido por tiro fatal desferido por outro – e, desligado compulsoriamente do
corpo, passou a viver a partir de então na
casa e na cama com a pretendida que
o percebia pela ignorada mediunidade, ao longo do anos que se seguiram
até aquele momento de reencontro”. Por tudo que foi mostrado nessa
compilação, percebe-se que, a natureza não dando saltos, carregamos sempre
conosco os efeitos causados por nós mesmos no uso de nossas potencialidades.
Inclusive no campo do sexo.
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