Os ponteiros do relógio aproximavam-se das nove horas da
manhã daquela sexta-feira, primeiro de setembro de 1974, quando o ritmo
frenético de um dos pontos de maior movimentação da região central da capital
paulista experimentou uma mudança radical. Isto porque de janelas situadas num
dos pontos mais altos de moderno edifício situado na confluência das avenidas
23 de Maio e 9 de Julho com o famoso Vale do Anhangabaú, irrompiam as primeiras
labaredas daquele que foi um dos maiores incêndios ocorridos na maior das
metrópoles da América Latina. O Edifício Joelma, com seus 26 andares, abrigava
em seu espaço interno inúmeras empresas, que, por sua vez, absorviam expressivo
número de funcionários. O expediente se iniciava, e a surpresa da ocorrência
resultou na morte de dezenas de pessoas, embora, felizmente, muitas vidas
tenham sido salvas por encontrarem-se abaixo do andar onde se iniciou o
sinistro. As que estavam nos andares acima, como que empurradas pelo fogaréu
e pela fumaça, subiam pelas escadas até o topo do prédio, na ideia que se
repetiria o mesmo processo de resgate do Edifício Andraus, dois anos antes, também na capital paulista, em que inúmeras pessoas foram salvas por
helicópteros. O Joelma, no entanto, não possuía Heliporto e a alta temperatura
emanada do incêndio impossibilitavam a aproximação dos veículos aéreos. No
alto, os que lá conseguiram chegar, corriam desorientados, fugindo das chamas
aterradoras e rolos de fumaça que a todos intoxicava. No desespero para
salvar-se, na confusão generalizada, corpos eram pisados ou, quais tochas
vivas, impiedosamente, carbonizados. Alguns, num misto de dor e desespero,
pularam da altura para estatelar-se no chão, perto do povo que, assustado,
acompanhava a tragédia, entre atônito e inerme. Oficialmente, 188 pessoas
morreram em consequência do incêndio e mais de 300 ficaram feridas com maior ou
menor gravidade. Dentre as vítimas fatais, duas ressurgiriam meses depois
através do médium Chico Xavier, já que, em momentos diferentes, familiares dos mesmos
se dirigiram a Uberaba (MG), na ânsia de obter algum tipo de informação ou
esclarecimento sobre a tragédia. Não
eram seguidores do Espiritismo, tendo crescido sob a orientação do Catolicismo,
ao qual seguiam dentro do convencionalismo da maioria. A primeira iniciativa
foi da mãe de Volquimar Carvalho dos Santos, desencarnada com apenas 21 anos.
Oriunda de Pirassununga (SP), onde se formara professora primária em 1969,
mudara-se pouco tempo depois com a mãe e dois irmãos para São Paulo, onde,
indicada pelo irmão, quatro meses antes, passara a trabalhar na mesma empresa
que ele, no vigésimo terceiro andar do edifício enquanto ele trabalhava nos
primeiros andares. Na véspera da sua morte, Volqui – como era chamada – faltara
no serviço para preparar a documentação necessária à matrícula na Universidade
de São Paulo, em cujos vestibulares havia sido aprovada para o curso de Letras.
Na maratona para encontrar o corpo da jovem que não se sabia ainda vitima fatal
do incêndio, sua mãe acompanhava as buscas no carro de um amigo que, solidário,
se propusera a auxiliá-los. A Capital improvisara inúmeros postos para receber
os corpos resgatados considerando-se a imprevisibilidade de uma ocorrência
daquele porte. Uma fenômeno incomum, porém, marcaria essa angustiante
peregrinação. A certo trecho, próximo ao IML, Volquimar, em Espírito, apareceu
no carro à mãe, sem que os outros dois passageiros a vissem dizendo a ela: “-Mãe,
o Álvaro já me achou e identificou o meu corpo”. Ante a negativa do
filho que tentava poupar a mãe até encontrar a melhor forma para comunicar-lhe
a triste notícia, o Espírito da filha acrescentou, sorrindo: “-Mamãe,
ele já me encontrou sim, e está ocultando a verdade da senhora”. Dona Walkyria apenas teve confirmada a certeza
do falecimento da filha num Pronto-Socorro, onde, de imediato lhe foram
ministrados sedativos. Conhecendo Chico apenas das apresentações dos programas PINGA-FOGO com ele realizados em julho
e dezembro de 1971, Dona Walkyria, informada pelo genro que ele estaria em
Araras(SP), no dia 10 de março de 1974, apenas 40 dias após a morte da filha,
era a primeira da fila para abraça-lo. Informando ao médium o motivo de ali
estar, foi aconselhada por ele aguardar o fim do evento de que participara para
conversarem, o que fez, ouvindo Chico falar-lhe da filha, identificando-a por
Volquimar – nome pouco comum -, sem nunca ter tido qualquer informação da moça.
Dois meses depois, em novo encontro, agora em Uberaba, Chico em conversa
informal, revela que o Espírito da filha contou-lhe que deixara em casa algo
que permitiria a comunicação mediúnica entre ele e a mãe, que por sinal, negou
a existência de qualquer coisa do tipo, o que se confirmaria depois com a
localização de uma cartolina com letras e números, com as palavras sim, não e
adeus, com pequeno cartão móvel acoplado. Mais dois meses passados e, em 13 de
julho, finalmente, ocorre a psicografia da primeira carta, com Volquimar
relatando sua versão pessoal da lamentável ocorrência. Recorda, a certo trecho: “- Como foi o inesperado? Muito difícil a revisão. Tudo aconteceu de
repente, como se devêssemos todos naquela manhã obedecer, de um modo só, a
ordem que vinha do mais Alto, a fim de que a gente trocasse de vida e corpo.
Quando recebi o impacto da notícia do fogo, o tumulto fora da sala não era
pequeno. O propósito de fazer com que o trabalho rendesse, habitualmente, nos
isolava dos ruídos interiores. E o tempo de preservação possível havia passado.
Atendi automaticamente ao impulso que nascia nos outros companheiros: descer à
pressa. E fizemos isso. Elevadores não mais podiam aguardar-nos. A força
elétrica sofrera a queda compreensível. Esforcei-me por atingi algum meio para
a descida, mas isso se fazia impraticável. Com alguns poucos que me podiam
ouvis, subimos apressadamente para os cimos do prédio. A esperança nos
helicópteros estava em nossa cabeça, mas era muito difícil abraçar tantos para
o regresso à rua com recursos tão poucos. Entendi tudo e orei. Orei como nunca,
lembrando toda a vida num momento só, porque os minutos de expectativa eram
para nós um prolongado instante de expectativa sempre menor. Tudo atravessei
com a prece no coração. E, posso dizer a você, mãezinha querida, que um brando
torpor me invadiu, pouco a pouco. O calor era demasiado para que fosse sentido
por nós, especialmente por mim(...) Os Amigos Espirituais, destacando-se meu
avo Álvaro, comigo durante todo o tempo, não me deixaram assinalar quaisquer
violência, naturais numa ocasião como aquela(..) Mais tarde, com algumas horas
de liberação do corpo, é que despertei ao seu lado”. A integra da
carta, entre outras, com outros detalhes que confirmam de forma indiscutível a
continuidade da vida, pode ser lida na obra SOMOS SEIS (geem).
"...da manhã daquela sexta-feira, primeiro de fevereiro de 1974..." - é o texto correto.
ResponderExcluirÉ de facto muito interessante e bonitas as mensagens da carta psicografada de volquimar ,eu aprendi muita coisa com esta carta e com o filme joela 23 andar,sendo que a situaçao de volquiimar me chamou mais a atenção.
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