O lar de Nelly e José Marques Ferreira, em Ribeirão Preto
(SP), encheu-se de alegria naquele 6 de março de 1950 com o nascimento do filho
José Luiz, que juntamente da irmã Nelly,
formaria um grupo familiar feliz até 22 anos após, quando um acidente
automobilístico nas imediações de Iracemapolis (SP), imporia a separação
compulsória entre eles, em 5 de agosto de 1972. Moço tranquilo, exercia natural
liderança entre os amigos, sem nada impor. Sempre muito amoroso com os pais,
com a irmã, cunhado e sobrinhos, deixou saudades profundas no meio em que
vivia. Cursou Engenharia Civil na Universidade de Brasília por algum tempo,
abandonando-a por considera-la muito fria, optando por Arquitetura que cursava
quando desencarnou. Revelava-se espiritualizado, usando muito a expressão
“religiosos de fim de semana” ao se referir às praticantes da fé convencionais,
entendendo que sua geração esperava algo mais além esta vida. Nas vésperas do
seu último natal, ao ver sua mãe preparar a sala para recepcionar amigos para
um almoço, disse-lhe: “Não ponha nada desses enfeites de Natal, que
é tudo comércio. Vou pintar um quadro que você vai gostar muito”. Ao
fazê-lo, surpreendeu a mãe com uma imagem de Cristo tão grande,
impressionando-a tanto, a ponto de julga-lo triste, tendo a impressão não
conhecer o filho, tal a profundidade daquele presente. Como esperava algo
alegre, indagou-lhe se estava com algum problema, ao que ele, calmamente,
respondeu com outra pergunta: “-Qual é o verdadeiro espírito do Natal? Não
é Jesus?”. Zé Luiz, desde muito cedo manifestou grande aptidão para
desenho e pintura, deixando ao morrer aproximadamente quarenta telas, incluindo
trabalhos em aquarela, guache, crayon e colagem, embora tenha frequentado
apenas algumas aulas aos 15 anos. Sofria de bronquite alérgica, apresentando
também hipersensibilidade a tintas, forçando-o a abandoná-las nas primeiras
tentativas. A maioria de seus trabalhos foi encontrada depois de seu desenlace,
muitos não intitulados, nem revelados e interpretados por ele aos familiares.
Escrevia também poesias, originais e curiosas como a intitulada “Aminofilina”,
nome comercial de um produto farmacêutico que usava no controle à sua bronquite
asmática. Zé Luiz tinha horror a tóxicos e quando sabia que um conhecido ou
amigo se iniciava no uso dos mesmos, dizia à mãe: “- A senhora que é amiga de
Fulana, avise-a que seu filho está começando na droga”. Outra faceta de sua
vida, só conhecida após sua morte, era o trabalho, silenciosos e anônimo, que
ele e um grupo de colegas realizava nas noites frias da capital paulista,
distribuindo cobertores à albergados debaixo de pontes e viadutos. Vinte e seis
foi o número de dias que Zé Luiz esteve internado, com várias fraturas,
complicadas por meningite e embolia gordurosa, que determinaram sua morte.
Durante todo esse período, com exceção dos últimos dias lucido, levantava o
ânimo dos médicos e dos que o visitavam. O reencontro com seus, se daria apenas
setenta dias após sua desencarnação, por extensa e confortadora carta, escrita
através de Chico Xavier, em Uberaba (MG). Nela, o jovem revela estar em
convalescença, em tratamento, hospitalizado, sem condições de concatenar seus
pensamentos com segurança. Acrescenta “estar ainda ligado à casa de onde saíra,
sabendo tudo o que falavam a seu respeito, embora não soubesse explicar como
isso ocorria, tendo a ideia que fios o interligavam aos familiares, fios que na
Terra, não se tem a mais leve informação. Pede ajuda aos pais, pois segundo
ele, quando eles choravam, mesmo à distância um do outro, sem que se vissem,
ele via os dois e o pranto lhe surgia incontrolável. Pede-lhe aceitação,
conformação e conversão do tempo em serviço no Bem ao próximo”. Cita as
avós Eugênia e Amélia que o receberam e acompanhavam na recuperação, menciona a
visita de Dom Mousinho, o primeiro Arcebispo de Ribeirão Preto, amigo da
família e da Madre Coração de Jesus, ligada ao Colégio em que estudou em
Ribeirão. Detalhes e nomes desconhecidos por Chico que ao despedir-se do casal,
afirmou acreditar que a próxima manifestação do jovem seria artística. Seis
anos se passaram e, em dezembro de 1978, assistindo a uma apresentação do então
jovem Luiz Antonio Gasparetto, em São Paulo, à qual fora movida por forte
impulso que a fez, com o marido, abandonar a um casamento a um casamento de que
participava em Limeira (SP), para aproveitar a oportunidade de incluir-se entre
a plateia convidada para ver o médium em ação. Na ocasião, entre as dezenas de
pinturas produzidas pelos Espíritos com as mãos e pés de Gasparetto, havia uma
obtida em um minuto e trinta segundos, assinada por Modigliani, apresentando um
Cristo, em linhas gerais, muito semelhante a outro produzido por Zé Luiz, sete
meses antes de sua morte, denominado por ele “CRISTO EM AZUL”. Comentando com Gasparetto
a questão da semelhança, ao final do estafante trabalho mediúnico, este,
mostrou-se surpreso por ter pintado Cristo já que durante o transe não tinha
consciência do que os Espíritos por ele transmitiam. Pouco mais de um ano
depois, os pais de Zé Luiz, de posse do quadro CRISTO EM AZUL pintado por ele e
da obra produzida por Modigliani através de Gasparetto, mostraram-nas a Chico
Xavier, que se limitou a dizer que a pintura mediúnica pertencia de fato à mãe
do jovem desencarnado, afirmando que o Espírito a pintara para ela. Na visita
posterior do casal à Uberaba, ao final da reunião pública de 15 de outubro de 1982,
Chico convidou-os para ir à sua casa na manhã seguinte, contando-lhes que, em
desdobramento espiritual, fora levado por um Espírito à França, mais
precisamente a uma praça, com muitas pessoas, onde estavam expostas várias
telas. Observou que as obras de arte tinham a assinatura “Modigliani”.
Destacava-se de um grupo, um moço alto e bonito. Dirigiu-se, então, ao Espírito
amigo que o conduzia dizendo-lhe: “- Eu conheço esse moço, ao que ele
respondeu: “-Conhece sim!”. Chico acrescentou: “-Mas eu conheço esse moço do
Brasil”, obtendo a reveladora informação: “-Exatamente, este moço no Brasil,
foi o Zé Luiz”. Se restava alguma dúvida, ela definitivamente estava
totalmente desfeita, conforme contado no livro PORTO DA ALEGRIA (ide): Zé Luiz era o pintor italiano Amadeo Modigliani
reencarnado.
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