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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

QUEM FOI? (8) - a primeira mensagem


“- Conheci pessoalmente Dona Maria Lacerda de Moura, em 1937. Nesse tempo ela estudava com grande interesse os fenômenos mediúnicos, num grupo consagrado a diversos instrutores do mundo indiano. As reuniões obedeciam às instruções deles e apresentavam resultados admiráveis do ponto de vista medianímico. Ela convidou-nos, ao Dr. Rômulo Joviano que era então meu chefe no serviço, e a mim, para assistirmos a algumas reuniões. Com a permissão de Emmanuel, compareci, por algumas vezes, às tarefas do grupo mencionado e pude ver, através da clarividência, as entidades que operavam, todas elas dignas do maior respeito, pelo sentido altamente religioso que davam às próprias manifestações”.  O depoimento pertence à Chico Xavier no livro NO MUNDO DE CHICO XAVIER (ide).Recordando um desses momentos inesquecíveis, o Dr Rômulo contou ao amigo Clóvis Tavares que “assistindo em Barbacena (MG), a uma dessas reuniões de estudos orientalistas, após Maria Lacerda ter escrito no quadro-negro algumas palavras em português, possivelmente um “mantra”, para meditação dos presentes, Chico recebe, através da psicofonia sonambúlica, uma mensagem em idioma hindu, havendo a entidade comunicante, conduzido o médium até o mesmo quadro-negro, traçando diversas expressões ininteligíveis para os presentes, posteriormente reconhecidas como mantras grafados em caracteres sânscritos”. Segundo seus biógrafos, “Maria Lacerda de Moura é considerada uma das pioneiras do feminismo em Brasil, e certamente foi uma das poucas que observaram a condição feminina dentro da perspectiva da luta de classesAnticlerical, escreveu numerosos artigos e livros criticando tenazmente a moral sexual burguesa, denunciando a opressão exercida sobre todas mulheres, e em especial as das camadas mais pobres. Entre os temas eleitos pela escritora, nós encontramos a educação sexual dos jovens, a virgindade, o amor livre, o direito ao prazer sexual, o divórcio, a maternidade consciente e a prostituição, assuntos considerados tabu naquela época. Seus artigos foram publicados na imprensa brasileira, uruguaia, argentina e espanhola. A autora fundou também a revista Renascença, cujo foco foi a formação intelectual e moral das mulheres. Em seu livro "Religião do amor e da beleza", Maria Lacerda de Moura defende o amor livre. Para ela, o amor só seria livre quando as mulheres não fossem mais compelidas aos braços dos homens por estarem submetidas a constrangimentos financeiros (seja pelo casamento, pela prostituição ou pela "escravidão do salário"), nem estivesse atada a preconceitos religiosos de qualquer natureza”. Formou-se na Escola Normal de Barbacena, trabalhou como educadora, adotando a pedagogia de Francisco Ferrer e lecionando em Escolas Modernas. Em 1920, no Rio de Janeiro, fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que combateria a favor do sufrágio feminino. Após mudar-se para São Paulo em 1921, se tornou ativa colaboradora da imprensa operária, publicando em jornais como A Plebe e O Combate. Em 1923, desagradou outros anarquistas por se referir positivamente às reformas educacionais promovidas pelos bolcheviques na URSS, mesmo após a perseguição política que os anarquistas russos sofreram durante e após a Revolução Russa de 1917 ter se tornado pública. Entretanto, também recusou convites para ingressar no recém-formado Partido Comunista Brasileiro. Entre 1928 e 1937, viveu numa comunidade agrícola autogestionária em Guararema, formada principalmente por anarquistas e desertores espanhóis, franceses e italianos da Primeira Guerra Mundial, "livre de escolas, livre de igrejas, livre de dogmas, livre de academias, livre de muletas, livre de prejuízos governamentais, religiosos e sociais". A repressão política durante o governo de Getúlio Vargas forçou a comunidade a se desfazer, levando-a a fugir para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na Rádio Mayrink Veiga lendo horóscopos. Fez parte da maçonaria e da Rosa Cruz, mas se distanciou desta publicamente, após saber que sua sede em Berlim havia sido cedida aos nazistas, e desautorizou seu filho adotivo a reconhecê-la, após este ter se associado aos integralistas. Sua última conferência (O Silêncio) foi realizada no Centro Rosa Cruz, ao qual voltou a se ligar ao final de sua vida. Deixou dezesseis livros publicados, desencarnando em 1945. Concluindo seu depoimento, Chico Xavier recorda que ela declarou-lhe estar convencida, quanto à sobrevivência da alma depois da morte. E, por várias vezes, disse que se partisse para o Mundo Espiritual, antes dele, viria se pudesse, ao seu encontro para escrever o que lhe fosse possível. Desencarnada em 1945, voltou a vê-lo em Espírito e grafou, por suas mãos a mensagem que consta do livro FALANDO À TERRA (feb,1951). Indagado se ela teria conversado com ele assuntos que não constam da mensagem, disse: “-Dona Maria que teve uma fase de livros combativos, em sua existência de escritora e mentora da mocidade, me disse que o azedume não constrói e que eu pedisse à Providência Divina para que inteligências desencarnadas com a vocação da censura violenta, não viessem escrever por meu intermédio criando problemas  na seara de amor que o Espiritismo Cristão nos oferece”.  Na belíssima carta por ela escrita, Maria Lacerda de Moura revela ter revisto sua própria postura no que se refere à forma como abordou e tratou os temas com que se envolveu na sua condição de líder e formadora de opinião. Por ser extensa, destacamos alguns pontos: “- A morte não é o milagroso Pais do Sonho...É novo passo na jornada do Grande Ideal. E, da eminência do monte a que somos conduzidos pela Verdade, contemplamos o apagado Lilliput em que os homens se agitam. Desenrola-se o panorama terrestre aos nossos olhos, mas não é a sátira ou o desprezo que provoca: é a piedade com o remorsos dilacerante de não haver compreendido os pigmeus do orgulho e da vaidade, enquanto nos hospedamos em seu reino prodigioso de paixões e de brinquedos. Quando passei do proscênio aos bastidores, e pude repetir a mim mesma as palavras “está representada a peça”, fino estilete de amargura se me cravou no coração. Desapontara a plateia sem ajuda-la. Frisara-lhe em cores vivas o destempero, a maldade e a ignorância e a ferroteara com o aguilhão candente da crítica exacerbada. Ante a grotesca figura dos heróis de mentira, dei asas livres à revolta e perdi a oportunidade de serviço construtivo, zurzindo os pavões e as gralhas, os abutres e os chacais, que comigo representavam, fantasiados em autêntica pele humana. Ah! Se eu fosse um palhaço ou um bufão! – pensei. O riso, porém, dificilmente me aflorava à face. Confrangeu-me, desde muito cedo, a tragédia da alma no purgatório humano, pus-me a indagar de mim mesma a causa de tanta desgraça, e ante essa realidade terrena o pessimismo ressecou-me a fonte de alegria(...). Usando as fortes lentes da investigação, tateei as chagas do organismo social, assombrando-me o espetáculo da miséria de todos os tempos....Descobri a imoralidade, a depravação, a baixeza, a libertinagem, o despudor, o vício sob todas as formas; entretanto, à maneira de Freud, que fez a diagnose espiritual da Humanidade, catalogando-lhe os complexos enervantes e sombrios, sem contudo, lhe oferecer remédio providencial, igualmente indiquei o pântano e o espinheiro, sem traçar, por mim mesma, sólidas diretrizes para a sua extinção”. Nossa irmã, como talvez aconteça com muitos de nós, enquadrou-se na profunda frase com que Chico Xavier adornou a soleira de uma das portas internas da sua modesta casa:  “Muito tarde é que se vê que não se amou o bastante”.

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