“-Natal! Grande bolo à mesa ,
/ A árvore linda em festa. / O brilho da noite empresta / Regozijo
ao coração... / É como se a Natureza / Trouxesse Belém de novo / Para os júbilos do povo / Em doce
fulguração. / Tudo
é bênção que se enflora, / De envolta na melodia / Da luminosa alegria /
Que te beija e segue além...
/ Mas se reparas, lá fora,
/ O quadro que tumultua, / Verás quem passa na rua / Sem
ânimo e sem ninguém. / Contemplarás pequeninos / De faces agoniadas, /
Pobres mães desesperadas, / Doentes em chaga e dor... /
E, ajudando aos peregrinos
/ Da esperança quase morta,
/ Talvez enxergues à porta / O Mestre pedindo amor. / É
sim!... É Jesus que volta / Entre
pedestres sem nome, / Dando pão a quem tem fome, / Luz às trevas, roupa aos nus! /
Anjo dos Céus sem escolta, /
Embora a expressão serena,
/ Tem nas mãos com que te
acena / Os
tristes sinais da cruz. / Natal!. Reparte o carinho / Que envolve a noite santa. /
Veste, alimenta e levanta / O
companheiro a chorar. / E, na glória do caminho / Dos teus gestos redentores, /
Recorda por onde fores / Que o
Cristo nasceu sem lar”. Os inspirados versos pertencem a Irene Ferreira
de Souza Pinto, intelectual que esteve por apenas 57 anos entre nós, em sua
última existência, em nossa Dimensão. Nascida em Amparo, interior de São Paulo,
começou seus estudos no Colégio Florence, em Jundiaí, os concluindo no Sion, na
capital paulista. Tendo colaborado na REVISTA FEMININA, foi a criadora das
crônicas sociais do jornal CORREIO PAULISTANO. Contista, escreveu na FEIRA
LITERÁRIA e, em 1921, estreou como romancista, publicando ROSA MARIA, seguido
por PRIMEIRO VÔO, O TUTOR DE CÉLIA e GORJEIOS, este de poesia. Reconhecida como
poetisa de fino talento e bela inspiração, desencarnou no dia 21 de maio de 1944,
na cidade do Rio de Janeiro, então capital do antigo Estado da Guanabara e da
República. Tempos depois de sua morte física, começou a escrever sonetos, quadras e
poemas através do médium Chico Xavier, enfeixados, posteriormente, na obra
ANTOLOGIA
DOS IMORTAIS, ambos publicados pela editora da FEB (federação espírita brasileira).
Dentre estes, destacamos um para reverenciar essa feliz união de sensibilidade
através da mediunidade bendita do mineiro de Pedro Leopoldo. Seu título
DEUS
TE ABENÇOE. Nele, a sensível poetisa escreve: “-
Deus te abençoe o gesto de
carinho, / Alma da caridade, branda e
pura, / Pela
migalha de ventura / Aos tristes do caminho. /
Deus te abençoe a refeição sem
nome / Que trazes, cada dia, / Aos cansados viajores da agonia /
Que esmorecem de fome. / Deus
te abençoe a roupa restaurada
/ Com que vestes, contente, / A penosa nudez de tanta gente / Que
vagueia na estrada!... / Deus
te abençoe a bolsa de esperança / Que
abres, a sós, sem que ninguém te espreite,
/ Para a gota de leite / Destinada à criança... / Deus te abençoe o pano do lençol /
Com que envolves, em doce cobertura,
/ Os enfermos que choram de amargura, / À
distância do Sol. / Deus
te abençoe, por onde fores, / E te conserve as luzes / Em que extingues, removes ou reduzes / Os
problemas, as lágrimas e as dores!
/ Deus te abençoe a fala humilde e santa, /
Com que aplacas a ira / Da
calúnia, do escárnio, da mentira,
/ Na frase que perdoa e que levanta. /
Caridade, que o teu nome ressoe, /
Pleno de amor profundo, / E
por tudo o que fazes neste mundo, /
Deus te guarde e abençoe!...”
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