“Elemento efetivo e esposa de um dos nossos companheiros, meses antes do
recebimento da mensagem, revelava todos os sintomas de uma gravidez aparente e
dolorosa, tendo sido tratada espontaneamente, em várias reuniões sucessivas,
por um de nossos Benfeitores Espirituais que, carinhosamente, a libertou,
através de passes magnéticos, das estranhas impressões de que se via possuída”.
Com esse comentário, Arnaldo Rocha precede a mensagem recebida psicofonicamente
através do médium Chico Xavier de um Espírito identificado apenas pelas
iniciais J.P. que, para grande surpresa
de todos do grupo souberam “ser o candidato ao referido renascimento
que não chegou a positivar-se”. Narrando sua desventura, identifica-se
como morador proeminente na cidade de Vassouras,(MG), convidado em março de
1888, a participar de expressiva reunião na Câmara Municipal da localidade,
para discutir "medidas compatíveis com a campanha abolicionista, então na
culminância”. Admitindo que “o negro havia nascido para o eito”,
defensor da escravatura irrestrita, encolerizado, ergueu a voz, contrário à
concessões ou transações, aderindo ao movimento contrário à proposta havida,
ganhou a causa da intolerância com os adeptos da violência e da crueldade. De
volta ao lar, descobriu que a inspiração da proposta havida, partira inicialmente
de um servo de sua casa, Ricardo, “a quem presumia dedicar melhor afeição”.
Descrito como companheiro, confidente, amigo, reconhecia no cativo, inteligência invulgar, hábil
tradutor do francês, com quem comentava notícias da Europa, as intrigas da Corte,
o escrivão predileto de seus comentários, orientador nos problemas graves e
irmão nas horas difíceis. Admite, contudo que sua amizade “não
passava de egoísmo implacável. Admirava-lhe as qualidades inatas e
aproveitava-lhe o concurso, como quem se reconhece dono de um animal raro e
queria-o como se não passasse de mera propriedade”. Enraivecido e disposto a castigá-lo,
determinou sua imediata prisão, e, ante a resignação, dignidade e calma,
explicando-se imperturbável e sereno, atiçou-se-lhe a ira, golpeando seu orgulho,
o que o fez ordenar a converter a prisão
no tronco em suplício. “Aos
gritos, desesperado, assemelhando-se a fera a cair sobre a presa, reuni minha gente e as pancadas, dilaceraram seu dorso nu,
sob meus olhos impassíveis”. O sangue do companheiro jorrou,
abundantemente, sem que ele se exasperasse e, humilhado, à face daquela
resistência tranquila, induzi o capataz a massacrar- lhe as mãos e pés.
Recomendação cumprida, porque o sangue borbotasse sem peias, foram desatados os
grilhões. Na agonia, “aquele homem que parecia guardar no peito um
coração diferente, ainda teve forças para arrastar-se, nas vascas da morte, e,
endereçando-me inesquecível olhar, inclinou-se à maneira de um cão agonizante e
beijou-me os pés”. O tempo cumpre seu papel e, anos depois, a morte
requisita-lhe o corpo pelas Leis da Vida. Recordando os desdobramentos havidos,
diz: “-Não
acredito estejais em condições de compreender o martírio de um Espírito que
abandona a Terra, na posição em que a deixei (...). Não encontrei no imo do meu
Ser, senão austero tribunal, como que instalado dentro de mim mesmo,
funcionando em ativo julgamento que me parecia nunca terminar (...). Perdi a
noção do tempo, transformado numa eternidade de aflição (...) Em dado instante,
na treva em que me debatia, a voz de Ricardo se fez ouvir aos meus pés: -Meu
filho!...meu filho!... Num prodígio de memória, em vago relâmpago
que luziu na escuridão de minhalma, recordei cenas que haviam ficado a
distância, quadros que a carne da Terra havia conseguido transitoriamente
apagar... Com emoção indefinível, vi-me de novo nos braços de Ricardo, nele identificando
meu próprio pai...meu próprio pai que eu algemara cruelmente ao poste de
martírio e a cuja flagelação assistira,
insensível, até o fim... Não posso entender os sentimentos contraditórios que
então me dominaram... Envergonhado, em vão tentei fugir de mim mesmo. Em
desabalada carreira, desprendi-me dos braços carinhosos que me enlaçavam e
busquei a sombra, qual o morcego que se compraz tão somente com a noite, a fim
de chorar o remorso que meu pai, meu amigo, meu escravo e minha vítima não
poderia compreender... No entanto, como se a Justiça, naquele momento, houvesse
acabado de lavrar contra mim a merecida sentença condenatória, após tantos anos
de inquietação, reconheci, assombrado, que meus pés e minhas mãos estavam
retorcidos...Procurei levantar-me e não consegui. A Justiça vencera”.
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