“-Afirmou-me que prosseguia trabalhando
ativamente em organizações espirita-cristãs do Plano Superior e que nós, os
espíritas, carregamos enormes responsabilidades nos ombros, porque recebemos o
conhecimento libertador de que as Leis de Deus funcionam na consciência de cada
um. Acrescentou que somos tão beneficiados no Plano Físico pelos princípios
espíritas evangélicos e por isso mesmo tão agraciados pela Misericórdia de Deus
que, até a época em que conversava comigo, pela primeira vez, não havia visto,
dentre os companheiros já desencarnados com os quais convivia, um só que não se
queixasse de condições deficitárias para com a Doutrina Espírita”. O
depoimento pertence a Chico Xavier referindo-se ao advogado, professor e
escritor paulista Romeu de Amaral
Camargo com quem trocou algumas cartas ao tempo em que o médium residia em
Pedro Leopoldo (MG). Católico de nascimento, converteu-se ao Protestantismo aos
19 anos, ordenando-se Diácono em 1913, servindo à escola religiosa por 22 anos,
até que, em 1923, conheceu as obras de Allan Kardec, as quais lhe esclareceram
lógica e racionalmente pontos a ele obscuros no entendimento das palavras de
Jesus. Em 1925 aos 43 anos, retirou-se, em definitivo, das atividades
protestantes, publicando na Revista REFORMADOR,
artigo intitulado AOS PÉS DO MESTRE, respondendo
a outro, escrito sobre sua “conversão”
por um amigo e pastor evangélico na revista Estandarte, órgão da
Igreja Presbiteriana Independente. Escreveria quatro obras notáveis, vibrantes
defesas do Espiritismo, além de tornar-se entusiasmado pregador doutrinário no
seu aspecto moral-evangélico. Intensa também foi sua atuação em vários veículos de difusão
do Espiritismo e órgãos diretivos do
movimento existente em torno de seus princípios. Em 1937, onze anos antes de
desencarnar, o Espírito Emmanuel, através do lápis de Chico Xavier,
escreveu-lhe: “-Continue na sua bela missão de levar a luz espiritual do Evangelho
pelos caminhos ensombrados da Terra”. Desencarnado trabalhando às 19:45
horas, de dezembro de 1948, na capital paulista, voltaria pelas mãos de Chico
Xavier, tempos depois, cumprindo promessa a ele feita em carta que, “na
hipótese de antecedê-lo na desencarnação, se possível, escreveria por seu
intermédio”. Na carta, transformada em capítulo do livro FALANDO À TERRA (feb), diz: “- Por
mais afeito esteja o aprendiz da Revelação Nova aos enunciados da fé que o
reconforta e educa para a grande transição, a morte é sempre um caminho surpreendente”.
Recuperando impressões sobre registros que lhe assinalaram os momentos iniciais
da chamada desencarnação, conta: “-Por muito que nos disponhamos a encarar,
face a face, as realidades da morte, atravessamos os pórticos da vida nova, de
coração aos pulos e a passos vacilantes. A paisagem dos mundos felizes e a
residência dos eleitos ficam ainda muito distantes. A visão pormenorizada de
toda a existência humana, no estado de liberdade de nosso corpo espiritual (...),
começa por reintegrar-nos na posse de nós mesmos. Enquanto a caridade dos
irmãos mais velhos nos auxilia a libertação da grade orgânica do mundo, a
memória como que retira da câmara cerebral, às pressas, o conjunto das imagens
que gravou em si mesma, durante a permanência na carne, a fim de incorporá-las,
definitivamente, aos seus arquivos eternos (...). Assisti ao desenrolar de
minha existência última, com todo o séquito de meus atos, palavras e
pensamentos, como se a minha vida fosse uma película cinematográfica
projetada, ao inverso, na tela de minha consciência. Tudo claro, eficiente e
rápido. Atingido, porém, o instante em que reapareciam as horas da meninice,
intraduzível turvação mental me absorveu o raciocínio...Debati-me inquieto,
buscando clarear as minhas reminiscências e precisar-lhes os contornos; no
entanto, incoercível vacuidade me assaltou o pensamento expectante e caí num
repouso inconsciente e profundo, qual trabalhador fatigado, após longo dia de
estafante labor. Quando acordei, convenci-me de haver reconquistado o
equilíbrio total”. Não era bem assim pelo que detalha na sequência da longa
descrição sobre sua reentrada na outra Dimensão, deixando-nos a seguinte
ponderação: “-Saibam, destarte, que o corpo de sangue e ossos é simplesmente uma
sombra de nossa entidade real e que todas as nossas virtudes ou vícios a nós se
atrelam além da Terra; pelo que, de cada qual depende o caminho aberto ou o
desfiladeiro sombrio na sublime romagem para a Luz”.
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