Discorrendo sobre os caracteres da revelação espírita,
Allan Kardec considera que “como meio de elaboração, o Espiritismo
procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o
método experimental”, acrescentando que “é rigorosamente exato, portanto,
dizer que o Espiritismo é uma ciência da observação e não o produto da
imaginação”. Sua atuação à frente da Sociedade Espírita de Paris documenta o quanto ele ousou,
através de diferentes médiuns, aprofundar os temas relacionados com informações
obtidas com os Espíritos por ele evocados ou que se manifestavam em várias
partes do Planeta abrindo caminho para o conhecimento da realidade do Mundo
Espiritual. Um dos assuntos que o senso perquiridor de Kardec submeteu a
testes, foi a possibilidade de
comunicações mediúnicas de pessoas encarnadas ou, como se costuma dizer, vivas.
Longa e minuciosa pesquisa foi por ele conduzida, evocando Espíritos
encarnados, às vezes, a grandes distâncias, sob controle de entidades
espirituais que dirigiam os trabalhos mediúnicos da Sociedade. .As comunicações
obtidas foram publicadas na íntegra, pois sempre eram psicografadas.
Constituem-se nas primeiras pesquisas e demonstrações da independência do
Espírito em relação ao corpo. Sócios efetivos ou correspondentes da Sociedade
se inscreviam para experiências nesse sentido. Um desses documentos pode
ser encontrado na REVISTA ESPÍRITA, janeiro
de 1860. Compreende oitenta perguntas formuladas a um Conde, oficial
da Marinha Imperial, retido em casa por enfermidade, e, que se oferecia
para estudo, propondo-se a deitar por volta das nove horas do dia 25 de
novembro, calculando que por volta das nove e meia poderia ser evocado. Assim
foi feito na data combinada, em que respondeu à metade das perguntas a ele
dirigidas, retornando na semana seguinte, no dia 2 de dezembro, complementando
a interessante entrevista. Na primeira
série de questões, revelou detalhes importantes como “ter a condição de deslocar-se instantaneamente,
e, à vontade, do local em que se comunicava até sua casa e vice-versa; ter
consciência do trajeto; observar os objetos existentes no caminho; estar num
estado diferente ao de um sonâmbulo pelo fato de seu corpo estar dormindo;
citou um remédio do qual nunca ouvira falar para tratar o mal que o acometia –
a gota – o cólquico; ser capaz de auxiliar um amigo que soubesse em perigo
através da inspiração; sentir-se num estado de grande felicidade como num sonho
bom; sentir-se ligado ao corpo físico por um laço luminoso como uma luz
fosforescente difícil de descrever; atuar sobre a mão do médium para dar-lhe
uma direção que facilitava por uma ação sobre o cérebro; não experimentar
fadiga física durante o fenômeno de que era o centro; ser capaz de responder a perguntas mentais”. No dia
seguinte, contou que tinha sonhado que se achava na Sociedade, entre o médium e
Kardec, o que foi considerado por este uma lembrança da evocação, que também
diz que “sendo o sonho uma lembrança da atividade do Espírito, não é,
evidentemente, o corpo que sonha”. Na segunda evocação, respondendo à entrevista formulada por Kardec, expõem impressões elucidativas como “registrar
de forma muito intensa percepções como a luz, sons e odores, não através dos órgãos dos sentidos como no
corpo físico; ver os Espíritos desencarnados presentes à reunião que se
processava; vê-los por sua própria forma perispiritual; apresentando-se também
através deste corpo que imita a forma do corpo material, embora tendo
consciência de ali estar no corpo fluídico luminoso; de ser capaz de dar um
soco em qualquer um dos presentes, e, embora não fosse sentido pelo agredido,
poderia sê-lo se o quisesse, esclarecendo ainda que o nome do remédio –
cólquico –, sabia por tê-lo usado em encarnação anterior, em que, por sinal, lhe
fizera muito mal”. Além das incursões feitas por Allan Kardec nessa
área, Ernesto Bozzano, anos depois compilou vários relatos na obra COMUNICAÇÕES MEDIÚNICAS ENTRE VIVOS
(edicel, 1968), publicado em tradução de Francisco Klör Werneck
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