Passava das 20:30 horas quando o interfone tocou. Do outro
lado, o porteiro do edifício, visivelmente alterado, perguntava se o filho da
dona do apartamento estava em casa. Ante a resposta afirmativa e a informação
que havia beijado os pais, minutos antes, desejando boa noite para ir dormir, a
insistência do interlocutor, por via das dúvidas, fez a mãe dirigir-se ao
quarto para confirmar. Encontrando o quarto vazio, voltou ao interfone, ouvindo
a sugestão para que descesse ao térreo, para, em meio à aflição e ansiedade, a
terrível constatação: o rapaz atirara-se do decimo oitavo andar do prédio,
estatelando-se no solo. Único filho de um casal bem sucedido e estável
profissionalmente, o adolescente de catorze anos, deixara um bilhete aos pais expressando seu
amor por eles, acrescentando que “este mundo” não era para ele. Investigações encontraram em seu
computador, mensagens trocadas com integrantes de um grupo social, com conteúdo
assustador dentro do que se poderia considerar normal. O pior é que no decorrer
da semana que se seguiu, outros três suicídios na mesma faixa etária foram
registrados na maior das metrópoles da América do Sul. Tais acontecimentos, por
sinal, tem aumentado sua incidência nos últimos meses, segundo estatísticas nem
sempre divulgadas. O interessante é que no numero de outubro de 1866, da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec reproduziu uma mensagem obtida pelo método de
sonambulismo, em abril daquele ano, através de dois médiuns identificados
apenas por iniciais, em que foi feita uma projeção e prognóstico dos
acontecimentos que marcariam os desdobramentos futuros da etapa de transição pela
qual passa o Planeta e seus habitantes. Em meio às previsões, dizem: “- E
como se a destruição não marchasse bastante depressa, ver-se-ão os suicídios
multiplicando-se numa proporção incrível, inclusive em crianças”.
Tentando entender esse fato causador de tão lancinante dor moral no organismo
social, encontramos n’ O LIVRO DOS
ESPÍRITOS, na nota à questão 685, uma pergunta lançada por Kardec, cuja
resposta pode ajudar a entender a razão destes acontecimentos: “-Quando se pensa na
massa de indivíduos, diariamente lançados na corrente da população, sem
princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar das
consequências desastrosas desse fato?”. A predominância do materialismo, a voracidade
da sociedade de consumo; a falência, o descrédito e a falta de espiritualidade
das religiões, criaram a crise observável na estrutura fundamental dos
agrupamentos humanos: a família. Mesmo os seguidores do Espiritismo,
desconhecem o conteúdo específico de sua obra fundamental a respeito de
questões relacionadas à paternidade, maternidade, os elementos que não podem
ser esquecidos na formação das personalidades entregues a seus cuidados, na
condição de filhos. As Casas Espíritas e seus dirigentes enfatizam muito mais
temas distantes da educação moral fundamentada na lógica dos ensinos de Jesus,
ele mesmo apontado como o guia e modelo mais perfeito para nos inspirar os
passos. Sem investimentos na infância, não se terá um futuro melhor. Como escreveu o Espírito da Verdade, na resposta
à questão 800 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS,
“as
ideias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias
gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos”. Evidente que o poder
de influenciação dos meios – circunscritos
aos Centros Espíritas e algumas publicações - de divulgação espiritas ainda
é incipiente, em grande parte prejudicadas pelas dissimuladas disputas internas entre lideranças
que se outorgam a ilusória ideia de serem os detentores dos conhecimentos mais
precisos e acertados. Enquanto isso, campeiam avassaladoramente a violência e a
dor, que poderiam ser atenuadas ou evitadas, não fosse a ignorância sobre
conteúdos específicos da Terceira Revelação. E, nesse sentido, a propagação do
Espiritismo seria importante preventivo.
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