Diante da Entidade espiritual incorporada no médium, o jovem extravasou: -“Sou uma alma em frangalhos! Se continuo
nesta marcha, nesta dubiedade de comportamento, vivendo duas formas de ser,
enlouquecerei, se é que já não me encontro transpondo o portal do desvario. Há
momentos em que não tenho discernimento para saber o que é certo ou o que se
encontra errado, o que devo ou não fazer (...). Será que sou um Espírito
feminino domiciliado num corpo masculino? Toda a minha vida até aqui é um
permanente delírio. A minha psicologia difere da minha fisiologia, minhas
aspirações entram em choque com a minha forma. Desde criança, eu preferia que
me chamassem Lícia, a Lício, que é o meu nome. A última forma me chocava,
enquanto a primeira me produzia deleite. Ao espelho, despido, sempre me
estranhei, passando a detestar o que eu apresentava sem sentir, anelando pelo
que experimentava emocionalmente, sem possuir. As formas do corpo produziam-me
estranheza... Foi, porém, na puberdade que os meus sofrimentos se agravaram, na
escola, no lar, em toda parte. Eu era uma pessoa dupla: a real, era interior,
enquanto que a aparente, era a visível (...). Quando eu contava dez anos, um
irmão de minha mãe, que morava no interior, portanto, meu tio, veio fazer
Faculdade, em nossa cidade, e nosso lar foi-lhe aberto, confiante,
hospitaleiro. Eu o conhecera rapidamente, desde quando muito antes, fora
visitar meus avós, levado por meus pais e em companhia dos meus irmãos maiores:
um menino e uma menina(...). Agora, porém, fora um choque reencontrá-lo, embora
minha pouca idade (...). Um dia, com palavras dóceis, que eu não alcançava,
levou-me à sedução, à ação nefasta devastadora que me prossegue afetando. Sem
saber discernir, era uma brincadeira, um segredo de amor, que manteríamos,
conforme deu-me instrução para uso pessoal e junto à família. Com o tempo
adaptei-me e, envergonho-me de confessá-lo, passei a amá-lo, se é que um
adolescente, naquele período, sabe o que é o amor(...). Por mais de três nãos
vivemos essa terrível aventura, que se interrompeu, quando ele concluiu o curso
e foi exercer a profissão em outra cidade(...). Ele encontrou uma jovem, a quem
passou a amar realmente, deu-me ciência do fato e casou-se com ela (...). Após
noites indormidas, e lutas tenazes contra a ideia do suicídio que se me fixava
como única solução, tombei em novas, frustrantes e arrasadoras experiências que
me magoaram profundamente, dilacerando-me o coração e a dignidade interior”. Após alguns minutos de profundo recolhimento, o Espírito respondeu: -“Você tem razão ao afirmar que
se trata de uma alma feminina encarcerada num corpo masculino. Tal ocorrência,
no entanto, não é fruto de um sortilégio divino, mas dos códigos soberanos da
vida, que estabelecem diretrizes que, desrespeitadas, produzem resultados
concordes com a gravidade da rebeldia (...). A forma, numa como noutra área, é
oportunidade para aquisição de Particulares conquistas de acordo com os padrões
éticos que facultam a uma ou à outra (...). Quando, porém, o indivíduo se
utiliza da função genésica para o prazer continuado sem responsabilidade, derivando
para os estímulos que as aberrações da luxúria o convidam, incide em gravame
que é convidado a corrigir, na próxima oportunidade da reencarnação, sob lesões
da alma enferma, que se exteriorizam em disfunções genésicas, em anomalias e
doenças do aparelho genital ou na área moral, mediante os dolorosos conflitos
que maceram, nos quais o ser íntimo difere in totum do ser físico (...).
Pelo menos, nas três últimas reencarnações, você, Lício, viveu experiências
femininas, utilizando-se de corpos desse gênero. Na antepenúltima, enredou-se
numa trama que a paixão insensata fez enlouquecer (...). Não há muito, utilizou
de toda a força que a atração física lhe emprestava, para usufruir e malsinar
vidas que se lhe enroscam, perturbando-lhe a marcha. Os efeitos emocionais lhe
dilaceraram as fibras sensíveis da aparelhagem espiritual que modelaram um
corpo-presídio, no qual a forma sofre o tormento da essência e vice-versa
(...). Como é normal, infelizmente, aqueles que lhe padeceram a arrogância e a
insensibilidade retornaram ao seu convívio físico e psíquico, tanto quanto os
que foram corrompidos e lhe propuseram degradação ora renteiam ao seu lado. O
tio pervertido é lhe companhia antiga, do mesmo grupo de perversão, que não lhe
teve resistências morais para vencer os impulsos físicos, que provinham dos
refolhes do ser viciado, e soube identificar, embora sem compreender, a antiga
companheira de alucinação. Todavia, no seu desvario, ele esteve inspirado por
adversário de ambos, domiciliado em nossa esfera de ação, que aguarda ensejo de
vingar-se, na condição de esposo traído e vilipendiado pelos dois(....). Esta
situação, todavia, existe porque os vínculos com o bem ou o mal permanecem
conforme a força dos atos praticados, até que novas ações rompam a geratriz
deles, por eliminação do seu efeito, fortalecendo as correntes do dever, que
permanecerão para sempre”.A íntegra da consulta espiritual pode ser lida na obra LOUCURA E OBSESSÃO (feb, 86), do Espírito Manuel Philomeno de Miranda pelo médium Divaldo Pereira Franco.
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