Salomão Schvartzman construiu, ao longo dos seus 79 anos, uma
carreira reconhecida pela competência e imparcialidade diante dos fatos por ele
documentados em reportagens marcantes. Um delas publicada pelo famoso semanário
FATOS E FOTOS, edição de três de
agosto de 1963. Esclarece na matéria que ele e o fotógrafo Geraldo Mori, “dois
descrentes em matéria de Espiritismo, viajaram mais de 400 quilômetros para
comprovar a materialização de um Espírito e trazer aos leitores de FATOS E
FOTOS, o relato honesto dos 120 minutos que passaram no interior da casa número
138 da Rua do Mercado, em Andradas (MG), onde funcionava o Centro Paz e Amor”.
Acrescenta que “em toda sua vida – a época contava 29 anos - jamais havia assistido a qualquer trabalho
dessa natureza. Movia-o o desejo da reportagem, tão somente, imbuído de um respeito
simples que todos guardamos dentro de nós quando nos defrontamos com algo
desconhecido. Confesso que, de início, antes que começasse a sessão, alimentava
a vontade de descobrir uma possível fraude. Seus olhos bailaram de cá para lá,
de baixo para cima, procurando um teto falso, um túnel, um buraco, uma porta
secreta, qualquer coisa, enfim, que levasse a por em dúvida a seriedade daquele
espetáculo. Nada encontrou. A médium, uma mulher baixa, magra, aparentando 30
anos, naquela quarta-feira, com 38 graus de febre, voz fina de mulher do
interior, usando um vestido largo e um suéter grosso e sapatos baixos, me dava a
ideia de qualquer coisa incomum. Seu nome: Otília Diogo. Casada, mãe de duas
filhas(...). Éramos, numa sala de uns vinte e cinco metros quadrados, 34
pessoas, entre homens e mulheres. O silêncio era total. A voz de Antenor Risso,
o presidente do Centro, com uma voz forte mas simpática, falou durante uns
trinta minutos na Bem-Aventurança da vida extraterrena. Também um capítulo do
Evangelho foi lido. Quando se deu por
satisfeito e antes que todos passássemos a uma outra sala, três passistas
percorreram um por um dos assistentes – nós dois, inclusive -, fazendo gestos
sobre nossas cabeças, “tirando os maus Espíritos” que porventura tivéssemos trazido.
Benzidos, penetramos na sala onde se daria a materialização. Homens de um lado,
mulheres, de outro. Antenor conduziu a médium Otília até um tablado de madeira,
onde uma cadeira especial a esperava. Foi amarrada com duas correias que se
fechavam por um cadeado. A chave ficou em poder de Antenor. A minha expectativa
aumentava. Subi até o tablado e examinei o local onde Otília já estava, pois
assim que a sessão começasse uma cortina
a separaria de todos nós, a fim de que lá não penetrasse a mínima réstea de luz
O teto era de cimento, como as paredes, que também não tinham o menor defeito,
rachadura ou porta”. Prosseguindo em sua minuciosa descrição, mais à
frente, o jornalista relata: -“ A luz foi desligada. A escuridão era
absoluta – eu não enxergava minha própria mão (...). De repente, em meio à
escuridão, vislumbrei um vulto branco. Era o Espírito que aparecia e que se
anunciava como irmã Josefa. Todos renderam graças a Deus. Fiquei extático. A
preocupação de descobrir qualquer indício de embuste tirou-me do medo. Mas não
vi nenhuma mistificação. E a Irmã Josefa já estava, com apenas uma pequeníssima
parte de seu rosto e a laringe iluminadas por uma luz fosforescente. Não se lhe
viam os olhos, a boca e o nariz. A luminosidade diminuta de uma parte de sua
laringe – repito – era o que se enxergava. Pronunciou algumas palavras, após o
que Antenor destacou-se da assistência e perguntou se o fotógrafo poderia tirar
chapas. Irmã Josefa numa voz meiga, envolvente disse: -“ Sim. E porque,
não?”. O flash explodiu pela primeira vez dentro daquela colossal
escuridão. Na claridade momentânea, vi o Espírito materializado numa vestimenta
branca, comprida, tocando o chão”. Após instigantes e marcantes
momentos, em que outras fotos foram batidas e o repórter autorizado pela
entidade a entrevistou, “o Espírito materializado avisa que vai
embora. O Plasma está acabando. Todos rendem graças a Deus e a luz é ligada
novamente. No aclarar-se a sala, já não se vê mais Irmã Josefa. Desapareceu.
Meus olhos ardem. A cortina é aberta e a médium é libertada, sob as minhas
vistas. Nenhum buraco no chão, nenhum sinal de vestimenta branca, nenhum teto
falso, nada, nada. Otília ainda se debate. Estrebucha. É acalmada. Um líquido
branco – o plasma – escorre da sua boca. Móri fotografa sobre o tablado. Eu
acabara de assistir a um espetáculo raro, como jamais sonhei ver! Durou 90
minutos – noventa minutos de escuridão total. Saí da sala perguntando-me se
tudo aquilo era mesmo verdade. Não sabia responder. Vi, ouvi, senti. E agora?”.
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