“Certas afecções, mesmo muito graves e passadas ao estado crônico, não
tem como causa primeira a alteração das moléculas orgânicas, mas a presença de
um mal fluido, que as desagrega, por assim dizer, e perturba a sua economia. Há
aqui como num relógio, cujas peças todas estão em bom estado, mas cujo
movimento é parado ou desregulado pela poeira; nenhuma peça deve ser
substituída e, contudo, ele não funciona; para restabelecer a regularidade do
movimento basta purgar o relógio do obstáculo que o impedia de funcionar. Tal é
o caso de grande número de doenças, cuja origem é devida aos fluidos
perniciosos, dos quais é penetrado o organismo. Para obter a cura, não são
moléculas deterioradas que devem ser substituídas, mas um corpo estranho que se
deve expulsar; desaparecida a causa do mal, o equilíbrio se restabelece e as
funções retomam o seu curso”. O comentário foi feito por Allan Kardec em artigo
escrito para o número de março de 1868 da REVISTA ESPÍRITA. Sua visão é original
diante de outra expressa em mensagem psicografada na reunião da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
de 25 de outubro de 1866 pelo Espírito Mobel Lavalée, na qual considera que “sendo
o homem um composto de três princípios essenciais – o Espírito, o períspirito e
o corpo – a saúde ou a doença são resultado da harmonia perfeita ou desacordo
parcial entre eles”. Pondera ser preciso que “a medicação combata
simultaneamente todas as causas da desordem por meios diversos para obter a
cura, visto existirem doenças originadas no corpo, outras no períspirito,
enquanto outras no Espírito”. Questiona: -“O que fazem os médicos? Cuidam
do corpo e o curam; mas curam a doença?”, para responder: -“Não.
Por quê? Porque sendo o períspirito um princípio superior à matéria
propriamente dita, poderá tornar-se a causa em relação a esta. E se for
entravado, os órgãos materiais, que se acham em relação com ele, serão igualmente
atingidos na sua vitalidade. Cuidando do corpo, destruireis o efeito; mas
residindo a causa no períspirito, a doença voltará novamente, quando cessarem
os cuidados, até que se perceba que é preciso levar alhures a atenção, cuidando
fluidicamente o princípio fluídico mórbido”. Voltemos ao artigo de
Kardec. Embora reconhecendo que “a maioria das moléstias, como todas as
misérias humanas, são expiação do presente ou do passado, ou provações para o
futuro; são "dívidas" contraídas, cujas consequências devem ser sofridas, até que
tenham sido resgatadas, não podendo ser curado aquele que deve suportar sua
provação até o fim, sendo este princípio um motivo de resignação para o doente”,
lembra que, do ponto de vista fisiológico, “certas doenças tem sua causa
original na alteração mesma dos tecidos orgânicos - a única admitida
pela ciência – remediada através de substâncias medicamentosas tangíveis. Entende que “ignora-se a ação de um fluído
impalpável, tendo a vontade como propulsor. Os curadores magnéticos, provam que isso não é uma ilusão. Revela que
na cura das moléstias originadas na alteração dos tecidos orgânicos, pelo
influxo fluídico, “há substituição das moléculas orgânicas mórbidas por
moléculas sadias. É a história de casa velha, cujas pedras carcomidas são substituídas
por boas pedras; tem-se sempre a mesma casa, mas restaurada e consolidada
(...). A substância fluídica produz um efeito análogo ao da substância
medicamentosa, com a diferença que, sendo maior a sua penetração, em razão da
tenuidade de seus princípios constitutivos, age mais diretamente sobre as
moléculas primeiras do organismo que o podem fazer as moléculas mais grosseiras
das substâncias materiais. Em segundo lugar, sua eficácia é mais geral, sem ser
universal, porque suas qualidades são modificáveis pelo pensamento, ao passo que as da matéria
são fixas e invariáveis e não se podem aplicar senão a casos determinados”. O revelador artigo
representa importante fonte de pesquisa para os que nesses tempos de
revolucionários avanços na compreensão das interações saúde/ doença, buscam entender seus mecanismos.
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