Na sociedade do “cada um com seus problemas’, do
desenfreado consumismo, da generalizada insatisfação existencial, o sentimento
de inveja
em relação ao que significa o próximo, suas conquistas e realizações está mais
presente do que se imagina no pensamento das pessoas. Dissimulada ou
ostensivamente. Nas atividades inspiradas no Espiritismo não poderia ser
diferente. Afinal, representam para os que nelas trabalham, oportunidade nem
sempre devidamente avaliada. Entre médiuns, pelo
papel por eles representado no contexto, infelizmente, esse tipo de perturbação também é notada.
Inclusive entre os mais expressivos, os quais, pela liderança que exercem,
deveriam ser mais vigilantes. O problema foi comentado por Allan Kardec no
numero de abril de 1861 da REVISTA
ESPÍRITA, a partir de uma mensagem
recebida de um correspondente da
publicação, tratando justamente DA
INVEJA NOS MÉDIUNS. Seu autor um Espírito de nome Luos que, entre outras
coisas pondera: -“Sede humildes de coração, vós a quem Deus aquinhoou com seus dons
espirituais. Não atribuais nenhum mérito a vós próprios, assim como não se o
atribui à obra, aos utensílios, mas ao operário. Lembrai-vos bem que não
passais de instrumentos de que Deus se serve para manifestar ao mundo o seu
Espírito Onipotente, e que não tendes qualquer motivo para vos glorificardes de
vós mesmos. Há tantos médiuns que se tornam vãos, em vez de humildes, à medida
que seus dons se desenvolvem! Isto é um atraso no progresso, pois em vez de ser
humilde e passivo, muitas vez o médium repele, por vaidade e orgulho, comunicações
importantes, que vem à luz por outros mais merecedores. Deus não olha a posição
material de uma pessoa para lhe conferir o espírita de santidade; bem ao
contrário, porque vezes exalça os humildes entre os humildes, para os dotar com
as mais maiores faculdades, a fim de que o mundo veja bem que não é o homem,
mas o Espírito de Deus pelo homem que faz milagres. Como disse, o médium é o
simples instrumento do grande Criador de todas as coisas, e a este é que se
deve render glória, é a ele que se deve agradecer por sua inesgotável bondade.
Também queria dizer uma palavra sobre a inveja e o ciúme que muitas vezes
reinam entre os médiuns e que, como erva daninha, é necessário arrancar, desde
que começa a aparecer, temendo que abafe os bens germes vizinhos. No médium a
inveja é tão temível quanto o orgulho: prova a mesma necessidade de humildade.
Direi mesmo que denota falta de sendo comum. Não é vos mostrando invejosos dos
dons do vosso vizinho que recebereis dons semelhantes, porque, se Deus dá muito
a uns e pouco a outros, tende certeza de que, assim agindo, há um motivo bem
fundado. A inveja azeda o coração; até abafa os melhores sentimentos, é pois,
um inimigo para prevenção todo cuidado é
pouco, pois não dá trégua uma vez que se apoderou de nós. Isto se aplica a todos
os casos da vida terrena. Mas eu quis falar sobretudo da inveja entre os
médiuns, tão ridícula quanto desprezível e infundada, e que prova quanto é
fraco o homem, desde que se torne escravo de suas paixões”. Analisando
a mensagem, Kardec diz: -“Depende, evidentemente, da natureza moral da
criatura. Um médium tem inveja de outro médium porque está na sua natureza ser
invejoso. Esta falha, consequente do orgulho e do egoísmo, é essencialmente
prejudicial à qualidade das comunicações (...). O médium não passa de
intermediário: recebe tudo de Espíritos estranhos (...). Os Espíritos
simpatizam com ele em razão de suas qualidades ou de seus defeitos. A
experiência nos ensina que a faculdade mediúnica, como faculdade, independe das
qualidades morais; pode assim (...) existir no mais alto grau no mais perverso
indivíduo. É completamente diverso em relação às simpatias dos bons Espíritos,
que se comunicam naturalmente, tanto mais à vontade, quanto mais o intermediário
encarregado de transmitir o seu pensamento for puro, mais sincero e mais se
afaste da natureza dos maus Espíritos. A este respeito fazem o que nós mesmos
fazemos quando tomamos alguém para confidente. Especialmente no que concerne à
inveja”.
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