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terça-feira, 13 de agosto de 2013

Libertação

Nas suas andanças de “catadora de lixo”  pelo bairro de Campos Elísios, na capital de São Paulo, uma rua a atrai particularmente. Tem a impressão de já ter vivido ali, ligada àquele nome. Filha de negros do interior de Minas Gerais, pai desconhecido, vive num barraco de dois cômodos, madeira semi apodrecida, pedaços de zinco de latas enferrujadas como todos os outros da favela do Canindé, no número 9, da Rua A. Tem nojo de sua própria pele e ânsias de morar num certo casarão de bairro elegante onde todas as noites, cumpre seu ritual de coleta de papeis e pedaços de ferro velho com que procura reunir alguns trocados para matar a própria fome e dos três filhos: uma menina e dois meninos. Um dia, no meio da papelada velha que ensaca, acha uma caderneta parcialmente usada e resolve escrever um diário com o pouco que aprendera no Grupo Escolar que frequentou até o antigo segundo ano primário. Nos relatos que vai anotando, fala do que entende: miséria, fome, degradação do favelado, do que sucede dentro e fora dos barracos nas vinte e quatro horas dos moradores de uma favela nos anos 60. O “aparente acaso”, aproximou dela e dos trinta e cinco cadernos com seus escritos, um repórter designado para uma matéria sobre ocorrência na favela do Canindé. Daí nasce o livro QUARTO DE DESPEJO que se transforma num best-seller considerado por um cronista da época “um livro comovente, interessante, pelo que nele há de experiência autêntica, de realismo dramático, de vivência humana, quase apaixonante; um documentário, não uma obra de arte”. Assim, Carolina Maria de Jesus com o apurado com direitos autorais, mudou-se para uma casa de tijolos. Por pouco tempo, pois, incapaz de gerir seus ganhos, enganada por espertalhões, perde tudo, indo morar sob a ponte da Casa Verde - pelo asco de voltar à favela – sob a qual desencarna. Esta passagem por nossa Dimensão, contudo, levou-a e reabilitar-se perante a própria consciência onde se acha inscrita a Lei de Deus. Especialmente os registros guardados na memoria desde um século antes, em que residindo num dos elegantes palacetes do bairro dos Campos Elísios, filha de um Barão da época, viveu cercada de facilidades, tendo estudado em Paris, herdeira rica e mimadíssima, desfrutando de temporadas no Rio de Janeiro, na Corte, onde recebia tratamento de princesa. Sua postura, no entanto, especialmente em relação aos escravos, revelavam como sua condição a afetava, como um fato ocorrido na noite em que no salão do palacete em que morava, era alvo das homenagens da alta sociedade paulistana pelos 21 anos que completava. Quando surgiu no salão em que se reuniam os convidados, provocando a admiração de todos, um dos escravos que, em traje de gala, passavam  com bandejas de prata servindo licores finos em cálices de cristal, deixou cair um deles, respingando a barra do vestido de uma dama. Após ter sido alvo de olhar feroz da Baronesinha, foi chamado a aposento para o qual ela se retirara e cruelmente castigado com raivosas chicotadas no rosto, após o que ela retornou sorrindo ao salão. Pouco antes de servir o jantar, indo à cozinha conferir se tudo ia bem, depara-se com o negro no meio da criadagem e, enfurecida, manda trancarem-no na cafua, considerada o terror dos cativos, pois, ali ficavam dias, sem pão e sem água, até que alguém se lembrasse de soltá-lo, muitas vezes, quase moribundos. Anos depois, adentrando o Plano Espiritual pela imposição da morte, foi apanhada em rede preta e viscosa, como uma teia de aranha e levada por ex-escravos que não a perdoaram, para furna escura nas regiões inferiores da Espiritualidade, onde após muito tempo de torturas como as impostas aos cativos, foi retirada para a encarnação no século seguinte, nas condições já resumidas”. Casos como este, foram criteriosamente reunidos no livro VIDAS DE OUTRORA (1985, pensamento), por um dos dedicados servidores da causa do Espiritismo no século 20: Eliseu Rigonatti. Sua existência e obras que influenciaram tantas mentes e corações merecem ser conhecidas pelos que procuram a VERDADE, o caminho apontado pelo Mestre dos Mestres, Jesus, como o da libertação. 

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