-“Gosto da boa mesa
e das mulheres; viva o melão e a lagosta, o café e o licor!”, falou numa reunião espírita particular, um
Espírito, sob o nome de Baltazar, por meio de batidas. Manifestação espontânea, sem ter sido evocado. Entendendo que “tais disposições de um habitante do outro
mundo poderia dar lugar a um estudo sério, do qual poder-se-ia tirar um
ensinamento instrutivo sobre as faculdades e sensações do Espíritos”,
Allan Kardec resolveu evocá-lo na reunião da Sociedade Espírita de Paris, na reunião de 19 de outubro de 1860,
conforme explica em matéria inserida no número da REVISTA ESPÍRITA, de novembro daquele ano. Buscava ainda
obter mais informações sobre a fisiologia do corpo espiritual ou períspirito.
Nas catorze perguntas a ele dirigidas, Baltazar ofereceu vários elementos para
nossas reflexões. Um deles que estava “desencarnado
há 30 anos, tendo morrido aos 80 de idade, sido advogado, neto e filho de
gastrônomos – seus pais
eram financistas que na antiga monarquia contratavam a cobrança de impostos -, e,
lamentando estar diante de uma grande
mesa vazia de alimentos. Indagado como se serviria se estivesse carregada, respondeu que “sentiria seu aroma, como outrora lhes saboreava o gosto”. Comentando a colocação, Kardec diz: -“Sabemos que os Espíritos tem nossas
sensações e percebem os odores tão bem quanto os sons. Não podendo comer, um
Espírito material e sensual se repasta da emanação dos alimentos; saboreia-os
pelo olfato, como em vida o fazia pelo paladar. Há, pois, algo de material em
seu prazer; mas como, na verdade, há mais desejo do que realidade, este mesmo
prazer, aguilhoando os desejos, torna-se um suplício para os Espíritos
inferiores, que ainda conservaram as paixões humanas”. Sobre se seu
corpo fluídico possuía um estômago, disse: “-um estomago
fluídico também, onde só os aromas podem passar”. Questionado se vendo comidas gostosas
sentia vontade de comer, usou interessante analogia para se explicar: -“Para mim, esses alimentos são o que são as flores para vós: cheirais,
mas não comeis. Isso vos contenta. Então, também me satisfaço”. Se, sentia prazer vendo os outros comerem,
disse que “muito, quando estou perto”. Se, experimentava necessidade de comer e beber, esclareceu que “necessidade,
não; mas desejo, sim, sempre”. Solicitado a explicar se o desejo ficava plenamente satisfeito pelo
cheiro aspirado, se era a coisa se realmente comesse, contra argumentou: -“É como se eu vos perguntasse se a vista de um objeto que desejais
ardentemente vos substitui a posse desse objeto”. Se o desejo que experimentava era um
suplício por não haver prazer real, falou que “um suplício
maior do que pensais. Mas, procuro atordoar-me, criando-me uma ilusão”. Ampliando a abordagem, Kardec lhe pergunta
se dormia algumas vezes, apurando que não, ocupando-se por “rodar um pouco por toda parte, percorrendo feiras e mercados, vendo
chegar a pesca, com isto se ocupando”. Se via Espíritos mais felizes que ele, disse que sim, alguns cuja felicidade consiste em louvar a Deus, o que não
conhece pois seus pensamento roçam pela terra, finalizando a entrevista respondendo desconhecer as
causas que os tornam mais felizes que ele, não as apreciando, como aquele que
não sabe o que é um prato preferido e não o aprecia”. Ao se despedir, concluiu que talvez chegue a isso e, que iria procurar
um jantarzinho muito delicioso e suculento”. Analisando a manifestação, Kardec diz que
Baltazar “faz parte dessa classe
numerosa de seres invisíveis que não se
elevaram em nada acima da condição da Humanidade. Só tem de menos o
corpo material, mas suas ideias são exatamente as mesmas. Não é um mau
Espírito, não tem contra si senão a sensualidade, que, ao mesmo tempo, é para
ele um suplício e um prazer; como Espírito, não é muito infeliz; é até feliz ao
seu modo. Mas, Deus sabe o que o espera em nova existência! Uma triste volta,
poderá fazê-lo bem refletir e desenvolver o senso moral, ainda abafado pela
preponderância dos sentidos”.
Um século depois, o Espírito André Luiz, através de Chico Xavier, discorrendo
sobre a alimentação escreveu que “desde a experiência carnal o homem se alimenta
muito mais pela respiração, colhendo o alimento de volume simplesmente como
recurso complementar de fornecimento plástico e energético”, alertando: -“Se
o psicossoma está profundamente arraigado às sensações terrestres,
sobrevém ao Espírito a necessidade inquietante de prosseguir atrelado ao mundo
biológico que lhe é familiar, e, quando não a supera ao preço do próprio
esforço, no auto-reajustamento, provoca os fenômenos da simbiose psíquica,
que o levam a conviver, temporariamente, no halo vital daqueles
encarnados com os quais se afine, quando não promove a obsessão espetacular”.
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