faça sua pesquisa

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Seria Cômico, Se Não Fosse Trágico...



-“Nasci na Terra para cumprir determinada tarefa no socorro aos doentes, sob o signo da solidão individual, para que mais eficiente se tornasse meu concurso a benefício dos outros, porém, em chegando aos trinta de idade, e vendo-me pobre e sozinho, apesar dos múltiplos trabalhos de enfermagem que me angariavam larga soma de afetos, entreguei-me, acovardado, ao desespero e, com um tiro no coração, aniquilei meu corpo”. Assim começa seu depoimento, o enfermeiro Luís Alves, ex- profissional de um Hospital de Belo Horizonte (MG), Espírito que se serviu da mediunidade psicofônica de Chico Xavier, em manifestação gravada na noite de primeiro de dezembro de 1955. Embora mais coerente na abordagem sobre o suicídio, o Espiritismo o considera transgressão grave em relação às Leis a que estamos submetidos na nossa caminhada evolutiva.  O desgosto pela vida, se resolveria pela consagração ao trabalho, orienta a questão 944 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. As misérias e decepções da vida se explicam pelo conhecimento das provas e expiações, acrescentam eles. A vergonha por faltas cometidas, o suicídio não apaga. Enfim, catorze situações são analisadas por Allan Kardec, no primeiro capítulo do livro quatro - ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES – do principal livro da Codificação. E Luís Alves no seu testemunho, confirma tudo isso no seu surpreendente testemunho. Embora se saiba que cada um, após a morte, terá sua própria forma despertar além dessa vida, interessante e importante o conhecimento do seu relato. Após o disparo fatal, lembra ele, “começou a minha odisseia singular, porque me reconheci muito mais vivo do que antes, continuando ligado à minha carcaça inerte. Não dispunha de parentes ou de amigos que me solicitassem os despojos. Entregue a uma escola de Medicina, chumbado ao meu corpo, passei a servir em demonstrações anatômicas. Completamente anestesiado, ignorava as dores físicas, não obstante cortado de mil modos; contudo, se tentava afastar-me da múmia que passara a ser minha sombra, o terrível sofrimentos a expressar-se por inigualável angústia, me constringia o peito, compelindo-me a voltar. Dezenas de médicos jovens estudavam em minhas vísceras os problemas operatórios que lhes inquietavam a mente indecisa, alegando que meus tecidos cadavéricos eram sempre mais vivos e consistentes, mal sabendo que a minha presença constante lhes mantinha a coesão. Ninguém na Terra, enquanto no corpo denso, pode calcular o martírio de um Espírito desencarnado, indefinidamente jungido aos próprios restos. Minha aflição parecia não ter fim. Chorava, gritava, reclamava...mas, por respostas da vida, era objeto diário da atenção dos estudantes de cirurgia, que procuravam em mim o auxílio indireto para a solução de enigmas profissionais, a favor de numerosos doentes. Ouvia a meu respeito interessantes observações que variavam do carinho ao sarcasmo e do ridículo à compaixão. Muitos me fitavam com piedoso olhar, mas muitos outros me sacudiam de vergonha e de sofrimento, através dos pensamentos e das palavras com que me feriam e ofendiam a dolorosa nudez. Com o transcurso do tempo, desgastou-se-me a vestimenta de carne nas atividades de cobaia, mas, ainda assim, professores e médicos afeiçoaram-se-me ao esqueleto, que diziam original e bem posto, e prossegui em meu cárcere oculto. Habitualmente assediado por aprendizes e estudiosos diversos, suportava, além disso, constante visitação de almas desencarnadas, viciosas e vagabundas, que me atiravam em rosto gargalhadas estridentes e frases vis. Vinte e seis anos decorreram sobre meu inominável infortúnio, quando, certo dia, a desfazer-me em pranto, recordei velho amigo – o nosso Mitter. Bastou isso e ele me apareceu eufórico e juvenil, como nos tempos da mocidade primeira. Compadecido, ouviu-me a horrenda história e, aplicando as mãos sobre mim, conseguiu libertar-me dos ossos (...). Respirei aliviado”. Seguindo, revela ter sido levado ao local onde recebeu os primeiros socorros espirituais, ponderou que “tão triste quão bizarra, sua história provoca impressões diversas, desde a agonia ao riso franco, fazendo dele um sofredor e um truão. Muitas almas aparecem no berço, a fim de lutar. E muitas se escondem no sepulcro, para aprender”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário