A respeitável médium Yvonne
Pereira tinha entre suas percepções, a vidência, manifesta de forma natural
e espontânea. Descrevendo uma de suas interessantes experiências, relata que “deslocando-se da cidade onde
vivia em Minas Gerais para o Rio de Janeiro, afim de prestar assistência a um
parente doente, hospedou-se na casa dele durante o tempo necessário para o
tratamento. A moradia recém-adquirida, havia sido reformada pelo proprietário
anterior, tendo sido erguida em terreno onde existira um casebre demolido para
dar lugar à nova construção. Conta Dona Yvonne que, fosse em meio às suas
orações habituais ou, inesperadamente, durante os afazeres domésticos, sua
visão espiritual mostrava no local de casa, um casebre, e, em vez do jardim com
suas bonitas árvores e folhagens, o piso de cerâmica e cimento, um pobre
terreno em ruínas, com canteiros de hortaliças ressequidas e alguns poucos
galináceos enfezados, além de utensílios imprestáveis esparsos por toda parte.
Dias depois, em desdobramento espiritual – outra de suas faculdades mediúnicas
-, viu que desaparecera a casa atual e, em seu lugar, viu apenas um terraço
com um casebre, coberto de telhas velhas, com janelas minúsculas, sem vidros, e
portas muito toscas, de tábuas grosseiras, e chão de terra batida. Algumas
plantações já arruinadas se deixavam ver, tais como couves, quiabos, jilós e,
sobrepondo-se a todas, pela quantidade, arbustos de ervilhas com estacas de
taquara. Compreendi que ali existira viçosa chácara de hortaliças, mas que a
decadência adviera depois (...). Dois ou três galos de briga, tipo chinês, iam
e vinham pelo terreno, ciscando e cacarejando. Lixo amontoado a um canto e
sinais suspeitos de fogo em círculo indicavam a esterqueira para o abuso às
plantas e também que o habitante do casebre fora dado à prática de magias, de "macumba", como vulgarmente é conhecida a dita prática no dialeto popular
brasileiro. Um negro ainda moço, ou o seu Espírito, corpulento, simpático,
cuidava das ervilhas com muita atenção, amarrando-as com tiras de ‘imbira’ às
estacas. Usava camisa branca andrajosa, calças escuras com muito uso, sujas de
terra, chapéu de feltro velhíssimo, e tudo oferecendo visão de extrema pobreza
e decadência. Pés descalços, inchados, como que atacados por elefantíase,
enquanto o corpo reluzia, deformado pela inchação. Aquela entidade chamara-se
Pedro, quando encarnada, residira no casebre, e que, agora, desencarnada, continuava no mesmo local, fixando o pensamento
no cenário passado e, por isso mesmo, construindo-o ao derredor de si, para seu
desfruto ou seu infortúnio, à força de tanto recordá-lo, sendo, portanto, esse
seu ambiente imediato, ou seja, tipo de criação mental sólida (...).
Compreendi, diz ela, que insólita confusão se estabelecera no entendimento do
pobre Espírito, o qual, via nova casa no local da sua e a reforma geral do
terreno, também continuava vivendo no seu amado casebre, o que equivale dizer
que, criando ele mesmo o seu ambiente, através das recordações fixadas na
mente, residia, como
Espírito, entre nós outros, os moradores do prédio novo”. Chico Xavier, em 1954, em viagem ao
litoral do Rio de Janeiro, certo amanhecer embrenhou-se por uma mata com os
amigos Arnaldo Rocha e Ênio Santos nas imediações da pensão em
que se hospedaram na cidade de Angra dos Reis na expectativa de avistarem uma
cachoeira ali existente. Assentando-se em grande pedra existente na clareira onde a mesma se
encontrava, em tom coloquial, Chico
comentou perceber no local em outra Dimensão, a presença de vários Espíritos –
homens, mulheres e crianças – num ritual. Indagado sobre mais detalhes disse
que o Benfeitor Emmanuel “esclarece
que são Espíritos simples, ingênuos. Pelo nosso calendário, poderíamos dizer
que encontram-se ainda no século XV, no mundo que lhes é próprio. Nós não
existíamos. Eles não nos veem e encontram-se em fase evolutiva bem acanhada. São
índios que habitavam estas glebas”. Outro episódio deriva de carta
psicografada em reunião pública em 17 de julho de 1976 pelo empresário Hilário Sestini, desencarnado em março
daquele ano, em consequência de um infarto do miocárdio, aos 55 anos.
Rememorando detalhes que marcaram seu desligamento do corpo, faz referência a procedimento
cirúrgico sofrido, já no Plano Espiritual na Casa de Saúde
Santa Therezinha, em São José do Rio Preto mesmo. Ao ouvir a leitura
da mensagem, seu irmão estranhou a citação pois, nascido e criado na mesma
cidade, nunca tinha ouvido falar naquele estabelecimento, questionando Chico sobre o fato, para que eventual
engano fosse esclarecido, o que, na verdade confirmaria, posteriormente, após
minuciosa pesquisa em publicações do anos 20 . Retornando a Uberaba (MG), pedindo mais explicações ao médium, ouviu
dele que “os Amigos Espirituais costumam se referir a construções antigas que
permanecem na retaguarda de construções atualizadas, até que as entidades
ligadas a esses conjuntos habitacionais, os abandonem por não mais necessitarem
deles nos vínculos mentais que, de certo modo, os retêm a determinadas
paisagens do eu próprio pretérito”. Esses depoimentos evidenciam a
superposição de Dimensões, de locais, de estados mentais no Mundo Espiritual,
onde cada um se situa na esfera mental compatível com sua realidade interior.
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