Na edição de fevereiro de 1860 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec incluiu
interessante matéria descrevendo pesquisa desenvolvida ao longo de um mês sobre
um fato reportado por um correspondente da cidade de Castelnaudary, uma
comunidade situada no departamento de Aude, região de Languedoc Roussilon,
interior da França. Envolvia pequena casa, em que havia ruídos estranhos e
diversas manifestações que levavam a considera-la como assombrada. Por isso, foi exorcizada em 1848 e nela
colocaram grande número de imagens de santos. Querendo habitá-la, um novo proprietário mandou fazer reparos e retirar as gravuras. Depois de alguns anos,
ali morreu subitamente. Seu filho, que a ocupou por algum tempo, certo dia, ao
entrar num quarto, recebeu forte bofetada de mão invisível. Como estivesse
absolutamente só, não duvidou que ela viesse de fonte oculta. Há na região a
lenda de um grande crime ocorrido na dita casa. De posse de tais dados, Kardec
interrogou o dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Espírita de Paris e, obtendo resposta favorável, na reunião de 9 de dezembro
de 1859, iniciou tal trabalho. O Espírito chamado, se manifestou por sinais de
violência; percebida na extrema agitação de que foi tomado o médium, que
quebrou sete ou oito lápis, lançando alguns sobre os assistentes, rasgou uma
página, que cobriu de traços sem sentido, feitos com cólera. Foram impotentes
os esforços para acalmá-lo; premido a responder perguntas, escreveu com a maior
dificuldade um não quase indecifrável. Questionado o dirigente
espiritual, informou “ser um Espírito
da pior espécie, obrigado a comparecer à reunião, mas não foi possível fazê-lo a escrever, apesar de tudo que lhe foi dito, visto ter seu livre
arbítrio, do qual, infeliz, faz triste uso”. Disse também “ser autor do crime referido na lenda da região; que descobririam quem
foi; que os exorcismos não o afastaram da moradia; que participou da morte do
Sr. D; ter sido o autor da bofetada
no filho do Sr. D; não ter sido
permitido que repetisse o gesto contra os membros da reunião em que estavam;
que oração seria o recurso eficaz para afastá-lo da casa; mas oração feita
pelos interessados e não por terceiros; que ele era suscetível de melhora como
qualquer um, embora fosse necessário enfrentar dificuldades; que por mais
perverso fosse, o bem em retribuição ao mal acabaria por tocá-lo”.Uma
médium vidente presente a sessão viu esse Espírito no momento em que queriam
que escrevesse: sacudia o braço do médium; seu aspecto era aterrador; vestindo
uma camisa coberta de sangue portando um punhal. Dois outros participantes
começaram desde aquela noite, a orar pelo infeliz Espírito, obtendo várias
comunicações, bem como de suas vítimas. Tais manifestações somadas à outras
obtidas na Sociedade Espírita de Paris, em intervalos diversos, se
desenvolveram ao longo de um mês, em dez reuniões, perfazendo 126 perguntas
entre as respondidas pelo tal Espírito, e os demais envolvidos na dramática história, comentadas algumas partes
pelo dirigente espiritual das reuniões, outras pelo próprio Allan Kardec. Tudo
começou em 6 de maio de 1608, portanto, duzentos anos antes, quando ele Charles
Dupont, por suspeitar que seu irmão mais velho, Pierre, cortejasse uma mulher
de quem ele gostava, o apunhalou no meio da noite, enquanto dormia, ferindo-o
na garganta, depois no coração, e, embora acordando, querendo luta, não teve
forças para tal. Ninguém foi acusado por sua morte, pois naquele tempo,
prestava-se pouca atenção a essas coisas. A mulher, Marguerite Aeder, por sua
vez, casou-se com Charles que, cinco anos depois, frustrado em seu amor, também
assassinou no dia 3 de maio de 1610. Por fim, manifestou-se o Sr. D, que deu
detalhes da sua morte, após avistar o Espírito de Charles ao adentrar a casa
certo dia. Atendendo a recomendação do
dirigente espiritual dos trabalhos, um mês depois, no dia 13 de janeiro, foi
novamente evocado, revelando uma substancial mudança em suas ideias e
comportamento. Terminando Kardec observa que “tal evocação não fora casual. Como devia ser útil a esse infeliz, os
Espíritos que velavam por ele, vendo que começava a compreender a enormidade de
seus crimes, julgaram chegado o momento de lhe prestas socorro eficaz, e então,
o trouxera às circunstâncias propícias, fato, por sinal, muitas vezes repetido”.
Finaliza dizendo: -“A propósito,
perguntam o que teria sido dele, se não tivéssemos podido evocá-lo, como de
todos os Espíritos sofredores que também, não o podem ser, e nos quais não se
pensa. A resposta é que as vias de Deus são inumeráveis para a salvação das
criaturas. A evocação pode ser um meio de as assistir, mas certo, não é o
único. A evocação pode ser um meio de as assistir, mas, certo, não é o único. E
Deus não deixa ninguém esquecido. Alias, as preces coletivas devem ter
influências parcial sobre os Espíritos acessíveis ao arrependimento”.
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