Desde
que o Cristianismo foi considerado não subversivo pelo poderoso e decadente
Império Romano, a mensagem e história de Jesus foram objeto de desvirtuamentos
que somente a imperfeição espiritual humana pode justificar. A chamada Reforma
não foi capaz de restabelecer a verdade e chegamos ao século 21 ainda presos a
ideias que não conseguem sensibilizar milhares de seguidores para o caminho da
espiritualidade, mantendo-os presos ao formal convencionalismo ou à letra, sem
penetrar no sentido profundo desta. Da primeira parte do Antigo
Testamento, Allan Kardec ressalta os chamados Dez Mandamentos,
considerando-o invariável, enquanto a outra parte é apropriada aos costumes e
ao caráter do povo que liderava, se modificando, portanto, com o tempo. Explica
que o Decálogo “é de todos os tempos e de todos
os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino. Todas as demais leis foram
estabelecidas por Moises, obrigado a manter pelo temor um povo naturalmente
turbulento e indisciplinado, no qual tinha de combater alguns abusos arraigados
e preconceitos adquiridos durante a servidão do Egito (estimada em mais de 300
anos). Para dar autoridade às suas leis, ele teve de lhes atribuir uma origem
divina, como o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. A autoridade
do homem devia apoiar-se sobre a autoridade de Deus. Mas só a ideia de um Deus
terrível podia impressionar homens ignorantes, em que só o senso moral e o
sentimento de uma estranha justiça estavam ainda pouco desenvolvidos. É
evidente que aquele que havia estabelecido em seus mandamentos “não
matarás” e “não farás mal a teu
próximo”, não poderia contradizer-se, ao fazer do extermínio um dever. As leis
mosaicas, propriamente ditas, tinham, portanto, um caráter essencialmente
transitório”. Os séculos se sucederam porém e, o poderoso marketing
religioso, sustentou a ideia de que o conteúdo da obra representava a palavra
de Deus, quando, na verdade, somente fale sobre ela. Inúmeros são os exemplos de
que fatos por ela relatados são apenas repetição de outros semelhantes,
presentes em culturas e Civilizações anteriores, algumas remotas. A história do
Dilúvio, por exemplo, escrita por Moises no século 5 A.C., fora
contada pelo Sumeriano Gilgamés no século 25 A.C, em doze
lâminas de barro, através de inscrições cuneiformes descobertas em biblioteca
existente nas ruinas do Palácio de Ninive,
na Babilônia. Nelas o Noé
hebreu chamava-se Atrachasis observando-se as mesmas expressões de arrependimento
de Deus
encontráveis de forma mais sintética na narrativa do GÊNESIS. Os escritos de Gilgamés, contudo, reproduzem
narrativa do MAHABARATA das
tradições bramânicas da Índia, que contam a história de Vaiswasvata – o Noé
hindu. Apoiado naquele senso que caracteriza todas suas análises, Kardec
considera que “o dilúvio bíblico, também designado o grande diluvio, é uma fato de
existência incontestável. Deve ter sido ocasionado pelo levantamento de uma
parte das montanhas desse continente, como o do México. O que vem em apoio dessa
opinião é a existência de um mar interior que se estendia outrora do Mar Negro
ao Oceano Boreal, atestado pelas observações geológicas. O mar de Azoff, o mar
Cáspio, cujas águas são salgadas, apesar de não comunicarem com outro mar, o
lago Aral e muitos lagos espalhados nas imensas planícies da Tartária, e as
estepes da Rússia, parecem ser o resto desse antigo mar. Para os homens de
então, que só conheciam uma extensão limitadíssima da superfície do Globo, e
não concebiam ideia alguma de sua configuração, desde o momento em que a inundação
invadisse as regiões conhecidas, isso lhes devia parecer toda a Terra. Juntando-se
a essa crença, a forma imaginada e hiperbólica peculiar ao estilo oriental,
ninguém deve surpreender-se pelo exagero das narrativas bíblicas”.
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