Tema central de um filme lançado neste 2013 que termina,
Serra Pelada constituiu-se no maior garimpo a céu aberto do século 20.
Descoberto em 1980, transformou-se em pouco tempo num imenso “formigueiro”
humano, que, a exemplo destes insetos movimentavam-se em filas,
entrelaçando-se, subindo e descendo em morros que desapareciam rapidamente,
numa rotina que dava a ideia de uma confusão sem nome. Tudo, porém, obedecia a
uma harmonia absoluta. Divididos em pequeninos lotes, de alguns metros
quadrados, o proprietário tinha o direito de explorar seu lote, na verdade, um
barranco, vendendo o que achava ao Governo. Conhecido como barranqueiro, o
proprietário contrata auxiliares que, em grupo, cavoucam os barrancos,
removendo dele o barro, cascalho, dali retirados pelos chamados “formigas”,
que carregam esses resíduos nas costas, em sacos, para o lavadouro, onde os bateadores
o lavam, e das bateias o ouro apurado vai para os cadinhos; daí, em barras,
para as mãos do barranqueiro, que o leva para o representante do Governo, sendo
tudo rigorosamente anotado, de modo a não haver prejuízo para ninguém. Impressionado
com essa dinâmica, um importante líder do Movimento Espírita em São Paulo, no
século 20, Eliseu Rigonatti,
vivenciou interessante experiência relatada em seu livro VIDAS DE OUTRORA (pensamento, 1986). Conta que o fato se deu logo após assistir a uma reportagem veiculada por
um canal de televisão, talvez sugestionado pelo seu impressionante conteúdo. Relata ele: -“Com o
cérebro povoado daquelas visões, adormeci. Pela madrugada, deixando meu corpo
repousando, desdobrei-me e dirigi-me à Serra Pelada. –Santo Deus!, exclamei.
Eles trabalham também de noite! De fato, a azáfama era a mesma: os formigas
carregavam lama, os batedores lavavam cascalho, os cavouqueiros cavavam, os
barranqueiros de olhos acesos tudo vigiavam. Apoiava-me a uma pedra no flanco
da montanha, pasmado de tudo aquilo, pois era noite, as estrelas brilhavam no
firmamento, a foice da lua subia no horizonte, quando percebi alguém acima de
mim. Voltei-me e deparei com um Espírito de feições veneráveis, cabelos curtos
encaracolados, barba alvíssima muito bem cuidada; trajava clâmide opalina,
presa ao ombro direito por uma fivela cintilante; calçava sandálias. Alçou a
mão e fez sinal para que me aproximasse. Acerquei-me dele com o respeito que se
deve a um Espírito superior e, não resistindo à doçura de seu olhar,
ajoelhei-me. Sorriu para mim com grande afabilidade, o que dissipou meu receio,
e ergue-me dando-me a mão. –Meu filho, porque estás tão admirado com o que vês?
Não leste que onde o homem tem o seu tesouro, aí terá preso o seu coração? –Mas,
senhor, de dia, alam e corpo, e de noite a alma neste duro labor? Como sofre
este povo? Não me respondeu; porém, puxou-me ternamente para sua frente,
friccionou-me de leve os olhos com os polegares e, voltando-me a cabeça para a
mina, perguntou-me: -O que vês agora? ´-Santíssimo Divino! – exclamei assombrado. Vejo que estão vestidos de
duques, barões, reis, sacerdotes, traficantes de escravos, usurários, ladrões,
avarentos, juízes e governantes corruptos, compradores de ouro, inquisidores,
cortesãos, piratas , e não sei mais o que. –São Espíritos que no passado elegeram o ouro como o seu deus; não
recuaram ante nenhum meio, por mais torpe que fosse, para consegui-lo. A outros
o Altíssimo concedeu fortunas, facilidades, mas como o caramujo na sua casca,
encerraram-se egoisticamente em sua riqueza, esquecidos de promoverem o
progresso e o bem estar social dos povos, cristalizaram suas mentes na posse do
ouro. Mas vamo-nos daqui; dentro de instantes raiará o dia, e retomarão seus
corpos para a faina diária. Acordei!. Os bem-te-vis cantavam no
arvoredo do jardim”.
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