Famosas ficaram as peregrinações desenvolvidas pelo médium
Chico Xavier nas tardes de sábado e manhãs de domingo na cidade de Uberaba(MG),
seguidas por expressivo número de pessoas
para lá atraídas, em sua maioria, pela possibilidade de notícias de
entes queridos cuja morte não fora cogitada. Poucos, contudo sabem a origem
daquelas atividades que nasceu de uma vivência logo após a primeira mensagem
psicografada por ele no dia 8 de julho de 1927. Chico revelou isso num
depoimento preservado pelo amigo Carlos Baccelli na obra O EVANGELHO DE CHICO XAVIER (lepp). Contou ele: -“Tudo
seguia em ordem, quando na noite de 10 de julho, dois dias depois de haver
recebido a primeira mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu
quarto pobre se iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado
lilás. Eu estava de joelhos, conforme os meus hábitos católicos, e descerrei os
olhos, tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de
admirável presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei
levantar-me para demonstrar-lhe respeito e cortesia, mas não consegui
permanecer de pé e dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela. A dama
iluminada fitou uma imagem de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu
quarto e, em seguida, falou em castelhano que eu compreendi, embora sabendo que
ignorava o idioma, em que ela facilmente se expressava: -Francisco – disse-me
pausadamente – em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu
auxílio em favor dos pobres, nossos irmãos. A emoção me possuía a alma toda,
mas pude perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto: -Senhora,
quem sois vós? Ela me respondeu: -Você não se lembra agora de mim, no entanto
eu sou Isabel, Isabel de Aragão. Eu não conhecia senhora alguma que tivesse
este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto, uma força interior me
continha e calei qualquer comentário, em tono de minha ignorância. Mas o
diálogo estava iniciando e indaguei: -Senhora, sou pobre e nada tenho para dar. Que auxílio poderei
prestar aos mais pobres do que eu mesmo? Ela disse: -Você nos auxiliará a
repartir pães com os necessitados. Clamei com pesar: -Senhora, quase sempre não
tenho pão para mim. Como poderei repartir pães com os outros? A dama sorriu e
me esclareceu: -Chegará o tempo em que você disporá de recursos. Você vai
escrever para as nossas gentes peninsulares e, trabalhando por Jesus, não poderá
receber vantagem material alguma pelas páginas que você produzir, mas vamos
providenciar para que os Mensageiros do Bem lhe tragam recursos para iniciar a
tarefa. Confiemos na Bondade do Senhor. Em seguida a estas palavras que anotei
em 1927, a dama se afastou deixando meu quarto em pleno escuro. Chorei, sob emoção
para mim inexplicável, até o amanhecer do dia imediato. Não tinha mais o Padre
Scarzelli para consultar e notei que os meus novos companheiros não poderiam me
auxiliar, porque eu não sabia o que vinha a ser a expressão “gentes
peninsulares” ouvidas por mim, e, quanto a estas duas palavras, nenhum deles
conseguiu fornecer qualquer explicação (...) Duas semanas após a ocorrência,
estando eu nas preces da noite, apareceu-me um senhor vestido em roupa branca
que, por intuição, notei trata-se de um sacerdote. Saudei-o com muito respeito
e ele me respondeu com bondade, explicando-me: - Irmão Francisco, fui no século
XIV um dos confessores da Rainha Santa, D. Isabel de Aragão, que se fez esposa
do Rei de Portugal, D. Dinis. Ela desenvolveu elevadas iniciativas de
beneficência e instrução nos dois reinos que foram a Península conhecida na
Europa, e voltou ao Mundo Espiritual, em 4 de julho de 1336. Desde então, ela
protege todas as obras de caridade e educação na Espanha e Portugal. Foi ela
que o visitou, há alguns dias, nas preces da noite, e prometeu-lhe assistência.
Ela me recomenda dizer-lhe que não lhe faltarão recursos para a distribuição de
pães com os necessitados. Meu nome em 1336 era Fernão Mendes. Confiemos em
Jesus e trabalhemos na sementeira do Bem. Eu não tive garganta livre para
falar. O padre se retirou e, sentindo a premência do que desejava a nobre
senhora, que eu não sabia ter sido, na Terra, tão amada e ilustre rainha. NO
primeiro sábado que se seguiu às ocorrências que descrevo, fui com minha irmã
Luiza a uma ponte muito pobre, até hoje existente e reformada na cidade de
Pedro Leopoldo (MG), onde nasci, conduzindo um pequeno cesto com oito pães. Ali
estavam refugiados alguns indigentes. Parti os pães, a fim de que cada um
tivesse um pedaço, e assim foi iniciado nosso serviço de assistência”.
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