Eficiente antídoto contra o materialismo, o Espiritismo não
o é baseado na opinião de um líder ou indivíduo inflamado pela fé cega do seguidor
de qualquer escola religiosa. Fundamenta-se nos depoimentos e revelações de Espíritos
desencarnados convidados a se manifestar na SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, o laboratório onde, segundo Allan Kardec,
através de diferentes médiuns, se investigava a vida após a morte e o Mundo
Espiritual. Dois destes, estão reproduzidos na seção Palestras Familiares de Além-Túmulo, da REVISTA ESPÍRITA, edição de fevereiro de 1861. Motivou as manifestações
o pedido dos familiares do sr J.B.D. Homem instruído, mas até o
último ponto imbuído de ideias materialistas; não acreditava na alma nem em
Deus. Afogara-se voluntariamente dois anos antes. Respondeu a 17 perguntas
formuladas por Kardec, sendo sucedido no diálogo em mais 5 inquirições, por um
irmão também desencarnado e partidário das mesmas opiniões defendidas por ele. Dizendo-se
logo no início um sofredor, acrescenta estar sendo penoso aquele diálogo;
confirmando a seguir ter procurado a morte voluntariamente.
Confirmando isto, Kardec observa que o Espírito escreve com dificuldade, a letra
é grande, irregular, convulsa e quase ilegível, de início denotando cólera que
o leva a quebrar o lápis e rasgar o papel em que escrevia. Aconselhado
a se acalmar, foi questionado a seguir sobre o motivo que o levou a buscar se
auto-destruir, revelando que a razão foi o “tédio da vida sem esperança”.
Comentando a justificativa, Kardec diz: -“Compreende-se o suicídio quando a vida é sem
esperança: quer-se fugir à infelicidade a qualquer custo. Com o Espiritismo
o futuro se desenrola e a esperança se legitima: o suicídio, pois, não tem
objetivo; ainda mais, reconhece-se que, por tal meios, não se escapa a um mal
senão para cair num outro cem vezes pior. Eis porque o Espiritismo já tem
arrancado tantas vítimas à morte voluntária. Estarão errados? Serão sonhadores
os que nele buscam, antes de mais nada, o fim moral e filosófico? Muito
culpados são aqueles que, por sofismas científicos e no suposto nome da
razão, se esforçam por prestigiar esta ideia desesperada, fonte de tantos
males e crimes, de que tudo acaba com a vida. Serão responsáveis não só por
seus próprios erros, mas por todos os males de que tiverem sido causadores”.
Sobre se conseguira escapar às vicissitudes da vida e se era mais feliz agora,
deu a entender que não, porque o nada não existe; que sofria
por ser obrigado a crer em tudo aquilo que negava, sentindo-se como que num
braseiro, horrivelmente atormentado; que por ter sido mau em outra vida,
seu Espírito estava fadado a sofrer os tormentos da duvida durante a existência
que interrompera; sobre o que pensava ou refletia no momento em que se afogou,
disse que para ele era o nada, vendo depois que não tendo esgotado ainda sua
pena, ainda iria sofrer muito; que sentia-se agora terrivelmente atormentado
por estar bem convencido da existência de Deus, da alma e da vida futura; que não
revira nem sua esposa nem seu irmão já desencarnados por preferir se exilar na
desgraça, não vendo razão para se reunir nos tormentos, apenas na felicidade;
que não se sentiria feliz em chamar seu irmão para seu lado, por se
ver muito embaixo apesar de não o saber feliz também; pedindo que
seus parentes orassem um pouco por ele, deixando como recado aos que
partilhavam de suas opiniões: -“Possam eles acreditar numa outra vida!. É o
que lhes posso desejar para maior felicidade. Se pudessem compreender sua
triste posição iriam refletir bastante”. Das respostas oferecidas pelo
irmão evocado na continuidade, chama a atenção o fato de que não via o irmão por que “ele
foge de mim”; e solicitado a descrever mais exatamente seus sofrimentos
já que aparentava estar mais calmo, explicou: -“Na Terra, não sofrem o vosso amor
próprio, o vosso orgulho, quando sois obrigados a confessar o vosso erro? Vosso
Espírito não se revolta ao pensamento de vos humilhardes ante aquele que vos
demonstra que estais errados? Então!. Como pensais que sofra o Espírito que, em toda a sua
existência, ficou persuadido de que nada existe além de si mesmo e que tem
razão contra todos? Quando, de repente, ele se acha ante a deslumbrante verdade,
sente-se aniquilado e humilhado. A isto vem juntar-se o remorso de, por tanto tempo, ter
esquecido a existência de um Deus tão bom, tão indulgente. Seu estado é
insuportável; não encontra calma nem repouso; não achará um pouco de
tranquilidade senão no momento em que a graça santa, isto é, o amor de Deus o
tocar; porque de tal modo o orgulho se apodera do nosso pobre Espírito que o
envolve inteiramente; e ainda lhe é necessário muito tempo para se desfazer
dessa túnica fatal. Só a prece dos nossos irmãos nos ajuda a dela nos
desembaraçarmos”.
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