Buscando a confirmação da
existência do Espírito como condutor do corpo físico – que, por sinal, lhe é
revestimento -, como um operador à máquina sob seu comando, Allan
Kardec cercou essa constatação de diferentes formas. Uma das
experiências testadas na Sociedade Espírita de Paris, por
várias vezes, foi a da manifestação mediúnica entre pessoas encarnadas ou, como
preferem dizer alguns, vivas. Um dos principais objetivos era comprovar a
existência de uma estrutura além do corpo físico, sendo que a maioria dessas pesquisas ficaram registradas e
relatadas nas páginas da REVISTA
ESPÍRITA. Pioneiro nestas investigações, Kardec, todavia, não foi
o único, como mostrado em 1924, pelo estudioso Ernesto Bozzano numa das
suas riquíssimas compilações intitulada COMUNICAÇÕES
MEDIÚNICAS ENTRE VIVOS (edicel), em que reúne e comenta, entre outras, as incursões
de William
Barret, Julian Ochorowicz, Oliver Lodge, William Stead, Gustav Geley,
Frederic Mayers. Quanto a Kardec,
contou com a colaboração de sócios efetivos ou correspondentes da Sociedade,
que se inscreviam para os experimentos,
às vezes residentes a grandes distâncias, sob controle de entidades espirituais
que dirigiam os trabalhos mediúnicos daquele verdadeiro laboratório da realidade
invisível, prospectada através do instrumento chamado médium. Uma dessas
curiosas investigações deu-se na sessão de 3 de fevereiro de 1860 e encontra-se
relatada no número de março da REVISTA. Envolveu um
voluntário de nome Dr Vignal, médico, residente a mais de
cem quilômetros ao sul de Paris, na comuna de Sully, próxima a Orleans.
Confirmado com o dirigente espiritual dos trabalhos do grupo a inexistência de
perigo para o Dr Vignal e se ele estava preparado, procedida e efetivada a
evocação, mais de quatro dezenas de perguntas
sobre variados aspectos de interesse para a pesquisa foram respondidas,
oferecendo variados elementos para reflexão. Dentre estes, destacamos os
seguintes: 1 - Informou estar vendo os presentes
à reunião claramente, situando-se à direita e um pouco atrás do médium. 2
- Que
não tivera consciência do espaço transposto de Sully até o local em que se
encontrava nem vira o caminho percorrido. 3 - Que não experimentava cansaço.
4 – Que constatava sua
individualidade por meio do períspirito ou corpo espiritual, réplica de sua
estrutura física. 5 – Que este períspirito é uma espécie de corpo
circunscrito e limitado. 6- Que
não via seu corpo adormecido. 7 –
Que relação entre o corpo em Sully e o
perispiritual presente se fazia através do cordão fluídico. 8 – Que se via como a gente se vê em
sonho, que tinha consciência de que seu corpo de manifestação naquele momento é
organizado de modo diferente e mais leve que o de Sully, não sentindo o peso, a
força de atração que o prende à Terra quando desperto.. 9 – Que a luz não se lhe apresentava
com o mesmo tom que no estado normal, sendo esse tom acrescido de uma luz não
perceptível por nossos sentidos grosseiros, esclarecendo, contudo, que a sensação produzida pelas cores sobre o
nervo ótico não lhe era diferente: por exemplo, o vermelho era vermelho, e,
assim por diante. Apenas alguns objetos, acrescenta, não
vistos por ele na obscuridade em vigília, eram luminosos e perceptíveis para
ele, não existindo obscuridade para o Espírito, que pode estabelecer uma
diferença entre o que para o encarnado é claro e o que não é. 10 – Que o sentido da visão não era
indefinida, nem limitada, ao objeto em que fixava sua atenção, não sabendo o
que ela pode experimentar, como modificações, para um Espírito inteiramente
desprendido, sendo para ele possível observar objetos materiais no seu
interior, atravessados por sua vista, embora impossibilitado de ver por toda
parte e ao longe. 11- Que
não podia ver-se num espelho, por não ser material a menos que tornasse seu
períspirito tangível produzindo o fenômeno conhecido como agênere. 12 – Que no estado em que se
encontrava poderia fazer diagnósticos sobre doença e saúde com mais segurança. 13
– Que seu corpo não poderia morrer enquanto estava ali sem que ele
suspeitasse, pois, seria instantaneamente para ele atraído antes que um
hipotético golpe homicida lhe fosse desferido. 14 – Que se seu Espírito
estivesse em casa passeando enquanto o corpo dormia, veria tudo que lá se
passasse inclusive testemunhando uma eventual ação má de algum parente ou
estranho, embora nem sempre livre para se opor, salientando que isso ocorre com
mais frequência do que se pensa. Comentando essa resposta, Kardec
diz que “a pessoa que dorme sabe perfeitamente o que se passa a seu redor,
podendo guardar uma intuição muito forte do que vê, por vezes, inspirando
preocupações”. A entrevista prossegue, revelando outros instigantes
aspectos ignorados pelos que desconhecem o excelente material resultante das
prospecções conduzidas pelo Codificador do Espiritismo.
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