O avião modelo Sertanejo,
apesar do tempo chuvoso daquele seis de janeiro de 1979, levantou voo em Amambai,
Mato Grosso do Sul, com destino à cidade de Franca, interior de São
Paulo, conduzindo seis passageiros, todos de uma mesma família, tendo em vista
a viagem de férias prevista para dai a dois dias, rumo aos Estados Unidos da América do
Norte. Era pilotado por José Roberto Alves Pereira,
proprietário da aeronave e chefe da família que com ele viajava, composta por sua esposa, os três filhos
e sua própria mãe. Na verdade, sua primeira experiência solo, ou seja, sem a
presença do Instrutor, visto que se brevetara - como se diz no meio
aeronáutico – apenas 48 dias antes. Nas imediações do espaço
aéreo da localidade Nova Andradina, ainda no
Estado de origem, a aeronave acabaria por se precipitar ao solo, gerando um
acidente do qual nenhum dos tripulantes sobreviveu. Confirmavam-se
assim, os maus presságios de sua única irmã, ao ouvi-lo dizer ao telefone, que
voaria sem supervisão de outro piloto, bem como do tio, impaciente e ansioso,
pelo mesmo motivo. Embora nascido 39 anos antes no município de Pedregulho,
São Paulo, José Roberto era fazendeiro conhecido na região de Franca,
destacando-se também por ações no campo da assistência social em nome
do Catolicismo, do qual era dedicado seguidor. O impacto da notícia sobre os que os conheciam foi violento, mas, especialmente para os
familiares remanescentes. Sua irmã e o cunhado, porém, haviam se ligado anos
antes ao Espiritismo e, quatorze dias depois, encontravam-se entre as dezenas
de pessoas presentes à reunião pública do dia 20 de janeiro, nas dependências
do Grupo
Espírita da Prece, em Uberaba, Minas Gerais. A viagem não
foi em vão, pois, o Espírito da sogra de José Roberto, segundo disse,
atendendo pedido do marido também desencarnado, escreve mediúnicamente rápido
bilhete, dando informações sobre os recém-transferidos ao Mundo Espiritual,
confortando e orientando os familiares que permanecem em nossa Dimensão. Apesar
disso, o tempo se arrastaria vagarosamente, como normalmente acontece para os
que experimentam a dor de tão violenta separação, até que pouco mais de dezoito
meses depois, em outra reunião publica, no dia 4 de julho de 1980, em meio às seis
cartas psicografadas por Chico naquela noite, o próprio José
Roberto se fez presente, oferecendo à irmã e ao cunhado, não só a prova
de que continuava vivo em outro Plano existencial, mas também, maiores detalhes
sobre a fatalidade da derradeira viagem. Revivendo o triste fato, comenta: -“Tudo,
foi questão de segundos. Observava a hesitação do motor, mas na impossibilidade
de qualquer retificação, entreguei-me à força que interpretamos como sendo a
Vontade de Deus (...). Creiam que não houve tempo que se despendesse em
lamentações (...). O grande pássaro de metal caiu arremessando-nos a todos de
uma vez na liberação compulsória da experiência física. Concentrei todas as
minhas reservas de energia mental para não dormir ou desmaiar, entretanto,
semelhante esforço não me valeu por ensejo de observação mais minucioso do
fenômeno que nos arrasava a família. Numa fração de tempo que não pude precisar
e nem posso ainda precisar, vi-me fora do corpo, à maneira de noz quando salta
do involucro natural que a retém e, conquanto cambaleasse de espanto e
sofrimento, reconheci que não estávamos a sós”... Confirmando a
revelação espírita na resposta à questão 160 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS e a de várias cartas psicografadas por Chico
Xavier de que “acontecimentos imprevisíveis na Terra
acham-se marcados para acontecer no Plano Espiritual”, o senhor José
Roberto acrescenta: -“conquanto cambaleasse de
espanto e sofrimento, reconheci que não estávamos sós. A mamãe Antonieta e a
Lucy estavam amparadas por senhoras amigas, e o Robertinho, a Luciana e
Waldomiro Neto se achavam sob a assistência de enfermeiros diligentes. Quis
conhecer os benfeitores que nos estendiam socorro, mas, como se a certeza de
que não nos achávamos abandonados me rematasse as resistências, entrei, por
minha vez, num torpor de que não consigo atualizar a duração. Mais tarde, ainda
ignoro depois de quantos dias, despertei numa instituição que a princípio me
forneceu a ilusão de que havíamos sido salvos do acidente doloroso, mas não se
passou muito tempo, para que me visse esclarecido. Havíamos deixado a moradia
física, de uma vez. Embora me sentisse quase quebrado pelas consequências da
queda, era obrigado a reconhecer que me via num corpo em tudo semelhante àquele
que me havia servido. Seria inútil qualquer tentame de meu lado para
descrever-lhes a mudança que me convulsionava a cabeça. Entretanto, era preciso
resignar-me aos acontecimentos e, mais uma vez a ideia religiosa foi a escora
que me imunizou contra a desequilíbrio total. Pouco a pouco, revi todos os
nossos”...
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