Reproduzindo o pensamento dos
Espíritos que com ele trabalhavam, Chico Xavier disse certa vez que “morrer
é apenas mudar de Plano Existencial como alguém que se transferisse de uma
cidade para outra”. Apesar do incontestável fato de que todos morrerão
um dia, e, o extraordinário volume de documentos por ele gerados - especialmente
nas últimas três décadas - através da sua mediunidade, a maioria das pessoas
prefere ignorar o tema. Optam por sucumbir aos apelos do materialismo alienante,
da frenética perseguição de metas e valores dos quais, a qualquer momento terão
de se afastar motivado por um acidente, por um colapso em área vital do corpo
físico, por uma doença qualquer. E, apesar da naturalidade do processo de
mudança, do Espiritismo disponibilizar milhares de convincentes depoimentos de
quem passou pela experiência, a verdade é que o que vai fazer a diferença é a
forma como se viveu na Dimensão em que nos encontramos. Na obra NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, o Espírito
André Luiz reproduz ponderação do Instrutor Áulus em que afirma que “-Trazemos conosco os sinais de
nossos pensamentos, de nossas atividades e de nossas obras, e o túmulo nada
mais faz que o banho revelador das imagens que escondemos no mundo, sob as
vestes da carne”. Comparações
entre depoimentos expostos por Allan Kardec na segunda parte d’ O CÉU E O INFERNO ou A JUSTIÇA DIVINA
SEGUNDO O ESPIRITISMO, os obtidos através de Chico Xavier, mostram que
a época não faz diferença. A situação do pós-morte, é, portanto, absolutamente
pessoal, refletindo a realidade essencial, íntima, do individuo. No número de dezembro de 1860, da REVISTA ESPÍRITA, encontramos
interessante caso incluído pelo editor. Trata-se
de três comunicações de uma mulher de nome Clara, conhecida em vida da médium
Sra Costel,
revelando atroz sofrimento, justificado pela conduta e caráter sustentado
enquanto encarnada. Era, segundo avaliação, dominada por um extremo egoísmo e personalismo, refletido, por
sinal, na última comunicação por querer que a médium se ocupasse somente com
ela. Na primeira mensagem, tentando explicar sua situação, sugere: -“Procura
compreender o que é um dia que jamais acaba. É um dia, um ano, um século? Que
serei eu? As horas não se marcam; as estações não variam; eterno e lento como a
água que brota do rochedo, esse dia execrado, esse dia maldito pesa sobre mim
como um estojo de chumbo... Sofro!... Nada vejo em volta de mim, senão sobras
silenciosas e indiferentes... Sofro!”... Na segunda: -“Minha desgraça cresce dia a
dia; cresce à medida que o conhecimento da Eternidade se desenvolve em mim. Ó
miséria! Quanto vos maldigo, horas culpadas, horas de egoísmo e de esquecimento
em que, desconhecendo toda caridade, todo devotamento, eu só pensava no meu bem
estar!”, sugerindo mais à frente: -“Que direi a ti, que me escutas? Vigia
incessantemente sobre ti; amas aos outros mais que a ti mesma; não te demores
nos caminhos do Bem estar; não engordes o teu corpo à custa de tua alma. Vigia,
como dizia o Salvador a seus discípulos. Não me agradeças estes conselhos: meu
Espírito os concebe, mas meu coração jamais os ouviu”. Na terceira: -“Venho
procurar-te aqui, já que me esqueces. Crês que preces isoladas e o meu nome
pronunciado bastarão para acalmar o meu sofrimento? (...) Eu quero, entende, eu
quero que, deixando tuas dissertações filosóficas, te ocupes de mim; que os
outros também se ocupem”. Solicitado a opinar, um guia espiritual da
Sociedade Espírita de Paris disse: -“Esse quadro é verdadeiro, não estando,
absolutamente exagerado. Talvez perguntem o que fez essa mulher para estar tão
mal. Cometeu algum crime terrível? Roubou? Assassinou? Não. Nada fez que
tivesse merecido a justiça dos homens. Ao contrário, divertia-se com aquilo a
que chamai a felicidade terrena: beleza, fortuna, prazeres, adulação, tudo lhe
sorria, nada lhe faltava e, vendo-a, assim, diziam: Que mulher feliz!.
Invejavam sua sorte. Que fez ela? Foi egoísta; tinha tudo, menos um bom
coração. Se não violou a lei dos homens, violou a Lei de Deus, porque
desconheceu a caridade, a primeira das virtudes. Só amou a si mesma. Agora
ninguém a ama. Não deu nada; nada lhe dão. Está isolada, cansada, abandonada,
perdida no espaço, onde ninguém pensa nela, ninguém se ocupa com ela. Isso é o
seu suplício. Como só buscou os prazeres mundanos que hoje não mais existem,
fez-se o vazio em seu redor. Só vê o nada e o nada lhe parece a Eternidade. Não
sofre torturas físicas; os diabos não vem atormentá-la, mas isto não é
necessário. Ela própria se atormenta, sofre demasiado por que esses diabos
seriam ainda seres que pensavam nela. O egoísmo constitui sua alegria na Terra;
perseguiu-a. Agora é o verme que lhe rói o coração; é o seu verdadeiro demônio.
Ah! Se os homens soubessem quanto lhes custa ser egoístas!. Entretanto, Deus vô-lo
ensina todos os dias, pois vos envia tantos Espíritos egoístas à Terra para
que, desde esta vida, eles se castiguem uns aos outros e melhor compreendam,
pelo contraste, que a caridade é o único contra-veneno dessa lepra da
Humanidade”.
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