“Se um homem cometeu um crime, e se o
tiver consumado seduzido pelos conselhos perigosos de um homem que sobre aquele
exerce muita influência, a Justiça humana saberá reconhece-lo, concedendo-lhe o
benefício das circunstâncias atenuantes; irá mais longe: punirá o homem
cujos conselhos perniciosos provocaram o crime, e, mesmo sem ter contribuído de
outra maneira, este homem será mais severamente punido do que o que foi o
instrumento, porque foi seu pensamento que concebeu o crime, e sua influência
sobre um Ser fraco, que o fez executar. Se é o que fazem os homens neste caso,
diminuindo a responsabilidade do criminoso, e a partilhando com o infame que o
impeliu a cometer o crime, como queríeis que Deus, que é a mesma justiça, não fizesse
o mesmo, desde que vossa razão vos diz que é justo agir assim?”. A comparação foi utilizada pelo Espírito Louis
Nivard em mensagem psicografada em reunião da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e reproduzida na edição
de setembro
de 1867, da REVISTA ESPÍRITA.
Na verdade, procurava esclarecer ao filho – por sinal o médium de que se serviu
-, sobre a responsabilidade assumida por aquele que age sob a influência de
Espíritos desencarnados. Nivard explica: -“Assisto a todas as tuas
conversas mentais, mas sem as dirigir; teus pensamentos são emitidos em minha
presença, mas eu não os provoco. É o pressentimento dos casos, que tem alguma
chance de se apresentar, que faz surgir em ti os pensamentos adequados à
resolução das dificuldades que poderiam suscitar. Aí está o livre arbítrio; é o
exercício do Espírito encarnado, tentando resolver problemas que cria em si
mesmo. Efetivamente, se os homens só tivessem as ideias que os Espíritos lhes
inspiram, teriam pouca responsabilidade e pouco mérito; só teriam a
responsabilidade de haver escutado maus conselhos, ou o mérito de haver seguido
os bons. Ora, esta responsabilidade e este mérito evidentemente seriam menores
do que se fossem o inteiro resultado do livre-arbítrio, isto é, de atos
realizados na plenitude do exercício das faculdades do Espírito que, neste
caso, age sem qualquer solicitação. Resulta do que digo que muitas vezes o
homem tem pensamentos que lhes são essencialmente próprios, e que os cálculos a
que se entregam, os raciocínios que fazem, as conclusões a que chegam são o
resultado do exercício intelectual, ao mesmo título que o trabalho manual é o
resultado do exercício corporal. Daí não se deveria concluir que o homem não
seja assistido em seus pensamentos e em seus atos pelos Espíritos que os
cercam; muito ao contrário: os Espíritos, sejam bons ou maus, são sempre a
causa provocadora dos vossos atos e pensamentos. Mas ignorais completamente em
que circunstâncias se produz essa influência, de sorte que, agindo, julgais
fazê-lo em virtude do vosso próprio movimento: vosso livre arbítrio fica
intacto; não há diferença entre os atos que realizais sem serdes a eles
impelidos, e os que realizais sob a influência dos Espíritos, senão no grau do
mérito ou da responsabilidade. Num e noutro caso, a responsabilidade e o mérito
existem, mas, repito, não existem no mesmo grau(...). Tentando
simplificar ainda mais, Nivard acrescenta: -“Assim,
pois, quando te acontece refletir e passear tuas ideias de um a outro assunto;
quando discutes mentalmente sobre os fatos que prevês ou que já se realizaram;
quando tu analisas, quando raciocinas, quando julgas, não crês que sejam Espíritos que te ditam teus pensamentos ou
que te dirigem; eles lá estão, perto de ti, e te escutam; vem com prazer esse
exercício intelectual, ao qual te entregas; seu prazer é duplo, quando percebem
que tuas conclusões são conforme à verdade. Por vezes lhes acontece,
evidentemente, que se misturem nesse exercício quer para facilitá-lo, quer para
dar ao Espírito alguns elementos, ou lhe criar certas dificuldades, a fim de
tornar essa ginástica intelectual mais proveitosa a quem a pratica. Mas, em
geral, o homem que busca, quando entregue às suas reflexões, quase sempre age
só, sob o olhar vigilante de seu Espírito Protetor, que intervém se o caso for
bastante grave para tornar necessária sua influência”.
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