Admitindo-se
como verdadeira a visão proposta pelo Espiritismo sobre a continuidade da vida,
dizendo-a mera continuação desta que desfrutamos, falando sobre tratamentos
hospitalares; sobre organizações beneméritas ou criminosas; sobre regiões de
confinamento e sofrimento; como encarar, por exemplo, a questão da alimentação,
das dependências químicas, a que os indivíduos se prendem no tempo de
permanência no corpo chamado físico? Se sentimos fome ou necessidade da
satisfação das transtornantes sensações dos vícios, como as suprimos? Allan
Kardec, em manifestação ocorrida na Sociedade Espírita de Paris,
ouvira depoimento emocionado do Espírito do padre Bizet, morto aos 47 anos,
em virtude de incansável atuação durante epidemia de cólera agravada pela fome
na região de Sétif, Bélgica, e, que, descrevendo seus
primeiros momentos no despertar no Plano Espiritual, diz ter tido
sob os olhos o atroz espetáculo da fome entre os Espíritos. Mortos nas torturas
da fome, ainda procurando em vão satisfazer uma necessidade imaginária, lutando
uns contra os outros para arrancar um pedaço de comida que se esconde nas mãos,
se entre rasgando e, se assim posso dizer, se entredevorando; uma cena
horrível, pavorosa, ultrapassando tudo quanto a imaginação humana pode conceber”.
Indagado sobre a situação após a morte física das pessoas que não foram
más e que também não se interessaram pelo conhecimento das coisas espirituais
durante a vida física, Chico Xavier respondeu que “oitenta
por cento das criaturas que desencarnam, voltam-se para a retaguarda sem
condições de ascenderem aos planos elevados. Apenas vinte por cento gravitam
para os Planos mais altos. A maioria delas, portanto, fica vinculada aos
familiares e amigos”. Isso nos faz lembrar cena descrita pelo Espírito André
Luiz em seu livro MISSIONÁRIOS
DA LUZ (1945, feb), psicografado pelo médium mineiro, na qual, acompanhando
o Instrutor Alexandre, visitam a casa de uma viúva, localizada em rua modesta
e, que embora relativamente confortável, parecia habitada por muitas entidades
de condição inferior, o que observou sem dificuldade, pelo movimento de
entradas e saídas, antes mesmo da penetração deles no ambiente doméstico, o que
aconteceu sem que os desencarnados infelizes identificassem a presença dos
visitantes, em virtude do baixo padrão vibratório que lhes caracterizava as
percepções. Relata André Luiz que a família, constituída
da viúva,
três filhos e um casal de velhos, permanecia à mesa de refeições, no almoço
muito simples, observando um fato até então inédito para ele: seis entidades
envolvidas em círculos escuros acompanhavam-nos ao repasto, como se estivessem tomando
alimentos por absorção. Aturdido, questionando o Instrutor, ouve
dele que os quadros de viciação mental e
sofrimento nos lares sem equilíbrio religioso, são muito grandes. Onde não existe
organização espiritual, não há defesas da paz de espírito, o que é intuitivo para
todos os que estimem o pensamento reto. Acrescenta que “os
que desencarnam em condições de excessivo apego aos que deixaram na Crosta,
neles encontrando as mesmas algemas, quase sempre se mantêm ligados à casa, às
situações domésticas e aos fluidos vitais da família. Alimentam-se com a
parentela e dormem nos mesmos aposentos onde se desligaram do corpo físico”.
A propósito da satisfação das entidades ali congregadas, absorvendo
gostosamente as emanações dos pratos fumegantes, ouviu de Alexandre a contra
pergunta: - Tanta admiração somente por vê-los tomando alimentos pelas narinas? E
nós outros? Desconhece você, porventura, que o próprio homem encarnado
recebe mais de setenta por cento da alimentação comum através dos princípios
atmosféricos, captados pelos condutos respiratórios? Você não ignora também
que as substâncias cozidas ao fogo sofrem profunda desintegração. Ora, nossos
irmãos, viciados nas sensações fisiológicas, encontram nos elementos
desintegrados o mesmo sabor que experimentavam quando em uso no envoltório
carnal. Opinando considerar desagradável tomar refeições na companhia
de desconhecidos, mormente da espécie ali observada, o Benfeitor esclareceu “não
se tratar de gente anônima, mas sim familiares diversos, que os próprios
encarnados retêm com suas pesadas vibrações de apego doentio. Admitindo-se
a hipótese que a mesa doméstica estivesse rodeada de entidades indignas,
estranhas aos laços consanguíneos, resta a certeza de que obedecem às
tendências que lhes são características e à circunstância de que cada Espírito
tem as companhias que prefere”. Pondera que “a mesa familiar é sempre um
receptáculo de influencias de natureza invisível. Valendo-se dela, medite o
homem no Bem, e os trabalhadores espirituais, nas vizinhanças do pensador,
virão partilhar-lhe o serviço no campo abençoado dos bons pensamentos (...).
Entretanto, pelos mesmos dispositivos da Lei da Afinidade, a maledicência
atrairá os caluniadores invisíveis e a ironia buscará, sem dúvida, as entidades
galhofeiras e sarcásticas, que inspirarão o anedotário menos digno, deixando
margem vastíssima à leviandade e à perturbação (...). É o vampirismo recíproco”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário