Objetivo final da
caminhada do Ser, a evolução espiritual é um processo lento e difícil. Tanto
maior quanto, em suas reencarnações, mais próximo está o Espírito das faixas
primárias. E, voltar ao corpo sucessivas vezes é ideia abominada pela
maioria, ignorante quanto a sua finalidade. O próprio Allan Kardec confessa que
diante das revelações apresentadas pelos Espíritos sobre a reencarnação,
preferiu ser cauteloso. Escreveu ele: -“Foi assim que procedemos com a doutrina da
reencarnação, que não adotamos, embora vinda dos Espíritos, senão depois de
havermos reconhecido que ela só e só ela, podia resolver aquilo que nenhuma
filosofia jamais havia resolvido”. Durante muitas das experiências no
corpo físico, prevalecem os instintos, reflexos que nos fazem buscar saciar
predominantemente as necessidades de sensações nos campos do estomago e do
sexo. A consciência de si mesmo é fruto de inúmeras passagens pelo chamado
Plano Material, estágio estimado por Kardec “talvez só após a
centésima ou milésima encarnação”, analogamente ao que “ se dá com a criança, que
não goza da plenitude de suas faculdades nem um, nem dois dias após o
nascimento, mas depois de anos”. Quando fixados valores mais significativos no
âmbito dessa consciência, passa a individualidade a interferir na formatação das
existências futuras. Exemplo disso nos é oferecido por matéria incluída na
pauta da REVISTA ESPÍRITA de julho
de 1863, sob o título Uma Expiação Terrestre. Refere-se à morte em 1850, numa aldeia da Baviera – hoje, um dos Estados da Alemanha -,
de um velho quase centenário, conhecido como Pai Max. Ninguém sabia, ao
certo, sua origem, pois não tinha família. Durante mais de meio século, abatido
por enfermidades que o impossibilitavam de ganhar a vida pelo trabalho, não
tinha outro recurso senão a caridade pública, que dissimulava indo vender em
fazendas e castelos, almanaques e pequenos objetos. Tinham-lhe dado o apelido
de Conde Max e as crianças o chamavam Senhor Conde, com o que
sorria sem se formalizar. Por que tal título? Ninguém saberia dizer: já era
hábito. Talvez pela sua fisionomia e maneiras, cuja distinção contrastava com
seus trapos. Vários anos após sua morte, apareceu em sonho à filha do dono de
um dos Castelos, onde era hospedado na cavalariça, pois não tinha domicílio. E
lhe disse: -“Obrigado por terdes lembrado do pobre Max em sua preces, pois foram
ouvidas pelo Senhor. Desejais saber quem sou eu, alma caridosa que vos
interessastes pelo infeliz mendigo? Vou satisfazer-vos. Será para todos uma
grande instrução”. E contou: “-Um século e meio antes era um rico e
poderoso senhor desta região, mas vão, orgulhoso e enfatuado de minha nobreza.
Minha imensa fortuna jamais serviu senão para os meus prazeres, e apenas
bastava, porque era jogador, debochado e passava a vida em orgias. Meus
vassalos, que julgava criados para meu uso como animais de fazenda, eram
oprimidos e maltratados para contribuir para as minhas prodigalidades. Ficava
surdo às suas lamentações, como às de
todos os infelizes e, em minha opinião, deviam sentir-se honrados de servir
aos meus caprichos. Morri em idade pouco avançada, esgotado pelos excessos, mas
sem haver experimentado nenhuma verdadeira desgraça”. Segue recordando que objeto de funerais suntuosos, apesar dos lamentos dos vivedores como ele,
nem uma lágrima caiu em sua sepultura, nem uma prece de coração subiu a Deus
por ele e sua memória, amaldiçoada por todos aqueles cuja miséria havia
agravado. O tempo calculado em vários anos, impôs-lhe padecimentos atrozes,
vendo-se à frente de suas ameaçadoras vítimas quando da morte de cada uma delas.
Os que se lhe diziam amigos, fugiam, parecendo dizer com desdém: - Não
podes mais pagar nossos prazeres. Fatigado, sem ver termo a sua rota, exclamou: Meu
Deus tende piedade de mim!”. Então, uma voz, a primeira que ouvia desde que
deixou a Terra, lhe disse que seu sofrimento se interromperia quando se
arrependesse e humilhasse diante daqueles que humilhou, pedindo que
intercedessem por ele, porque a prece do que perdoa é sempre agradável a Deus.
Efetivamente, suas ações fizeram com que os rostos de suas vítimas fossem
desaparecendo um a um. Alguns anos depois, nasceu de novo, mas desta vez em
família de pobres camponeses. Órfão criança, ficou só, sem apoio, ganhando a
vida como pode, ora como trabalhador, ora como criado, sempre honestamente. Aos
quarenta anos, uma doença o tornou entrevado de todos os membros e teve de mendigar
por mais de cinquenta anos nas mesmas terras das quais tinha sido
senhor absoluto; que receber um pedaço de pão nas fazendas que tinham sido suas
e onde, por amarga ironia, o tinham apelidado Senhor Conde, sentindo-se
feliz com um abrigo nas cavalariças do castelo que fora seu, sonhando muitas
vezes, percorrendo o castelo, o meio e sua antiga fortuna, visões que lhe
deixavam ao despertar, indefinível sentimento de amargura e pes
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