O Journal Littéraire de 25
de setembro de 1864, publicou um artigo biográfico de Pierre Dangeau sobre o
escritor francês Joseph Méry destacando suas convicções, para muitos apenas
teorias. Méry, nascido em Marselha, viveu 68 anos, foi dramaturgo,
libretista, jornalista político, autor de ficção e ensaios, conhecido por sua sagacidade e habilidade de improvisar, e, embora tenha
escrito um grande número de histórias, hoje está praticamente esquecido, a não
ser por contribuições com libretos transformados em ópera por Giuseppe
Verdi, e, em três obras de Offenbach,
seu amigo pessoal. Entre outras coisas, escreve Dangeu: -“Ele crê
firmemente que viveu várias vezes; lembra-se das menores circunstâncias de suas
existências precedentes e as detalha com uma nota de certeza, que impõe como
uma autoridade. Assim, foi uma dos amigos de Virgílio e de Horácio,
conheceu Augustus Germanicus e fez a guerra nas Gálias e na Germânia.
Era general e comandava as linhas romanas quando estas atravessaram o Reno.
Conhecia nas montanhas lugares onde havia acampado, nos vales, campos de
batalha onde combateu. Lembra-se das palestras em casa de Mecenas, que são o
eterno objeto de seus pesares. Chamava-se Mínius. Um dia, na vida atual,
estava em Roma e visitava a biblioteca do Vaticano. Ali foi recebido por gente
moa, noviços em longas vestes escuras, que se puseram a lhe falar em latim mais
puro. Méry era bom latinista, no que se refere à teoria e às coisas escritas,
mas ainda não havia experimentado conversar familiarmente na língua de Juvenal.
Ouvindo esses romanos de hoje, admirando esse magnífico idioma, tão harmonizado
com aqueles monumentos, com os costumes da época em que era usado, pareceu-lhe
que um véu caia de seus olhos; pareceu-lhe que ele próprio havia conversado, em
outros tempos, com amigos que se serviam dessa linguagem divina. Frases feitas
e impecáveis saiam-lhe da boca; achava imediatamente a linguagem e a correção;
enfim, falou latim como fala francês; teve em latim o espírito que tem em
francês. Nada disso podia fazer-se sem um aprendizado e, se não tivesse sido um
súdito de Augusto, se não tivesse atravessado aquele século de todos os
esplendores, não teria improvisado um conhecimento, impossível de adquirir em
poucas horas. Outra passagem sua na Terra foi nas Índias, por isso as conhece
tão bem. Por isso, quando publicou a GUERRE DU NIZAN, nenhum de seus
leitores terá duvidado que não tivesse morado muito tempo na Ásia. Suas
descrições são vivas, seus quadros são originais, toca com o dedo os mínimos
detalhes e é impossível não tenha visto o que conta, pois lá está o cunho da verdade.
Pretende ter entrado naquele país com uma expedição muçulmana em 1035. Lá viveu
cinquenta anos, passou belos dias e se fixou para não mais sair. Ainda era
poeta, mas menos letrado do que em Roma e em Paris. Inicialmente guerreiro,
depois sonhador, guardou na alma as imagens empolgantes das margens do Rio
Sagrado e dos ritos indús. Tinha várias moradas, na cidade e no campo, orou nos
templos dos elefantes, conheceu a Civilização avançada de Java, viu de pé as
esplendidas ruínas que assinala e ainda tão pouco conhecidas”. O artigo segue
enaltecendo outros aspectos da personalidade de Méry. No número de
novembro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec aproveita a abordagem para destacar alguns
aspectos revelados pela Espiritualidade n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS a propósito do
restabelecimento da questão existencial
com a reencarnação, linha interrompida
treze séculos antes por deliberações do II Concílio de Constantinopla,
distanciando inúmeras gerações nascidas no chamado Ocidente do mecanismo da
lógica evolucionista. Da análise de Kardec, podemos citar: 1- Se Méry já viveu, não deve
ser exceção, porque as Leis da Natureza são as mesmas para todos e, assim,
todos os homens também devem ter vivido; se se viveu, não é certamente pelo
corpo que se renasce; é, pois, o princípio inteligente, a alma, o Espírito. 2- Desde que Méry conservou a
lembrança de várias existências, desde que os lugares lhe recordam o que viu
outrora, com a morte do corpo a alma não se perde do todo Universal,
conservando, pois, sua individualidade, o conhecimento do seu “EU”.
3-
Lembrando-se Méry do que foi há dois mil anos, em que se tornou sua alma no
intervalo? (...). Deve ter ficado na esfera da atividade terrestre, vivendo a
Vida Espiritual, em nosso meio ou no espaço que nos rodeia, até tomar um novo
corpo. Não sendo Méry único no mundo, deve haver em torno de nós uma população
inteligente invisível. 4- Nada do
que adquirimos em inteligência, em saber e em moralidade fica perdido; quer
morramos jovens ou velhos, quer tenhamos ou não tempo de o aproveitar na
existência presente, colheremos seus frutos em existências subsequentes. 5- A medida que o Espírito se depura,
os laços materiais são menos tenazes, o véu que obscurece o passado é menos
opaco, seguindo assim a faculdade da lembrança retrospectiva o desenvolvimento
do Espírito.
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