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sábado, 9 de agosto de 2014

O ESPIRITISMO, O SOBRENATURAL E OS MILAGRES

A interpretação de muitas pessoas – inclusive religiões e seitas - sobre fatos inabituais na realidade em que vivemos ainda é que se trata de milagres, pertencentes ao campo do sobrenatural. Os fenômenos que deram origem ao Espiritismo não poderiam escapar a essa rotulagem. A Doutrina Espírita, contudo, veio para explicar e desmistificar essa classificação, fruto do desconhecimento ou mesmo da ausência de interesse em análises e investigações mais profundas.  A propósito da questão, Allan Kardec emitiu sua opinião no número de janeiro de 1862 da REVISTA ESPÍRITA, analisando artigo incluído na edição anterior de sua publicação, assinada por um intelectual de nome Guizot. Entre outras ponderações, escreveu ele: -“ Sobre este, com sobre outros pontos de vista, importa nos entendamos quanto à palavras. Em sua acepção própria, sobrenatural significa o que está acima da natureza, fora das leis da natureza. O sobrenatural, propriamente dito, não estaria submetido a leis; é uma exceção, uma derrogação das leis que regem a Criação. Numa palavra, é sinônimo de milagre. No sentido próprio esses dois vocábulos passaram à linguagem figurada, servindo para designar tudo quanto seja extraordinário, surpreendente, insólito. De uma coisa que causa admiração diz-se que é miraculosa, como se diz que uma grande extensão é incomensurável, de um grande número que é incalculável ou de uma longa duração que é eterna, muito embora, a rigor, possam ser medidas, calculadas e previsto um termo à última. Pela mesma razão qualifica-se de sobrenatural aquilo que, à primeira vista, parece sair dos limites do possível. O vulgo é sempre levado a tomar o vocábulo ao pé da letra na quilo que não compreende. Se por tal se entende tudo quanto se afaste das causas conhecidas, está bem.; mas então o vocábulo não tem mais sentido preciso, porque aquilo que era sobrenatural ontem já não o é hoje. Quantas coisas, outrora como tal consideradas, não fez a ciência entrar no domínio das leis naturais! Apesar dos progressos que temos feito, podemos vangloriar-nos de conhecer todos os segredos de Deus? Já nos disse a natureza a última palavra sobre todas as coisas? Não temos desmentidos diários  a essa pretensão? Se, pois, aquilo que ontem era sobrenatural hoje não o é, podemos inferir que o sobrenatural de hoje deixará de sê-lo amanhã. Para nós, tomamos o vocábulo sobrenatural no seu mais absoluto sentido próprio, isto é, para designar todo fenômeno contrário às leis da natureza. O caráter do fato natural ou miraculoso é de seu excepcional. Desde que se repete é porque está submetido a uma lei, conhecida ou não, e entra na ordem geral. Se restringirmos a natureza ao mundo material visível é evidente que as coisas do Mundo Invisível serão sobrenaturais. Mas estando, também, o Mundo Invisível submetido a leis, parece-nos mais lógico definir a natureza como “o conjunto das obras da Criação, regidas pelas leis imutáveis da Divindade”. Se, como o demonstra o Espiritismo, o Mundo Invisível é uma das forças, um dos poderes reagentes sobre a matéria, representa um papel importante na natureza. Por esta razão os fenômenos espíritas para nós nem são sobrenaturais, nem maravilhosos ou miraculosos. De onde se vê que, longe de ser ampliado o círculo do maravilhoso, o Espiritismo tende a restringi-lo e fazê-lo desaparecer(...). O Sr. Guizot parte do princípio de que todas as religiões se fundam no sobrenatural. Isto é certo se entendermos como tal aquilo que se não compreende. Se, porém, remontarmos ao estado dos conhecimentos humanos na época da fundação de cada religião conhecida, veremos quão limitado era o saber humano em astronomia, física, química, geologia, fisiologia, etc. Se, nos tempos modernos, um bom número de fenômenos já perfeitamente conhecidos e explicados passavam por maravilhosos, com mais forte razão assim deveria ser em tempos remotos. Acrescentemos que a linguagem figurada, simbólica e alegórica, em uso entre os povos do Oriente, naturalmente se prestava às ficções, cujo verdadeiro sentido a ignorância não era capaz de descobrir. Acrescentemos ainda, que os fundadores das religiões, homens superiores à craveira comum, conhecendo muito mais, tiveram que impressionar as massas, cercando-se de um prestigio sobre humano, enquanto certos ambiciosos puderam explorar a credulidade (...). Dirão que a religião se apoia sobre muitos outros fatos que nem são explicados, nem explicáveis. Inexplicados, sim, inexplicáveis, é outra questão. Sabemos que descobertas e que conhecimentos estão reservados ao futuro? (...). O ceticismo de muita gente não tem outra fonte senão a impossibilidade, para eles, de tais fatos excepcionais. Negando a base sobre que se apoiam, negam tudo o mais. Prove-se-lhes a possibilidade e a realidade de tais fatos, reproduzam-nos aos seus olhos – e serão forçados a acreditar”.


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