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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A FATALIDADE E OS PRESSENTIMENTOS

No número de março de 1858 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui interessante matéria elaborada a partir da carta de um correspondente sobrevivente a naufrágio de que foi vitima ao ser surpreendido com mais sete tripulantes por temporal que, durante a noite, virou o barco em que navegavam causando a morte de quatro deles, enquanto ele e mais três se salvaram mantendo-se sobre a quilha da embarcação até o raiar do dia. O vento empurrou então o barco para a costa, possibilitando ganhar a terra a nado. Indaga porque, nesse perigo, igual para todos, apenas quatro sucumbiram, destacando que, no caso dele, era a sexta ou sétima vez que escapava de risco iminente, mais ou menos nas mesmas condições? Kardec explica ter formulado oito perguntas a São Luiz, o dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Espírita de Paris, esclarecendo em breve nota complementar ater-se apenas à fatalidade dos acontecimentos materiais, visto a fatalidade moral ter sido tratada de maneira completa n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Vamos às perguntas e respectivas respostas: 1- Um perigo iminente que ameaça alguém é dirigido por um Espírito e a não consumação do mesmo dever-se-ia à ação de outro? Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a, cria-se uma espécie de destino que não pode evitar, desde que se submeteu. Falo das provas físicas. Conservando seu livre arbítrio sobre o Bem e o mal, o Espírito é sempre livre de suportar ou repelir a prova. Vendo-o fraquejar, um bom Espírito pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe e exagerando o perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave. 2- Na iminência de um acidente, o livre arbítrio parece nada valer para a potencial vítima. Poderia ter sido causado ou evitado por um Espírito? Os bons ou maus Espírito não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, conforme sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é sinal que tu mesmo o desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Quando escapas ao perigo, ainda sobre a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, conforme a ação, mais ou menos forte, dos bons Espíritos, em te tornares melhor. 3- A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais da vida, ainda seria, então, um efeito de nosso livre arbítrio? Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude for e melhor a suportares, tanto mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que ficam estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes deste mundo, de vez que em geral os Espíritos escolhem a prova que lhes dê mais frutos. Eles veem muito bem a futilidade de grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, mesmo quando não o seja por meio da dor. 4- Ainda não ficou claro se certos Espíritos tem ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa por uma ponte, esta desmorona. Quem levou o homem a passar por ela? Quando um homem passa por uma ponte que deve cair não é um Espírito que o impele, é o instinto de seu destino que o leva para ela. 5- Quem fez a ponte desmoronar? As circunstâncias naturais. A matéria tem em si as causas da destruição. No caso vertente, se o Espírito tiver necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forças materiais, recorrerá antes à intuição espiritual. (...). O Espírito, digamos, insinuará antes ao homem que passe por esta ponte. 6- Noutro caso, imaginemos um homem mal intencionado dá-me um tiro, cuja bala passa apenas de raspão. Teria sido desviada por um Espírito bom? Não. 7- Podem os Espíritos advertir-nos diretamente de um perigo, como no caso de uma senhora que sai de caso, seguindo por uma avenida, ouvindo uma voz íntima lhe dizendo para voltar para casa e, apesar de vacilar, volta, mas, refazendo-se, crendo ser fruto da imaginação, retorna ao caminho, sendo atingida por uma viga, mal dados alguns passos, o que a deixa desacordada. Não era um pressentimento? Era o instinto, visto que nenhum pressentimento tem essas características, sendo sempre vagos. 8- Que entendeis por voz do instinto? Entendo que, antes de encarnar-se, o Espírito tem conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas tem um caráter saliente, ele conserva uma espécie de impressão em seu íntimo e, tal impressão, despertando ao aproximar-se o instante, torna-se pressentimento.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

SOBRE O DEPOIS

Consideradas experiências de alto risco para os Espíritos em processo evolutivo, a riqueza, a inteligência, a beleza e a autoridade representam realmente provas duras diante das quais é difícil manter o equilíbrio. Tal conclusão se depreende da conversa mantida pelo Espírito André Luiz com a entidade designada para apresentar-lhe o Instituto da Reencarnação, órgão da Colônia Espiritual Nosso lar, dedicado a acompanhar, orientar, programar e planejar o retorno de seus habitantes à nossa Dimensão. Notadamente no que se refere ao exercício da autoridade que nos remete ao tema poder, os desdobramentos revelados pela Espiritualidade dentro dos mecanismos da chamada Lei de Causa e Efeito são instigantes nos casos existentes na série escrita através de Chico Xavier pelo ex-médico do nosso Plano. Um deles é referido no livro OBREIROS DA VIDA ETERNA (1947, feb) pela personagem Luciana. Solicitada a cooperar em determinada tarefa pelas suas habilidades no campo da clarividência, informou “tê-las desenvolvido a fim de socorrer em outro tempo, o Espírito de seu pai, desencarnado numa guerra civil na qual tivera preponderância no movimento de insurreição pública, permanecendo após sua desencarnação nas Esferas inferiores, alucinado pelas paixões políticas, reajustando emoções depois de paciente auxílio e obtendo possibilidades de reencarnar em grande cidade brasileira”. Noutra obra, OS MENSAGEIROS (1944, feb), é apresentado o caso de Belarmino Ferreira, que, Na derradeira encarnação “retornara comprometido com a causa do Espiritismo, após  enormes promessas e auxílio dos que lhe endossaram os propósitos através de múltiplas condições para que lograsse êxito, apesar do seu passado culposo. Circunstâncias várias que lhe pareceram casuais o situaram o esforço na presidência de um grande grupo espírita, e, envaidecido com seus conhecimentos do assunto, começou a atrair amigos de mentalidade inferior ao seu círculo pessoal, tornando-se irritadiço, caprichoso, perdendo-se em dúvidas infundadas, surdo aos conselhos da dedicada esposa que também reencarnara para dar-lhe suporte, até que, de desastre em desastre, “amigos brilhantes”, arrastaram-no ao movimento, não da política que eleva, mas da politicalha inferior, que impede o progresso comum e estabelece a confusão nos Espíritos encarnados, onde a escravidão ao dinheiro lhe transformara os sentimentos, acabando seus dias com bela situação financeira  e um corpo crivado de enfermidades, com um palácio confortável de pedra e um deserto no coração, precipitando-o a tormentos, remorsos e expiações”. Já em NO MUNDO MAIOR (1947,feb), André Luiz conhece um “menino de oito anos, primogênito de um casal aparentemente feliz, ostentando um corpo paralítico de nascença, mudo, quase cego e surdo na esfera humana, psiquicamente tendo a vida de um sentenciado sensível a cumprir severa pena, lavrada por ele mesmo há quase dois séculos, decretando a morte de muitos compatriotas numa insurreição civil, valendo-se da desordem político-administrativa para vingar-se de desafetos pessoais, semeando ódio e ruínas. Depois de morto, viveu nas regiões inferiores, inomináveis suplícios através das vítimas de outrora, que o seguiram, obstinadas, anos afora, reduzindo-se pouco a pouco, até que sobraram dois inimigos à época em processo final de transformação. Com as lutas vividas em sombrias e dantescas furnas de sofrimento, aprestou-se para a fase conclusiva de resgate através da reencarnação da forma descrita, há muitos anos, a fim de completar a cura efetiva”. Cada caso, contudo, é um caso, assinalado por detalhes graduados conforme a extensão do comprometimento da individualidade com as Leis de Deus e seu nível de consciência, refletido pelo estado evolutivo do Ser. No excelente LEIS DE AMOR, (1963, feesp), o orientador Emmanuel, revela que “através da profissão, o pretérito também se revela, visto que , muitos renascem gravitando para o campo de serviço em que se lhe afinam disposições e tendências”. Ressalva, porém, que “a situação da personalidade em determinada carreira não obedece à fatalidade visto que o livre arbítrio no mundo interior comanda sentimentos e ideias, palavras e atos do Espírito, constantemente”. Salienta que “a Lei nos faculta empreendimentos e obrigações junto daqueles com os quais se verificaram nossos próprios delitos ou deserções em existências passadas”. Exemplifica, entre outras associações, que políticos que dilapidaram a confiança do povo, quando já situados nas linhas do reajuste, retornam no comércio ou na agricultura, com valiosa oportunidade de transpirar no auxílio àquelas mesmas comunidades que deprimiram; tiranos que não vacilaram em forjar a miséria física e moral dos semelhantes, voltam na condição de administradores capacitados à distribuição de valores e tarefas edificantes; guerreiros e soldados que se valiam de armas para assegurarem seus instintos destruidores, quando internados na regeneração começante, transfiguram-se em mecânicos e operários modeladores.


domingo, 26 de outubro de 2014

ESTÁ ESCRITO, POUCOS SABEM, PRESTAM ATENÇÃO OU ACREDITAM

Salva do esquecimento, no pequeno acervo das Cartas do Apóstolo Paulo de Tarso recuperado por Jerônimo para compor o Novo Testamento, por volta de meados do século 4, encontramos numa das epístolas aos Efésios que “não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas e as hostes espirituais da maldade, nas próprias regiões celestes”. Quase 20 séculos se passaram, e, o Espírito conhecido como André Luiz, através do médium Chico Xavier, no livro LIBERTAÇÃO (1949, feb), reproduz parte de uma palestra proferida por entidade espiritual chamada Flácus dando-nos conta que “um reino Espiritual, dividido e atormentado, cerca a experiência humana, em todas as direções, intentando dilatar o domínio permanente da tirania da força”. Explica que “frustrados em suas aspirações de vaidoso domínio no domicílio celestial, homens e mulheres de todos os climas e de todas as Civilizações, depois da morte, esbarram nessa região em que se prolongam as atividades terrenas e elegem o instinto de soberania sobre a Terra por única felicidade digna do impulso de conquistar. Rebelados filhos da Providência, tentam desacreditar a grandeza divina estimulando o poder autocrático da inteligência insubmissa e orgulhosa e buscam preservar os círculos terrestres para a dilatação indefinida do ódio e da revolta, da vaidade e da criminalidade, como se o Planeta, em sua expressão inferior, lhes fosse paraíso único, ainda não integralmente submetido a seus caprichos, em vista da permanente discórdia reinante entre eles mesmos. É que, confinados ao berço escabroso da ignorância em que o medo e a maldade, com inquietudes e perseguições recíprocas, lhes consomem as forças e lhes inutilizam o tempo, não se apercebem da situação dolorosa em que se acham”. Acrescenta que “organizam-se em vastas colônias de ódio e miséria moral, disputando, entre si, a dominação da Terra. Conservam, igualmente, quanto ocorre a nós mesmos, largos e valiosos patrimônios intelectuais e, anjos decaídos da Ciência, buscam, acima de tudo, a perversão dos processos Divinos que orientam a evolução Planetária. Mentes cristalizadas na rebeldia, tentam solapar, em vão, a Sabedoria Eterna, criando quistos de vida inferior, na organização terrestre, entrincheiradas nas paixões escuras que lhes vergastam as consciências. Conhecem inumeráveis recursos de perturbar e ferir, obscurecer e aniquilar”. Sem duvidar da veracidade das informações, alguém indagou porque os Planos Superiores não suprimem tal quadro, ouvindo como resposta: -“Não será o mesmo que interrogar pela tardança de nossa própria adesão ao Reino Divino? Sente-se o meu amigo suficientemente iluminado para negar o lado sombrio da própria individualidade? Libertou-se de todas as tentações que lhe fluem dos escaninhos misteriosos da luta interna? Não admite que o orbe possua os seus círculos de luz e trevas, qual acontece a nós mesmos nos recessos do coração? (...). Estejamos convencidos de que se o diamante é lapidado pelo diamante, o mau só pode ser corrigido pelo mau. Funciona a Justiça, através da injustiça aparente, até que o amor nasça e redima os que se condenaram a longas e dolorosas sentenças diante da Boa Lei. Homens perversos, calculistas, delituosos e inconsequentes são vigiados por gênios da mesma natureza, que se afinam com as tendências de que são portadores”. Pondera que “realmente, nunca faltou proteção do Céu contra os tormentos que as almas endurecidas e ingratas semearam na Terra e os numes guardiães não se despreocupam dos tutelados; no entanto, seria ilógico e absurdo designar um anjo para custodiar criminosos. Os homens encarnados, de maneira geral, permanecem cercados pelas escuras e degradantes irradiações de entidades imperfeitas e indecisas, quanto eles próprios, criaturas que lhes são invisíveis ao olhar, mas que lhes partilham a residência. Em outras palavras, “grandes políticos e veneráveis condutores nunca se ausentaram do mundo”. Revela que esses Espíritos “integram, tão somente, a coletividade das criaturas humanas desencarnadas, misturando-se à multidão terrestre, exercendo atuação singular sobre inúmeros lares e administrações tendo como interesse fundamental, a conservação do mundo ofuscado e distraído, à força da ignorância defendida e do egoísmo recalcado, adiando-se o Reino de Deus, entre os homens indefinidamente”. Assim se explicam muitos comportamentos sociais coletivos e individuais de agressividade, injustiças, ódios entre facções religiosas, políticas, raciais, etc. O Benfeitor e Espiritual diz ainda: -“Permanecemos diante de um mundo civilizado na superfície, que reclama não só a presença daqueles que ensinam o Bem, mas principalmente daqueles que o praticam. (...). Certamente por isso é que perante o juiz, em Jerusalém, Jesus exclamou: -“Por agora, o meu Reino não é daqui”.


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

TODOS NOS ENQUADRAMOS

Você já se perguntou como algumas pessoas conversando ou escrevendo parecem em alguns momentos ter sido arrebatadas por estranha inspiração? No número de novembro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, encontramos um interessante artigo do editor Allan Kardec que nos permite entender como isso é possível. Baseou-se na leitura na reunião de 16 de setembro daquele ano da Sociedade Espírita de Paris, em que foram lidos diversos fragmentos de um poema intitulado URÂNIA, assinado pelo sr de Porry, da cidade de Marselha, em que abundam ideias espíritas, aparentemente bebida na fonte d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. O detalhe é que foi constatado que na época em que foi escrito o autor nenhum conhecimento possuía da Doutrina Espírita. Kardec explica o fato como tendo sido possível pela mediunidade involuntária ou inconsciente. Argumenta: -“É conhecido que os Espíritos que nos cercam, que exercem sobre nós, independente de nossa vontade ou consciência, uma influência incessante, aproveitam as disposições que encontram em certos indivíduos para transformá-los em instrumentos das ideias que querem exprimir e levar ao conhecimento dos homens. Tais indivíduos são, sem o saber, verdadeiros médiuns, e para isto não necessitam possuir a mediunidade mecânica. Todos os homens superdotados, poetas, pintores e músicos estão neste caso; certamente seu próprio Espírito pode produzir por si mesmo, caso seja bastante adiantado para tal; mas muitas ideias também nos podem vir de uma fonte estranha. Pedindo inspiração, não parece que estejam fazendo um apelo?  Ora, o que é a inspiração se não uma ideia sugerida? Aquilo que tiramos do nosso próprio fundo não é inspirado: possuímo-lo e não temos necessidade de o receber. Se o homem de gênio tirasse tudo de si mesmo, porque estão lhe faltariam ideias exatamente no momento em que as busca? Não seria ele capaz de tirá-las de seu cérebro, como aquele que tem dinheiro o tira de seu bolso? Se aí nada encontra em dado momento é porque nada tem. Porque será que, quando menos esperamos, as ideias brotam por si mesmas? Poderiam os fisiologistas dar a explicação de tal fenômeno? Algum dia procuraram resolvê-lo? Dizem eles: o cérebro produz hoje, mas não produzirá amanhã. Mas por que não produzirá amanhã? Ficam limitados a dizer que é porque produziu na véspera. Segundo a Doutrina Espírita, o cérebro pode sempre produzir aquilo que está nele. Por isso é que o homem mais inepto acha sempre alguma coisa a dizer, mesmo que seja uma tolice. Mas as ideias de que não somos senhores não são nossas: elas nos são sugeridas. Quando a inspiração não vem é porque o inspirador aí não está ou não julga conveniente inspirar. Parece que tal explicação é mais valiosa que a outra. Poder-se-ia objetar que não produzindo, o cérebro não devia fatigar-se. Isso seria um erro: o cérebro não deixa de ser o canal por onde passam as ideias estranhas, e o instrumento que executa. O cantor não fatiga seus órgãos vocais, posto que não seja a música da sua autoria? Porque se não fatigaria o cérebro ao exprimir ideias que está encarregado de transmitir, posto não as tenha produzido? Sem dúvida é para lhe dar repouso necessário a aquisição de novas forças, que um inspirador lhe impõe um compasso de espera. Pode ainda objetar-se que este sistema tira ao produtor o mérito pessoal, pois se lhe atribuem ideias de uma fonte estranha. A isto responderemos que, se as coisas assim se passassem, não saberíamos o que fazer e não teríamos muita necessidade de nos enfeitarmos com as penas de pavão. Mas tal objeção não é séria, porque não dissemos de saída, que o homem de gênio nada tirasse de si mesmo; em segundo lugar porque as ideias que nos são sugeridas se confundem com as nossas, e ninguém as distingue.  De modo que ele não é censurado por se atribuir sua paternidade, a menos que as tenha recebido a título de comunicação espiritual constatada e quisesse ter a glória das mesmas. Isto, entretanto, poderia levar os Espíritos a fazê-lo passar por algumas decepções. Diremos, enfim, que se os Espíritos sugerem grandes ideias a um homem, dessas ideias que caracterizam o gênio, é porque o julgam capaz de compreendê-las, de as elaborar, e de as transmitir. Eles não tomariam um imbecil para seu interprete. Podemos, pois, sentir-nos honrados de receber uma grande e bela missão, sobretudo se o orgulho não nos desviar do objetivo louvável e não nos fizer perder o seu mérito. Quer os pensamentos sejam do seu emissor, que sejam sugeridos indiretamente por via mediúnica, não terá menos mérito. Porque, se a ideia lhe foi dada, cabe-lhe a honra de tê-las elaborado”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

AINDA SOBRE ANJO DA GUARDA

Quase um século após o surgimento do Espiritismo, a extraordinária série de livros construída pelo Espírito identificado como André Luiz pela mediunidade de Chico Xavier, acrescentaria dados importantes a respeito da figura do chamado Anjo da Guarda. No final do capítulo 30 da obra OS MENSAGEIROS (1944, feb), por exemplo, o autor concluindo diálogo com duas amigas de uma colônia denominada Campo da Paz, ouve de uma delas que, entre suas tarefas habituais “tem grandes tarefas de assistência junto dos recém-encarnados, visto que a cidade em que residem, prepara, em média, quinze a vinte reencarnações diárias, tornando-se imprescindível assistir os companheiros ou tutelados, pelo menos no período infantil mais tenro, que compreende os primeiros sete anos de existência carnal”. No trabalho seguinte MISSIONÁRIOS DA LUZ (1945,feb), acompanha no capítulo 13, o Instrutor Alexandre orientar para que liberem um Espírito de nome Herculano a fim de que “permaneça em definitivo com o reencarnante Segismundo, na nova experiência, até que ele atinja os sete anos, após o renascimento, ocasião em que o processo reencarnacionista estará consolidado, após o que sua tarefa de amigo e orientador será amenizada, visto que seguirá o tutelado em sentido mais distante”. Outro detalhe curioso da revelação, é que entre suas atribuições, “deveria tomar todas as providências indispensáveis à harmoniosa organização fetal, seja auxiliando o reencarnante, seja defendendo o templo maternal contra o assédio de forças menos dignas; devendo redobrar a atenção nos primórdios de formação do timo, glândula, de importância essencial para a vida infantil, desde o útero materno, até que se forme a medula óssea e se habilite à produção dos corpúsculos vermelhos para o sangue”. Informes mais específicos, contudo, seriam fornecidos pelo Ministro Clarêncio no capítulo 23 de ENTRE A TERRA E O CÉU (1954, feb), em que acompanhando o caso da desencarnação de um menino de nome Julio, vítima de negligência intencional da madrasta, responde sobre a não intercessão do Anjo da Guarda diante da ação criminosa, dizendo: -“A ideia de um ente divinizado e perfeito, invariavelmente ao nosso lado, ao dispor de nossos caprichos ou ao sabor de nossas dívidas, não concorda com a Justiça. Que governo terrestre destacaria um de seus ministros mais sábios e especializados na garantia do Bem de todos para colar-se, indefinidamente, ao destino de um só homem, quase sempre renitente cultor de complicados enigmas e necessitado, por isso mesmo, das mais severas lições da vida? Porque haveria de obrigar-se um arcanjo a descer da Luz Eterna para seguir, passo a passo, um homem deliberadamente egoísta ou preguiçoso? Tudo exige lógica e bom senso”. Diante da dúvida se o Anjo da Guarda seria uma ilusão, usa de interessante comparação, dizendo que “o Sol está com o verme, amparando-o na furna, a milhões e milhões de quilômetros, sem que o verme esteja com o Sol. Completando suas ilações, acrescenta: -“Anjo, segundo a acepção justa do termo, é mensageiro. Ora, há mensageiros de todas as condições e procedências e, por isso, a antiguidade sempre admitiu a existência de anjos  bons e anjos maus. Anjo da guarda, desde as concepções religiosas mais antigas, é uma expressão que define o Espírito celeste que vigia a criatura em nome de Deus ou pessoa que se devota infinitamente a outra, ajudando-a e defendendo-a. Em qualquer região, convivem conosco os Espíritos familiares de nossa vida e de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do progresso. A família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele que ainda se encontra em luta para desvencilhar-se da própria cegueira. Todos nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. (...). O gênio guardião será sempre um Espírito benfazejo para o protegido, mas é imperioso anotar que os laços afetivos, em torno de nós, ainda se encontram em marcha ascendente para mais altos níveis da vida. Com toda a veneração que lhes devemos, importa reconhecer, nos Espíritos familiares que nos protegem, grandes e respeitáveis heróis do Bem, mas ainda singularmente distanciados da angelitude eterna. Naturalmente, avançam em linhas enobrecidas, em planos elevados, todavia, ainda sentem inclinações e paixões particulares, no rumos da universalização de sentimentos,(....), precisando, por vezes, de apelos à natureza superior para atenderem a esse ou aquele gênero de serviço”.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ANJO DA GUARDA: FICÇÃO OU REALIDADE

Várias gerações influenciadas por ensinos religiosos se formaram acreditando na existência do Anjo da Guarda, o personagem capaz de proteger-nos ou livrar-nos de perigos eminentes ou atitudes de consequências imprevisíveis. No número de janeiro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec reproduz mensagem espontânea assinada conjuntamente pelos Espíritos São Luiz e Santo Agostinho, oferecendo dados importantes para nossa reflexão sobre o tema. Indagam: -“Pensar que tendes sempre junto a vós seres que vos são superiores, que aí estão sempre para vos aconselhar, sustentar, ajudar a subir a áspera montanha do Bem, que são os amigos mais certos e mais delicados que as mais íntimas ligações que possais estabelecer nesta Terra, não é uma ideia consoladora?”, acrescentando: -“Estes seres aí estão por ordem de Deus; foi ele que os pôs ao vosso lado; aí se acham por amor a Ele e junto a vós realizam bela e penosa missão. Sim; onde quer que estejais, estarão convosco: os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada vos separa destes amigos que não vedes, mas cujos suaves impulsos vossa alma sente, como escuta os sábios conselhos”. Em outro trecho afirmam: - “Cada Anjo da Guarda tem o seu protegido, sobre o qual vela, como um pai sobre o filho; é feliz quando o vê seguir o bom caminho e sofre quando seus conselhos são desprezados”. Meses depois, a versão definitiva d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS dedicaria trinta e três perguntas ao assunto, disponibilizando mais elementos para ampliar nosso entendimento, inserindo a referida mensagem como um adendo à questão 495. Dentre eles, destacamos: 1- Trata-se de um Espírito protetor de uma ordem elevada; 2- Acompanha seu tutelado do  nascimento até a morte, frequentemente o seguindo depois dela, na Vida Espiritual, e mesmo através de numerosas experiências corpóreas, consideradas fases bem curtas na vida do Espírito; 3- Para o protetor é, às vezes, um prazer, noutras uma missão ou um dever; 4- Em caso de deixar sua posição para cumprir diversas missões, são substituídos; 5- Afasta-se quando vê que seus conselhos são inúteis pela vontade mais forte do protegido em submeter-se à influência dos Espíritos inferiores, não o abandonando completamente, sempre se fazendo ouvir, voltando logo que chamado; 6- Jamais fazem o mal, deixando que o façam os que lhe tomam o lugar; 7- Quando deixa seu protegido se extraviar na vida, não é por incompetência sua, mas porque ele não o quer, saindo seu protegido mais instruído e perfeito, assistindo-o, porém, com seus conselhos, pelos bons pensamentos que lhe sugere, infelizmente nem sempre ouvidos; 8- Há circunstâncias em que a presença do Espírito protetor não é necessária; 9- Sua ação não é ostensiva pelo fato de que se o fosse o protegido não agiria por si mesmos e não progrediria, visto necessitar da experiência, exercitar suas forças, sendo a ação dos Bons Espíritos efetuada de forma a lhe deixar o livre arbítrio; 10-  Quando vê seu protegido seguir o mau caminho, sofre com seus erros e os lamenta mas essa aflição nada tem das angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que há remédio para o mal, e que o que hoje não se fez, amanhã se fará. Em nota, Allan Kardec, comenta: Dessas explicações e das observações feitas sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao homem podemos deduzir o seguinte: 1- O Espírito Protetor, anjo da guarda ou bom gênio, é aquele que tem por missão seguir o homem na vida e o ajudar a progredir, sendo sempre de natureza superior à do protegido; 2- Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por meio de laços mais ou menos duráveis, com o fim de ajuda-las na medida de seu poder., frequentemente bastante limitado, sendo bons, mas às vezes pouco adiantados; 3- Os Espíritos simpáticos são os que atraímos a nós por afeições particulares  e uma certa semelhança de gostos e sentimentos, tanto no Bem como no mal, durando e se subordinando suas relações às circunstâncias; 4- O mau gênio é um Espírito imperfeito ou perverso que se liga ao homem com o fim de o desviar do Bem, mas age pelo seu próprio impulso e não em virtude de uma missão, manifestando sua tenacidade na razão do acesso mais fácil ou mais difícil que encontre. Conclui dizendo: -“O homem é sempre livre de ouvir a sua voz ou de a repelir”.

sábado, 18 de outubro de 2014

INCRÍVEL CHICO XAVIER

A história da mediunidade na sociedade humana contem registros extraordinários. Fenômenos e fatos taxados de milagres, manifestação de dons, presença de Deus, “coisa do diabo”, na verdade serviram para demonstrar que outra realidade se sobrepõe e interage com essa em que vivemos. A trajetória desenvolvida por Chico Xavier como médium, como não poderia deixar de ser, foi marcada por lances surpreendentes. De vários tipos e modos. Uma amostra é o trecho da terceira das cartas psicografadas publicamente pelo jovem Dráuzio Rosin que, juntamente com o irmão Diógenes e mais dois amigos, teve sua vida interrompida em nossa Dimensão, em violento acidente de trânsito, ocorrido no dia 6 de julho de 1966, ele, com 23 anos e o irmão, com 16. Tendo escrito a primeira de suas mensagens, apenas três meses e doze dias após sua morte nas concorridas e famosas reuniões de Uberaba (MG), Dráuzio na véspera do Dia das Mães de 1973, escreveu, extensa e emocionante carta aos pais, contendo inúmeras referências que autenticam sua veracidade e autoria. Num deles, porém, fica evidenciada a precisão da mediunidade de Chico. Homenageava no trecho as mães presentes quando diz: - “Conosco, no entanto, está um jovem que tudo fez ontem para consolar a mãezinha presente à reunião. A reunião se constituía de muita gente e ele não conseguia escrever, conquanto esteja sustentado pelo carinho de uma irmã que lhe foi avó maternal na Terra, a nossa irmã Cristina. Trata-se do jovem Peter, desencarnado aos treze anos de idade, cuja mãezinha de nome Ana esteve aqui em companhia de outros amigos. Ele não pode esperar por ela assim de momento, mas, roga ao seu coração, mãezinha, escrever-lhe dizendo que ele está bem e para que ninguém julgue tenha ele voltado fora do tempo justo. A lei de Deus é de Misericórdia na Justiça. Tudo nos ocorre para o Bem. Às vezes, a dor de alguns metros vem a nós para que não soframos a dor de muitos quilômetros. Ele não sabe se a mãezinha ainda está nesta cidade, mas se não mais estiver, pede para que escreva no endereço da Av. Bartolomeu de Gusmão, 183, da cidade de São José dos Campos. Ana Johansson é o nome da mãezinha que ele nos transmite. Escrevo o nome sem cogitar da grafia exata. Peter é um excelente rapaz. Seremos bons amigos, assim creio”. Outro caso impactante envolve o advogado Cesar Burnier  que, arrasado pela morte repentina três dias antes do filhinho de seis, arrebatado em poucas horas por meningite fulminante, juntamente com a esposa e amigos, desloca-se de Belo Horizonte onde vivia para Pedro Leopoldo, na tentativa de avistar-se com Chico Xavier, que, curiosamente naquele 2 de abril de 1938, completava 28 anos. Sem opinião formada quanto aos poderes mediúnicos do quase desconhecido jovem, recordava-se que “quando o carro entrou na cidade de Pedro Leopoldo, alguém lhe informou, numa esquina qualquer: -“Chico mora na segunda rua, à direita. O senhor não precisa saber o número da casa dele. Ela é a mais feia e pobre de todas. Não tem portas para fora, mas, sim, um grande saco de aniagem que lhe veda a entrada. Chico é o homem mais feio que o senhor encontrar. É meio gordo, veste uma camiseta de algodão, calça, tamancos e tem um olho meio esbranquiçado. Decidido, rumou para o endereço indicado. Realmente não foi difícil encontra-lo. Esbarrou logo, encostado num muro, com o moço acanhado e humilde que o informante descrevera. Chico veio ao encontro dele. O pranto correu-lhe pelo rosto. O médium cerrou os lábios, compungido e sem proferir uma só palavra. Quando Cesar se preparava para revelar os motivos de sua presença, Chico o antecedeu, dizendo-lhe: - Eu sei, o senhor perdeu um filhinho muito querido. Em poucos instantes iremos orar por ele com a ajuda de Emmanuel. Cesar, estupefato, pensou, sem poder esconder no rosto a sua surpresa: quem teria contado ao médium aquilo que acabara de ouvir? Talvez a aparência, meditou. Causou-lhe espanto também haver sido tão facilmente recebido, pois não ignorava a existência de horário estabelecido para as sessões. Lembrando-se daquele distante e decisivo dia, acrescenta que, logo a seguir, Chico declarou: - “Vou fazer uma reunião e pedir informações a respeito de seu filho Cezinha. Percebi a profunda emoção e seu sofrimento. Não percamos tempo: Vou fazer chamar meu irmão José para presidi-la”. Pouco depois, sentado ao lado do medianeiro cuja mão empunhando um lápis corria célere sobre tiras de papel, surpreso, notou seu nome – Cesar - no papel, espantando-se mais ainda, pois não havia se apresentado.






quinta-feira, 16 de outubro de 2014

REALISMO FANTÁSTICO OU REALIDADE PROVÁVEL ?

-“A experiência social na Terra vive tão distraída nos jogos de máscara, que a visita da verdade sem mescla, a qualquer agrupamento humano, por muito tempo ainda será francamente inoportuna”, comenta em mensagem psicografada por Chico Xavier, um industrial, administrador e homem público identificado, pela inicial G., por razões compreensíveis. A visão imediatista da vida em nossa realidade existencial certamente é a causadora dessa distorção compartilhada pela maioria das criaturas humanas que habita o planeta Terra. Mas, a, como ele diz, verdade sem mescla, representada pela morte aguarda a todos na esteira do tempo que vai se acumulando no nosso histórico de vida. As marcas do desgaste do revestimento chamado corpo físico se evidenciam na comparação imagem do espelho com a foto de anos atrás. Avaliado pelos critérios de nossa Dimensão como político e administrador de méritos indiscutíveis, G. não se sentia dessa forma após a transposição para outro Plano Existencial. Confessa que “não admitia que o sepulcro o requisitasse tão apressadamente à ‘meditação’. A angina, porém, espreitava-o vigilante, e fulminou-o sem que pudesse lutar. Recorda-se de haver sido arremessado a uma espécie de sono que não lhe furtava a consciência e a lucidez, embora lhe aniquilasse os movimentos. Incapaz de falar, ouviu os gritos dos seus e sentiu que mãos amigas lhe tateavam o peito, tentando debalde restituir-lhe a respiração. Não saberia precisar quantos minutos gastou na vertigem que lhe tomara de assalto, até que, em sua aflição por despertar, notou que a forma inerte o retomava a si, que sua alma entontecida regressava ao corpo pesado; no entanto, espessa cortina de sombra parecia interpor-se agora entre os seus afeiçoados e a sua palavra ressoante, que ninguém atendia... Inexplicavelmente assombrado, em vão pedia socorro, mas acabou por resignar-se à ideia de que estava sendo vítima de estranho pesadelo, prestes a terminar. Após alguns minutos de pavoroso conflito que a palavra terrestre não consegue determinar, teve a impressão de que lhe aplicavam sacos de gelo aos pés. Por mais verberasse contra semelhante medicação, o frio alcançava-lhe todo o corpo, até que não pude mais...Aquilo valia por expulsão em regra. Procurou libertar-se e viu-se fora do leito, leve e ágil, pensando, ouvindo e vendo. Contudo, buscando afastar-se, reparou que fio tênue de névoa branquicenta ligava sua cabeça móvel à sua cabeça inerte. Indiscutivelmente delirava – dizia de si para consigo -, no entanto, aquele sonho o dividia em duas personalidades distintas, não obstante guardar a noção perfeita de sua identidade. Apavorado, não conseguia maior afastamento da câmara íntima, reconhecendo, inquieto, que o vestiam caprichosamente a estátua de carne, a enregelar-se. Dominava-o indizível receio. Sensações de terror neutralizavam seu raciocínio. Mesmo assim, concentrou suas forças na resistência. Retomaria o corpo. Lutaria para reaver-se. Contudo, escoavam-se as horas e, não obstante contrariado, viu-se exposto à visitação pública. Mas, ele que se sentia singularmente repartido, observou que todas as pessoas com acesso ao recinto, diante dele, revelavam-se divididas em identidade de circunstâncias, porque, sem poder explicar o fenômeno, lhes escutava as palavras faladas e as palavras imaginadas. Muitas diziam aos seus familiares em pranto: - Meus pêsames! Perdemos um grande amigo... E o pensamento se lhes esguichava da cabeça, atingindo-o como inexprimível jato de força elétrica, acentuando: -“Não tenho pesar algum, este homem deveria realmente morrer”. Outras se enlaçavam aos amigos, e diziam com a boca: -“Meus sentimentos! O doutor G morreu moço, muito moço. E acrescentavam, refletindo: -“Morreu tarde...Ainda bem que morreu.. Velhaco! Deixou uma fortuna considerável... Deve ter roubado excessivamente”. Outras ainda, comentavam junto à carcaça morta: -“Homem probo, homem justo!...E falavam de si para consigo: -“Político ladrão e sem palavra! Que aterra lhe seja leve e que o inferno o proteja!”.(...). Humilhado, aguardei paciente as surpresas da nova situação. Estava inegavelmente morto e vivo. O caixão não favorecia qualquer dúvida. Curtia dolorosas indagações, quando, em dado instante, arrebataram-me o corpo. Achava-me livre para pensar, mas preso aos despojos hirtos pelo estranho cordão que eu não podia compreender e, em razão disso, acompanhei o cortejo triste, cauteloso e desapontado. A vizinhança do cemitério abalava a escassa confiança que passara a sustentar em mim mesmo. O largo portão aberto, a contemplação dos túmulos à entrada e a multidão que me seguia, compacta, faziam-me estarrecer. (...). Clamei debalde por socorro, até que, com os primeiros punhados de terra atirados sobre o esquife, caí na sepultura acolhedora, sem qualquer noção de mim mesmo”. Diante de tão minuciosa narrativa deixamos com você a pergunta: - Realismo fantástico ou realidade provável?


terça-feira, 14 de outubro de 2014

PORQUE ESQUECEMOS O PASSADO?

Se vivi outras vidas, sofro em consequência das decisões e ações insensatas delas e essas pessoas às quais estou ligado fazem parte de experiências mal sucedidas delas, por que não lembro de nada? Argumento comum entre aqueles que preferem a lei do mínimo esforço, presos à filosofia do “achismo”. Em artigo do número de agosto de 1863, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec ressalta alguns pontos importantes da questão: -“A lembrança precisa dessas faltas teria inconvenientes extremamente graves, pois isso nos perturbaria, nos humilharia aos nossos próprios olhos e aos do próximo; trariam uma perturbação nas relações sociais e, por isto mesmo, travaria nosso livre arbítrio. Por outro lado, o esquecimento não é tão absoluto quanto o supõem. Ele só se dá na vida exterior de relação, no interesse da Humanidade; mas, a vida espiritual não sofre solução de continuidade. Tanto como desencarnados, quanto nos momentos de emancipação, o Espírito se lembra perfeitamente e essa lembrança lhe deixa uma intuição que se traduz na voz da consciência, que o adverte do que deve, ou não deve fazer. Se não a escuta, então é culpa sua. Além disso, o Espiritismo dá ao homem um meio de remontar ao seu passado, se não aos atos precisos, ao menos aos caracteres gerais desses atos que ficaram mais ou menos desbotados na sua vida atual. Das tribulações que suporta, das expiações e provas deve concluir que foi culpado; da natureza dessas tribulações, ajudado pelo estudo de suas tendências instintivas, apoiando-se no princípio que a mais justa punição é a consequência da falta, pode deduzir seu passado moral. Suas tendências más lhe ensinam o que resta de imperfeito a corrigir em si. A vida atual é para ele um novo ponto de partida: aí chega rico ou pobre de boas qualidades; basta-lhe, pois, estudar-se a si mesmo para ver o que lhe falta e dizer: -‘Se sou punido, é porque pequei’. E a mesma punição lhe dirá o que fez. Citemos uma comparação. Suponhamos um homem condenado a tantos anos de prisão, sofrendo um castigo especial, mais ou menos rigoroso conforme sua falta: suponhamos, ainda, que ao entrar na prisão perca a lembrança dos atos que para lá o conduziram. Poderá dizer: -‘Se estou nesta prisão, é que fui culpado, pois não se condena gente virtuosa. Tratemos, pois, de nos tornarmos bons, para não voltarmos quando daqui sairmos’. Quer ele saber o que fêz? Estudando a lei penal, saberá quais os crimes que para ali conduzem, porque não se é posto a ferros por uma maluquice; da duração e severidade da pena, concluirá o gênero do que deve ter cometido. Para ter uma ideia mais exata, terá apenas que estudar os artigos para os quais irá sentir-se instintivamente arrastado. Saberá, então, o que daí em diante deverá evitar para conservar a liberdade e a isso será ainda excitado pelas exortações dos homens de Bem, encarregados de o dirigir e instruir no bom caminho. Se não aproveitar, sofrerá as consequências. Tal a situação do homem na Terra onde, como condenado, não pode ter sido posto por suas perfeições, desde que é infeliz e obrigado a trabalhar. Deus lhe multiplica os ensinamentos proporcionais ao seu adiantamento. Adverte-o incessantemente e o fere, até, para o despertar de seu torpor; e o que permanece no endurecimento não pode desculpar-se com a arrogância”. Através do médium Chico Xavier, o Espírito André Luiz registrou importantes apontamentos sobre o tema: 1: -“O obscurecimento das memórias pregressas, não é senão um fenômeno temporário, mais ou menos curto ou longo, conforme o grau de evolução que tenhamos atingido. Até certo ponto, uma dilatada hipnose. A passagem pelo claustro materno, o novo nome escolhido pelos familiares, os sete anos de semi-inconsciência no ambiente fluídico dos pais, a recapitulação da meninice, o retorno à juventude e os problemas da madureza, com as responsabilidades e compromissos consequentes, estruturam em nós – a individualidade eterna -, uma personalidade nova que incorporamos ao nosso patrimônio de experiências”. 2-Os Espíritos encarnados, tão logo se realize a consolidação dos laços físicos, ficam submetidos a imperiosas leis dominantes na Crosta (...). Sem a obliteração temporária da memória, não se renovaria a oportunidade”. 3 – “Sem o esquecimento transitório, não saberíamos receber no coração o adversário de ontem para regenerar-nos, regenerando-o”. 4 -Imaginemos a mente como sendo um lago. Se as águas se acham pacificadas e límpidas, a luz do firmamento pode retratar-se nele com segurança. Mas  se as águas vivem revoltas, as imagens se perdem ante o movimento das ondas móveis, principalmente quando o lodo acumulado no fundo aparece à superfície”

domingo, 12 de outubro de 2014

A LEI DE QUE NINGUÉM CONSEGUE FUGIR

O quanto um Espírito obsessor pode atuar em nosso Plano, atormentando a vida de alguém encarnado? O número de janeiro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA, inclui matéria destacando o caso de um jovem de dezesseis anos que desde quatro anos antes era o epicentro de uma série de fatos perturbadores. Descrito como um rapaz de inteligência excessivamente limitada, analfabeto e que raramente saia de casa, sempre que começava a dormir, tinha o leito em que repousava balançado violentamente; era objeto de suspensão magnética (levitação); pancadas e arranhaduras de origem desconhecida no local em que repousava; assovios; ruído semelhante ao de uma lima ou serra; arremesso de pedaços de carvão procedentes de local ignorado no cômodo em que estava deitado. Durante o sono, fala ao Espírito causador da desordem com autoridade e toma o tom de comando de um oficial superior, dado surpreendente, visto jamais ter assistido exercícios militares. Simula um combate, comanda a manobra, conquista a vitória e se julga reconhecido general em campo de batalha. Quando ordenava ao Espírito que desse uma tantas pancadas, por vezes, contrariado, o menino, no transe do sono, pergunta: -“Como farás para tirar as pancadas que deste a mais? Então o Espírito se põe a raspar, como se apagasse. Quando o menino comanda, fica numa grande agitação, por vezes, gritando tão forte que a voz se extingue numa espécie de estertor. Sob comando o Espírito produz o som de todas as marchas francesas e estrangeiras, mesmo a chinesas. Frequentemente, acontecia do menino, dizer: -“Não é assim! Recomece. E o Espírito obedecia. Durante o sono e comandando, o menino mostrava-se muito grosseiro. Certa ocasião, após cinco horas de grande agitação do rapaz, tentou-se acalmá-lo por meio de passes magnéticos, o que o enfureceu, revolvendo toda cama. Longe de se atenuarem, os efeitos se agravavam mais e mais de modo aflitivo. Tentou-se conversar com o Espírito através de outro rapaz que lhe servia como médium falante (psicofônico). Em vão, obtendo como resposta que a prece de nada lhe servia; que experimentou aproximar-se de Deus, mas só encontrou obscuridade e gelo. Mesmo as orações mentais o enfureciam. Nem o próprio pai estava livre dos assaltos do Espírito obsessor que lhe interrompia o trabalho, agredia, puxava-lhe as roupas e o beliscava até sangrar. Na reunião da Sociedade Espírita de Paris, do dia 9 de novembro passado, foram dirigidas oito perguntas a São Luiz, o dirigente espiritual das atividades sobre o problema. Entre outras informações, disse que “por ser a inteligência do moço limitada, quando o Espirito desencarnado o envolvia, ficava completamente alucinado, especialmente quanto mais mergulhado no sono, o que o expunha à turbulenta obsessão; aconselhou que quando o jovem estivesse desperto, evocasse-se bons Espíritos, a fim de com estes o por em contato e, por tal meio, afastar os maus, que o assediavam durante o sono; disse que seriam ineficazes as tentativas de doutrinar o desencarnado por serem ele e o moço, muito materializados; enalteceu o valor da prece, enfatizando, contudo ser necessária a cooperação dos pais que, todavia, não demonstravam aquela fé que centuplica as forças, não tendo, por isso, muita razão ao queixar-se de um mal contra o qual nada fazer; por fim, revelou ser o moço pouco adiantado moralmente, mas mais do que se pensa em inteligência da qual abusou em outras existências, não a dirigindo para um fim moral, mas, ao contrário, para objetivos mais ambiciosos. Acrescentou ainda encontrar-se na existência atual num corpo que lhe não permite livre curso à inteligência e o mau Espírito que o assedia aproveita sua fraqueza: deixa-se comandar em coisas sem consequência, porque o sabe incapaz de lhe ordenar coisas sérias: e o diverte. Destaca o Orientador Espiritual que a Terra formiga de Espíritos assim, em punição, em corpos humanos, razão pela qual existem tantos males de tantos matizes. Em observação adicional, Allan Kardec diz que a “observação vem em apoio a esta explicação. Durante o sono, o menino mostra uma inteligência incontestavelmente superior à de seu estado normal, o que prova um desenvolvimento anterior, mas reduzido a estado latente sob esse novo corpo grosseiro. É só nos momentos de emancipação da alma, nos quais não sofre tanto a influência da matéria, que sua inteligência se expande, e no qual também exerce uma espécie de autoridade sobre o Ser que o subjuga. Mas, reduzido ao estado de vigília, suas faculdades se anulam sob o involucro material que a comprime. Não está aí um ensino moral prático?”.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ESPIRITUALIDADE, SAÚDE, MEDICINA, MÉDICO, MEDICAMENTOS

O advento do Espiritismo atraiu muitos médicos encarnados ou desencarnados não só na França como em vários países, onde as obras ou noticias sobre a nova proposta chegou. Samuel Hahnemann, o pai da Homeopatia é um deles. As provas são várias matérias inseridas nos números da REVISTA ESPÍRITA, o jornal de estudos psicológicos, fundado e editado por Allan Kardec entre 1858 e 1869. Através do médium Chico Xavier, outros tantos médicos se mostraram convencidos das evidentes provas da imortalidade oferecidas pela Doutrina Espírita, alguns enquanto em nossa Dimensão, outros depois da própria morte. Céticos de todas as formações podem ler mensagens de importantes representantes de Medicina nacional como Bezerra de Menezes; Antonio Americano do Brasil, Miguel Couto, Dias da Cruz, Cornélio Mylward, e, entre outros, aquele que ficou conhecido como André Luiz, autor da série  NOSSO LAR. A maioria,  ao se reportar à passagem pela nossa Dimensão, consagra o axioma pertencente à sabedoria popular o pior cego é o que não que ver”, bem como, a racionalidade de Albert Einstein no desabafo: -“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. Diante disso, nos lembramos de reflexão do jornalista Humberto de Campos, o Irmão X, no seu livro LÁZARO REDIVIVO (1945, feb): -“Terá bastante força a palavra dos mortos para despertar a consciência dos vivos? Não acredito. Mas se Jesus que é o Divino Senhor da Humanidade, continua semeando a Verdade e o Bem, por que deixaríamos, nós outros, de semear?”. Algumas opiniões sobre as quais vale refletir: SAÚDE -“A saúde humana nunca será produto de comprimidos, de anestésicos, de soros, de alimentação artificialíssima. O homem terá de voltar os olhos para a terapêutica natural, que reside em si mesmo, na sua personalidade, no seu meio ambiente (...). A Medicina do futuro terá de ser eminentemente espiritual, posição difícil de ser atualmente alcançada em razão da febre maldita do ouro; mas, os apóstolos dessas realidades grandiosas não tardarão a surgir nos horizontes acadêmicos do mundo, testemunhando o novo Ciclo evolutivo da Humanidade”. (EMMANUEL,1937, feb) MEDICINA : -“A Medicina humana será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e complexidade dos fatores mentais no campo das moléstias do corpo. Muito raramente não se encontram as afecções diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral(..). O médico do porvir conhecerá semelhantes verdades e não circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às providências espirituais”. (MISSIONÁRIOS DA LUZ, 1945, feb) MÉDICOS: -“Grande número de médicos, na Terra, prefere apenas a conclusão matemática diante dos serviços de anatomia. Concordamos que a Matemática é respeitável, mas não é a única ciência do Universo. O médico não pode estacionar em diagnósticos e terminologias. Há que penetrar a alma, sondar-lhe as profundezas. Muitos profissionais da Medicina, no Planeta, são prisioneiros das salas acadêmicas, porque a vaidade lhes roubou a chave do cárcere. Raros conseguem atravessar o pântano dos interesses inferiores, sobrepor-se a preconceitos comuns e, para raras exceções, reservam-se as zombarias do mundo e o escárnio dos companheiros”. (NOSSO LAR, 1943, feb) MEDICAMENTOS : -“Qualquer droga, no campo infinitesimal dos núcleos celulares, se faz sentir pelas propriedades elétricas específicas. Combinar aplicações químicas com as verdadeiras necessidades fisiológicas, constituirá, efetivamente, o escopo da Medicina do porvir. O médico do futuro aprenderá que todo remédio está saturado de energias eletromagnéticas em seu raio de ação (...). A gota medicamentosa tem princípios elétricos, como também acontece às associações atômicas que vão recebê-la. Segundo sabemos em plano algum a Natureza age aos saltos”.( OBREIROS DA VIDA ETERNA,1946, feb). Para finalizar, uma reveladora informação incluída na obra LIBERTAÇÃO (feb,1949): -Todos os médicos, ainda mesmo quando materialistas de mente impermeável à fé religiosa, contam com amigos espirituais que os auxiliam. A saúde humana é dos mais preciosos dons Divinos. Quando a criatura, por relaxamento ou indisciplina, delibera menosprezá-la, faz-se difícil o socorro aos seus centros de equilíbrio, porque, em todos os lugares, o pior surdo é aquele que não quer ouvir. Todavia, por parte de quantos ajudam a marcha humana, da Esfera Espiritual, há sempre medidas de proteção à harmonia orgânica, para que a saúde das criaturas não seja prejudicada. Claro que há erros tremendos em Medicina e que não podemos evitar. Nossa colaboração não pode ultrapassar o campo receptivo daquele que se interessa pela cura alheia ou pelo próprio reajustamento. Entretanto, realizamos sempre em favor da saúde geral quanto nos seja possível”

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

MEDO

Medo de crescer, medo do castigo dos pais, medo do resultado da prova para qual não se estudou, medo do vestibular, medo de viver, medo de morrer, medo da solidão, medo da separação, medo da perda de alguém querido, medo do desemprego, medo, medo, medo... Embora nem sempre verbalizado, sensações como as elencadas, ocorrem na vida da maioria das pessoas. Fatores os mais variados podem ser apontados como determinantes de tais vivencias. Trata-se, naturalmente, de repercussões exteriores dos conflitos interiores que refletem a condição momentânea dos Espíritos em evolução. O problema ultrapassa as barreiras vibratórias que delimitam o chamado Plano Material. Tanto que na obra NOSSO LAR, o médico identificado como André Luiz espanta-se quando a Benfeitora Narcisa fala no capítulo 42, sobre organizar programas com exercícios adequados contra o medo a serem utilizados nas novas escolas de assistência no Auxílio e núcleos de adestramento na Regeneração. O objetivo era o treinamento coletivo de trinta mil trabalhadores empenhados no serviço defensivo da Colônia que contava à época (1939) cerca de um milhão de abrigados. Em comentário específico, Narcisa explicou ser “elevada a porcentagem de existências humanas estranguladas simplesmente pelas vibrações destrutivas do terror, tão contagioso como qualquer moléstia de perigosa propagação. Classificamos o medo como dos piores inimigos da criatura, por alojar-se na cidadela da alma, atacando as forças mais profundas”. A preparação urgente de tão grande número de colaboradores para proteger a Colônia devia-se às ameaças decorrentes dos efeitos da grande Guerra que se iniciava em nossa Dimensão, gerando vibrações mento-emocionais de insegurança e intranquilidade dos encarnados e desencarnados atingidos direta ou indiretamente pelas mesmas. O problema do medo também se manifesta entre os que se preparam para voltar para o Plano em que nos encontramos, como revelado na abordagem do caso incluído no livro MISSIONÁRIOS DA LUZ (feb,1945). Vencidas dificuldades operacionais para possibilitar a reencarnação de personagem apresentado como Segismundo, o mesmo mergulha num clima de medo diante do programa preparado para que ele se liberasse de comprometimentos assumidos passionalmente um século antes num relacionamento afetivo com mulher casada, exigindo a assistência terapêutica do Instrutor Alexandre a fim de não frustrar os planos em andamento. Em outras abordagens André Luiz expõe situações de medo resultante de desequilíbrios causados por processos de influenciação espiritual conhecidos entre os estudiosos da mediunidade como obsessão, causada pela presença e influência de desencarnados ligados a encarnados com eles comprometidos em outras encarnações, o que facilita até certo ponto a ação dissimulada pelo sem fio do pensamento invariavelmente vulnerável pela falta de postura mental mais equilibrada por parte da “vítima”. O Espírito Emmanuel através de Chico Xavier faz algumas apreciações curiosas sobre a origem do medo em nós. Tecendo algumas reflexões sobre  o versículo dez do capítulo dois do APOCALIPSE do Apóstolo João“Nada temas das coisas que hás de padecer” -, diz que o sofrimento de muitos homens, na essência, é muito semelhante ao do menino que perdeu seus brinquedos. Numerosas criaturas sentem-se eminentemente sofredoras, por não lhes ser possível a prática do mal; revoltam-se outras porque Deus não lhes atendeu aos caprichos perniciosos”, concluindo: -“Não temamos, pois, o que possamos vir a sofrer. Deus é o Pai magnânimo e justo. Um pai não distribui padecimentos. Dá corrigendas e toda corrigenda aperfeiçoa”. Usando Paulo em sua Segunda Carta a Timóteo, destaca que “não faltam recursos de trabalho espiritual a todo irmão que deseje reerguer-se, aprimorar-se, elevar-se”, embora “lacunas e necessidade, problemas e obstáculos desafiem o espírito de serviço dos companheiros de fé, em toda parte”. Orienta: - “Onde esteja a possibilidade de sermos úteis, avancemos, de ânimo firme, para a frente, construindo o Bem, ainda que defrontados pela ironia, pela frieza ou pela ingratidão, porque, conforme a palavra iluminada do Apóstolo aos gentios: ‘Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, amor e moderação”. Recorre em outra ocasião, à Parábola dos Talentos –“E, tendo medo, escondi na terra o teu talento” -, para dizer que “há muitas pessoas que se acusam pobres de recursos para transitar no mundo como desejariam, recolhendo-se à ociosidade, alegando medo da ação, alcançando o fim do corpo, como sensitivas humanas, sem o mínimo esforço para enriquecer a existência. Na vida, agarram-se ao medo da morte, na morte, confessam medo da vida, transformando-se, gradativamente, a pretexto de serem menos favorecidos pelo destino, em campeões da inutilidade e da preguiça”. Finalizando, recomenda em outra mensagem: -“Não te percas, desse modo nas ideias enquistantes e destruidoras do medo, capazes de operar a ruína dos melhores impulsos, porque, se utilizas a fortaleza, o amor e a moderação, seguirás para diante, na Terra e além da Terra, com a luz do coração e a paz da consciência”.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

HÁ POUCO MAIS DE QUATRO SÉCULOS

Abrindo o número de abril de 1867, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta interessante artigo comentando o lançamento de um drama em versos assinado por um escritor chamado Ponsard, a respeito do personagem histórico Galileu, o primeiro a fazer uso científico do telescópio, ao realizar observações astronômicas com ele, defendendo em março de 1610, após descobrir e  analisar os satélites de Júpiter, o sistema heliocêntrico de Copérnico, ou seja, que a Terra não era o centro do nosso Sistema, mas o Sol. Se considerarmos o que era a Terra conhecida de então; o tempo que qualquer conhecimento necessita para se incorporar no inconsciente coletivo; as barreiras de conceitos e preconceitos que tem de destruir para tornar-se de domínio público, concluiremos que a dita Ciência – rompidas as amarras em que a mantinha a Religião -, caminhou celeremente até aqui. Em todos os seus seguimentos. Apesar disso, num dos países mais tecnologicamente desenvolvidos do Planeta, existem milhares de pessoas que ainda negam a Teoria Evolucionista de Darwin. Esclarecendo não tratar o texto de Espiritismo, destaca que a ele se liga por um lado essencial: o da pluralidade dos mundos habitados. Em seu comentário, pondera Kardec: -“O destino da Humanidade está ligado à organização do Universo como o do habitante o está à sua habitação. Na ignorância desta organização, o homem deve ter tido sobre seu passado e seu futuro, ideias em relação com o estado de seus conhecimentos. Se tivesse sempre conhecido a estrutura da Terra, jamais teria pensado em colocar o inferno em suas entranhas; se tivesse conhecido o Infinito do espaço e a multidão de mundos que aí se movem, não teria localizado o céu acima do céu de estrelas; não teria feito de Terra o ponto central do Universo, a única habitação dos seres vivos; não teria condenado a crença nos antípodas como uma heresia; se tivesse conhecido a Geologia, jamais teria acreditado na formação da Terra em seis dias e em sua existência desde seis mil anos. A ideia mesquinha que o homem fazia da Criação devia dar-lhe uma ideia mesquinha da divindade. Ele não pode compreender a grandeza, o poder, a sabedoria Infinitas do Criador senão quando seu pensamento pode abarcar a imensidade do Universo e a sabedoria das Leis que o regem, como se julga o gênio de um mecânico pelo conjunto, harmonia e precisão de um mecanismo, e não à vista de uma simples engrenagem. Só então as ideias puderam crescer e elevar-se acima de seu limitado horizonte”. Mais à frente, Allan Kardec acrescenta: -Como um dos primeiros a revelar as Leis do Mecanismo do Universo, não por hipóteses, mas por uma demonstração irrecusável, Galileu abriu caminho a novos progressos. Por isto mesmo, devia produzir uma revolução nas crenças, destruindo os andaimes dos sistemas científicos errados, sobre os quais elas se apoiavam. A cada um sua missão. Nem Moisés, nem o Cristo tinham a de ensinar aos homens as Leis da Ciência; o conhecimento dessas Leis devia ser o resultado do trabalho e das pesquisas do homem, da atividade e do desenvolvimento do seu próprio espírito, e não de uma revelação ‘a priori’, que lhe tivesse dado saber sem esforço (...). O Espiritismo é baseado na existência do princípio espiritual, como elemento constitutivo do Universo; repousa sobre a universalidade e a perpetuidade dos Seres inteligentes, sobre seu progresso indefinido, através dos mundos e das gerações; sobre a pluralidade das existências corporais, necessárias ao seu progresso individual; sobre sua cooperação relativa, como encarnados e desencarnados, na obra geral, na medida do progresso realizado; na solidariedade que une todos os seres de um mesmo mundo e dos mundos entre si. Nesse vasto conjunto, encarnados e desencarnados, cada um tem a sua missão, seu papel, deveres a cumprir, desde o mais ínfimo até os anjos que não são senão Espíritos humanos chegados ao estado de Espíritos puros, e aos quais são confiadas as grandes missões, o governo dos Mundos como generais experimentados (....). Tal é, em resumo, o quadro apresentado pelo Espiritismo, e que ressalta da situação mesma dos Espíritos que se manifestam: não é mais uma simples teoria, mas um resultado da observação. O homem que encara as coisas deste ponto de vista, sente-se crescer; revela-se aos seus próprios olhos; é estimulado em seus instintos progressivos ao ver um objetivo para os seus trabalhos, para os esforços por se melhorar (...). A matéria e o Espírito são os dois princípios constitutivos do Universo. Mas, o conhecimento das Leis que regem a matéria devia preceder o das Leis que regem o elemento espiritual; só as primeiras poderiam combater vitoriosamente os preconceitos, pela evidência dos fatos”.

sábado, 4 de outubro de 2014

PARA QUEM QUER EVOLUIR CONSCIENTEMENTE

Quando Allan Kardec escreveu num dos artigos incluídos na REVISTA ESPÍRITA de 1864 que “não é, pois, nem após a primeira, nem após a segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma, para ser responsável por seus atos; talvez só após a centésima ou milésima”, não parecia estar fazendo uma afirmação absurda. Explicando-se melhor acrescenta que “dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades nem um, nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos”. Salienta que “ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações do Espírito (...). Apenas sabemos que são criados simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme a Justiça”. No caso do Ser humano, um dos elementos importantes é o chamado livre-arbítrio que, como explicado pelo Espiritismo, “só se desenvolve pouco a pouco, após numerosas evoluções na vida corpórea e, associado à responsabilidade, cresce em razão do desenvolvimento da inteligência. Assim, por exemplo, um selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado, que comete uma simples injustiça. Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós e, contudo, já estão bem longe de seu ponto de partida. Durante longos períodos a alma encarnada é submetida à influência exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes, ou melhor, se equilibram com a inteligência; mais tarde,  e sempre gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade”. As sutilezas no processo evolutivo são curiosas. Uma amostra está na reflexão do próprio Allan Kardec sobre a seguinte questãosofre-se as consequências de um mau pensamento que não se efetivou? que compõe as análises do capítulo oito d’ O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO que aborda a afirmação do famoso Sermão da Montanha “Bem Aventurados os Puros de Coração”. Concluiu o seguinte: -“Temos de fazer aqui uma importante distinção. À medida que a alma, comprometida no mau caminho, avança na Vida Espiritual, vai-se esclarecendo, e, pouco a pouco, se liberta de suas imperfeições, segundo a maior ou menor boa-vontade que emprega, em virtude do seu livre arbítrio. Todo mau pensamento é, portanto, o resultado da imperfeição da alma. Mas, de acordo com o desejo que tiver de se purificar, até mesmo esse mau pensamento se torna para ela um motivo de progresso, porque o repele com energia. É o sinal de uma mancha que ela se esforça por apagar. Assim, não cederá à tentação de satisfazer um mau desejo, e após haver resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória. Aquela que, pelo contrário, não tomou boas resoluções, ainda busca a ocasião de praticar o mau ato, e, se não o fizer, não será por não querer, mas apenas por falta de circunstâncias favoráveis. Ela é, portanto, tão culpada como se o houvesse praticado. Em resumo: a pessoa que nem sequer concebe o mau pensamento, já realizou o progresso; aquela que ainda tem esse pensamento, mas o repele, está envias de realizá-los; e, por fim, aquela que tem esse pensamento e nele se compraz, ainda está sob toda a força do mal. Numa, o trabalho está feito; nas outras, está por fazer. Deus, que é justo, leva em conta todas essas diferenças, na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem”. Como salientado por Allan Kardec, “a verdadeira pureza não está apenas nos atos, mas também no pensamento, pois aquele que tem o coração puro nem sequer pensa no mal. Foi isso que Jesus quis dizer condenando o ‘pecado’, mesmo em pensamento, porque ele é um sinal de impureza moral”. E, em função dessa, o complexo de culpa, o remorso, o arrependimento e o anseio de reparação, como explicitado no Código Penal da Vida Futura, apresentado no capítulo sete do livro O CÉU E O INFERNO - ou, a Justiça Divina Segundo o Espiritismo – automaticamente nos encaminhará à escola do sofrimento e da dor. Afinal, ninguém foge de si mesmo e a cada um é dado conforme as próprias obras.
















quinta-feira, 2 de outubro de 2014

CHICO XAVIER E OS DOIS EX-PREDIDENTES

Embora poucos saibam, no incrível acervo de mensagens recebidas pelo médium Chico Xavier, consta a de dois ex-Presidentes do Brasil. A primeira delas, quando ele não era a figura pública de décadas depois. Contava apenas 25 anos, rapaz muito tímido e pobre, baixa escolaridade, vivendo na sua terra natal e trabalhando como atendente no modesto estabelecimento comercial do senhor Zé Felizardo. Corria o ano de 1935, nosso País vivia o período conhecido como Estado Novo, sob a direção de Getúlio Vargas, acaloradas discussões centralizadas sobre se o melhor sistema de governo da pátria seria a democracia, o facismo ou comunismo. O rapazola de Pedro Leopoldo, já atraia o interesse dos que liam um dos importantes jornais da capital da República pelos textos assinados pelo Espírito do famoso e querido escritor  Humberto de Campos, que morrera em fins de 1934, bem como do livro PARNASO DO ALÉM TÚMULO (feb,1932), publicado em 1932 contendo poemas de autoria de grandes personalidades da Academia Brasileira de Letras como Olavo Bilac, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza, entre outros. Uma editora recém-fundada na capital paulista publicava o que seria o segundo livro da bibliografia de Chico, PALAVRAS DO INFINITO (lake, 1935), uma coletânea reunindo as primeiras mensagens de Humberto de Campos, fragmentos da série de matérias publicadas naquele ano pelo jornal O GLOBO – hoje preservadas na obra NOTÁVEIS REPORTAGENS COM CHICO XAVIER (ide, 2010) -, e duas extensas mensagens do Espírito do sétimo presidente do Brasil, Nilo Peçanha, psicografadas em 31 de julho de 1935. Surpreende o teor das mesmas, como se os dias de hoje ali estivessem retratados no aspecto político, como os trechos seguintes: “País essencialmente agrícola, o Brasil tem de voltar suas vistas para sua imensa extensão territorial, multiplicando os conselhos técnicos da agricultura, velando carinhosamente pelos seus problemas”(...)“Não bastam conciliabulos da política administrativa para a criação de leis exequíveis e benfeitoras da coletividade.(...)Esses problemas grandiosos tem sido relegados a um plano inferior pelos nossos administradores (1935), os quais, infelizmente, arraigados aos sentimentos de personalismo vivem apenas para as grandes oportunidades”.(...)“Faz-se necessário melhorar as condições das classes operárias antes que elas se recordem de o fazer, segundo suas próprias deliberações, entregando-se à sanha de malfeitores que, sob as máscaras da demagogia e a pretexto de reivindicações, vivem no seu seio para explorar os entusiasmos vibrantes que se exteriorizam sem objeto definido”.(...) “Infelizmente tivemos a fraqueza de nos apaixonarmos pelas teorias sonoras, acalentando os homens palavrosos, conduzindo-os aos poderes públicos; endeusando-os, incensando-os com a nossa injustificável admiração, olvidando homens de ação, de energia, que aí vivem isolados, corridos dos gabinetes da administração nacional, em virtude de sua inadaptabilidade às lutas da política do oportunismo e das longas fileiras do afilhadismo que vem constituindo a mais dolorosa das calamidades públicas do Brasil”.(...) No Brasil sobram as regalias politicas e as liberdades públicas. Tudo requer ordem e método”.(...).Onde se conservam essas criaturas do sentimento e do raciocínio que as melhores capacidades caracterizam? Justamente, quase todos, por nossa infelicidade, se conservam afastados da paixão política que empolga a generalidade dos nossos homens públicos; com algumas exceções, a nossa política administrativa, infelizmente, está cheia daqueles que apenas se aproveitam da situação, para os favores pessoais e para as condenáveis pretensões dos indivíduos. O sentimento de solidariedade das classes, do amparo social, que deveriam constituir as vigas mestras de um instituto de governo, são relegados para um plano superior, a fim de que se saliente o partido, a pretensão, o chefe, a figura centralizadora de cada um, em desprestígio de todos” O outro Presidente que se manifestou através de Chico foi justamente o primeiro, Deodoro da Fonseca, registro preservado nas páginas do livro FALANDO Á TERRA (feb, 1951). Também muito curioso o teor de suas palavras: -“Proclamada a República e lançada a Carta Magna de 1891, é que reparamos a enorme população ruralizada, a disparidade dos climas, a extensão do deserto verde, as tragédias do sertão, o problema da seca, a necessidade de uma consciência sanitária na massa popular, os imperativos da alfabetização, a incultura da liberdade, a escassez de sentimento cívico, a excentricidade das comunas municipais, e o espírito ainda estrito de numerosas regiões.(...).O programa compulsório do País não poderia afastar-se da educação nos mínimos pontos; entretanto, teceramos precioso manto constitucional com frases e textos de fina polpa democrática, quase impraticáveis além dos subúrbios do Rio de Janeiro.(...)Cabe-nos confessar hoje (1951), honestamente, , que ignorávamos nossa condição de povo juvenil, com idiossincrasias que não pudéramos perceber”. Como percebemos, o calendário avançou mas, os problemas humanos continuam os mesmos....