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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A FATALIDADE E OS PRESSENTIMENTOS

No número de março de 1858 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui interessante matéria elaborada a partir da carta de um correspondente sobrevivente a naufrágio de que foi vitima ao ser surpreendido com mais sete tripulantes por temporal que, durante a noite, virou o barco em que navegavam causando a morte de quatro deles, enquanto ele e mais três se salvaram mantendo-se sobre a quilha da embarcação até o raiar do dia. O vento empurrou então o barco para a costa, possibilitando ganhar a terra a nado. Indaga porque, nesse perigo, igual para todos, apenas quatro sucumbiram, destacando que, no caso dele, era a sexta ou sétima vez que escapava de risco iminente, mais ou menos nas mesmas condições? Kardec explica ter formulado oito perguntas a São Luiz, o dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Espírita de Paris, esclarecendo em breve nota complementar ater-se apenas à fatalidade dos acontecimentos materiais, visto a fatalidade moral ter sido tratada de maneira completa n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Vamos às perguntas e respectivas respostas: 1- Um perigo iminente que ameaça alguém é dirigido por um Espírito e a não consumação do mesmo dever-se-ia à ação de outro? Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a, cria-se uma espécie de destino que não pode evitar, desde que se submeteu. Falo das provas físicas. Conservando seu livre arbítrio sobre o Bem e o mal, o Espírito é sempre livre de suportar ou repelir a prova. Vendo-o fraquejar, um bom Espírito pode vir em seu auxílio, mas não pode influir sobre ele de modo a dominar sua vontade. Um Espírito mau, isto é, inferior, mostrando-lhe e exagerando o perigo físico, pode abalá-lo e apavorá-lo, mas nem por isso a vontade do Espírito encarnado fica menos livre de qualquer entrave. 2- Na iminência de um acidente, o livre arbítrio parece nada valer para a potencial vítima. Poderia ter sido causado ou evitado por um Espírito? Os bons ou maus Espírito não podem sugerir senão pensamentos bons ou maus, conforme sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando tua vida é posta em perigo, é sinal que tu mesmo o desejaste, a fim de te desviares do mal e te tornares melhor. Quando escapas ao perigo, ainda sobre a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, conforme a ação, mais ou menos forte, dos bons Espíritos, em te tornares melhor. 3- A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais da vida, ainda seria, então, um efeito de nosso livre arbítrio? Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude for e melhor a suportares, tanto mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que ficam estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes deste mundo, de vez que em geral os Espíritos escolhem a prova que lhes dê mais frutos. Eles veem muito bem a futilidade de grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, mesmo quando não o seja por meio da dor. 4- Ainda não ficou claro se certos Espíritos tem ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa por uma ponte, esta desmorona. Quem levou o homem a passar por ela? Quando um homem passa por uma ponte que deve cair não é um Espírito que o impele, é o instinto de seu destino que o leva para ela. 5- Quem fez a ponte desmoronar? As circunstâncias naturais. A matéria tem em si as causas da destruição. No caso vertente, se o Espírito tiver necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forças materiais, recorrerá antes à intuição espiritual. (...). O Espírito, digamos, insinuará antes ao homem que passe por esta ponte. 6- Noutro caso, imaginemos um homem mal intencionado dá-me um tiro, cuja bala passa apenas de raspão. Teria sido desviada por um Espírito bom? Não. 7- Podem os Espíritos advertir-nos diretamente de um perigo, como no caso de uma senhora que sai de caso, seguindo por uma avenida, ouvindo uma voz íntima lhe dizendo para voltar para casa e, apesar de vacilar, volta, mas, refazendo-se, crendo ser fruto da imaginação, retorna ao caminho, sendo atingida por uma viga, mal dados alguns passos, o que a deixa desacordada. Não era um pressentimento? Era o instinto, visto que nenhum pressentimento tem essas características, sendo sempre vagos. 8- Que entendeis por voz do instinto? Entendo que, antes de encarnar-se, o Espírito tem conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas tem um caráter saliente, ele conserva uma espécie de impressão em seu íntimo e, tal impressão, despertando ao aproximar-se o instante, torna-se pressentimento.


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