Quando Allan Kardec escreveu num
dos artigos incluídos na REVISTA
ESPÍRITA de 1864 que “não é, pois, nem após a primeira, nem após a
segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma, para
ser responsável por seus atos; talvez só após a centésima ou milésima”, não
parecia estar fazendo uma afirmação absurda. Explicando-se melhor
acrescenta que “dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de
suas faculdades nem um, nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos”. Salienta que “ignoramos absolutamente em que condições
se dão as primeiras encarnações do Espírito (...). Apenas sabemos que são
criados simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o
que é conforme a Justiça”. No caso do
Ser humano, um dos elementos importantes é o chamado livre-arbítrio que, como
explicado pelo Espiritismo, “só se desenvolve pouco a pouco, após
numerosas evoluções na vida corpórea e, associado à responsabilidade, cresce
em razão do desenvolvimento da inteligência. Assim, por exemplo, um
selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado,
que comete uma simples injustiça. Sem dúvida os nossos selvagens estão muito
atrasados em relação a nós e, contudo, já estão bem longe de seu ponto de
partida. Durante longos períodos a alma encarnada é submetida à influência
exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se
transformam em instintos inteligentes, ou melhor, se equilibram com a
inteligência; mais tarde, e
sempre gradativamente, a
inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria
responsabilidade”. As sutilezas no processo evolutivo são curiosas. Uma amostra está na
reflexão do próprio Allan Kardec sobre a seguinte questão “sofre-se
as consequências de um mau pensamento que não se efetivou?”
que compõe as análises do capítulo oito d’ O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
que aborda a afirmação do famoso Sermão da Montanha “Bem Aventurados os
Puros de Coração”. Concluiu o seguinte: -“Temos de fazer aqui uma
importante distinção. À medida que a alma, comprometida no mau caminho, avança
na Vida Espiritual, vai-se esclarecendo, e, pouco a pouco, se liberta de suas
imperfeições, segundo a maior ou menor boa-vontade que emprega, em virtude do
seu livre arbítrio. Todo mau pensamento é, portanto, o resultado da imperfeição
da alma. Mas, de acordo com o desejo que tiver de se purificar, até mesmo esse
mau pensamento se torna para ela um motivo de progresso, porque o repele com
energia. É o sinal de uma mancha que ela se esforça por apagar. Assim, não
cederá à tentação de satisfazer um mau desejo, e após haver resistido,
sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória. Aquela que, pelo
contrário, não tomou boas resoluções, ainda busca a ocasião de praticar o mau
ato, e, se não o fizer, não será por não querer, mas apenas por falta de
circunstâncias favoráveis. Ela é, portanto, tão culpada como se o houvesse
praticado. Em resumo: a pessoa que nem sequer concebe o mau pensamento, já
realizou o progresso; aquela que ainda tem esse pensamento, mas o repele, está
envias de realizá-los; e, por fim, aquela que tem esse pensamento e nele se
compraz, ainda está sob toda a força do mal. Numa, o trabalho está feito; nas
outras, está por fazer. Deus, que é justo, leva em conta todas essas
diferenças, na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem”.
Como salientado por Allan Kardec, “a verdadeira pureza não
está apenas nos atos, mas também no pensamento, pois aquele que tem o coração
puro nem sequer pensa no mal. Foi isso que Jesus quis dizer condenando o
‘pecado’, mesmo em pensamento, porque ele é um sinal de impureza moral”.
E, em função dessa, o complexo de culpa, o remorso,
o arrependimento e o anseio de reparação, como
explicitado no Código Penal da Vida Futura, apresentado no
capítulo sete do livro O CÉU E O INFERNO - ou, a Justiça Divina
Segundo o Espiritismo – automaticamente nos encaminhará à escola do
sofrimento e da dor. Afinal, ninguém foge de si mesmo e a
cada um é dado conforme as próprias obras.
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