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domingo, 23 de novembro de 2014

FALTA DISCERNIMENTO

A má fé, aliada à ignorância, costuma associar mediunidade e Espiritismo, quando, na verdade, o segundo somente cumpriu o importante papel de tirar a primeira da aura de mistério e misticismo, explicando e definindo-a como inerente ao Ser humano, por ser uma percepção orgânica. Está por trás de inúmeros fenômenos envolvendo a criatura humana, sua história individual e coletiva, suas venturas e desventuras, seu equilíbrio e desequilíbrio mento-emocional. E, vez ou outra, entra no foco dos noticiários através de vítimas de desencarnados a serviço da perturbação, na tentativa de desfigurar a verdade dos fatos, alimentando a descrença já tão combalida da espécie humana. Imaginam aqueles que lhes prestam atenção que os Espíritos nada mais são que pessoas como nós, sem o revestimento do corpo físico, que, como enfatiza o Espiritismo, não alcançaram níveis de evolução e elevação espiritual compatíveis com as características que demonstravam na sua forma de ser enquanto encarnados. Recentemente, alguns órgãos de comunicação de massa divulgaram a “assustadora” e “ridicularizante” notícia de que importante companhia aérea em operação no Brasil mudou provisoriamente o número de um de seus voos regulares ante a previsão registrada em cartório de um acidente aéreo que deveria se dar em área de grande concentração de edifícios altos, precisando  local e dia exatos em que se daria, resultando, naturalmente, em centenas de mortes e elevados prejuízos. Os que se contentam com os conhecimentos relativos que já possuem, presos à chamada “zona de conforto”, como inúmeros outros em situações similares, se valeram da “frustrante” não consumação da tragédia para ironizar, justificando seu descrédito em relação à mediunidade. Desconhecem, por exemplo, que n’ O LIVRO DOS MÉDIUNS, questão 10 do item 289, Allan Kardec reproduz o esclarecimento dos que o auxiliaram a compor a importante obra, que "os Espíritos que anunciam acontecimentos que não se realizam, fazem-no, as mais das vezes, para se divertirem com a credulidade, o terror ou a alegria que provocam; depois, riem-se do desapontamento. Essas predições mentirosas trazem, no entanto, algumas vezes, um fim sério, qual o de por à prova aquele a quem são feitas, mediante uma apreciação da maneira por que toma o que lhe é dito e dos sentimentos bons ou maus que isso lhe desperta”. Como, por exemplo, a exaltação da vaidade ou ambição. Quatro anos depois, na REVISTA ESPÍRITA, de julho de 1865, Allan Kardec se serve de artigo veiculado um mês antes no Grand Journal , assinado por respeitado articulista, no qual de forma irônica o mesmo relata fato envolvendo amigo pessoal que, aproveitando-se de visita a um médium, perguntou se ele poderia designar o vencedor das corridas de Chantilly, obtendo através da evocação de um dos mais célebres desportistas franceses,  pelas batidas a designação de letras, formando o nome Gontran. Coincidentemente havia um cavalo com inscrito no Derby corrido naquele dia chamado Gontran, que acabou vencedor da prova. Argumenta Allan Kardec que o fato, raro, se levado em consideração e divulgado para um maior número de pessoas, atrairia multidões consultando médiuns, transformados em ledores de sorte, dando razão aos que contra eles invocam a lei de Moisés, que diz respeito a reprovação enérgica “aos adivinhos, encantadores e os que tem o espírito de Piton”. Acrescenta aos seus comentários que “o Espiritismo não está destinado a fazer conhecer; os Espíritos vem para nos tornar melhores e não para nos revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro na ‘certa’ e sem correr perigo como diz o herói da aventura, ou se ocupar dos nossos interesses materiais, colocados pela Providência sob a salvaguarda de nossa inteligência, de nossa prudência, de nossa razão e de nossa atividade.(...). Eis o que todos os Espíritas sérios devem esforçar-se em propagar, se quiserem servir utilmente à causa. Temos dito sempre aos que sonharam fortunas colossais com o concurso dos Espíritos, sob o especioso pretexto que a sensação que um tal acontecimento produziria, tornaria todo mundo crente quando, se tivessem êxito, desfeririam um golpe funesto na Doutrina, excitando a cupidez em vez do amor ao Bem. É por isto que as tentativas desse gênero, encorajadas por Espíritos mistificadores, sempre foram seguidas de decepções”. No caso do cavalo vencedor, “deve ser aceito como fato isolado, sendo – diz Kardec -, louco e imprudente quem se fiasse em sua realização”. O “pequeno fato tinha uma utilidade: era um meio, talvez o único, para chamar a atenção de certas pessoas para a ideia dos Espíritos e sua intervenção no mundo”, acrescenta em suas ponderações.

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