A questão das profecias
estapafúrdias e das revelações fantásticas atribuídas a Espíritos desencarnados
através de médiuns com nomes associados ao Espiritismo já era assunto nas
páginas da REVISTA ESPÍRITA. Atualmente,
basta a mediunidade mais pronunciada se tornar conhecida pelo seu portador para
que ele se julgue infalível e porta voz de entidades que julga “donas
da verdade”. Chico Xavier contava ter sido
orientado em 1931, pelo guia espiritual Emmanuel logo no primeiro encontro
que tiveram, a jogar fora toda a produção desde quando o jovem psicografara
quatro anos antes, sua primeira mensagem, pois, até ali tudo fizera parte apenas de
seu treinamento. Para nos basearmos em informação confiável, no número de abril
de 1860, Allan Kardec, desenvolve algumas considerações sobre carta
recebida do amigo Sr Jobard, abordando a TEORIA
DA FORMAÇÃO DA TERRA PELA INCRUSTAÇÃO DE VÁRIOS CORPOS PLANETÁRIOS. Dizendo-se
não
adepto da mesma apesar de ter sido dada em várias épocas por certos Espíritos e
através de médiuns desconhecidos uns dos outros, salienta não passarem
de hipóteses, até que dados mais positivos venham confirma-las ou desmenti-las.
Destacando que sua posição geraria críticas do tipo “não tendes confiança nos
Espíritos e duvidais de suas afirmações” ou “como inteligências
desprendidas da matéria, não podem remover todas as dúvidas da Ciência e lançar
a luz onde reina a obscuridade?”, Allan Kardec pondera “ser
esta uma questão séria, que se liga à própria base do Espiritismo, e que não
poderíamos resolver no momento, sem repetir o que temos dito a respeito;
acrescentaremos apenas algumas palavras, a fim de justificar nossas reservas. Para
começar, responderemos que nos tornaríamos sábios muito facilmente se
tratássemos apenas de interrogar os Espíritos para conhecer tudo quanto se
ignora. Deus quer que adquiramos a Ciência pelo trabalho, e não encarregou os
Espíritos de nô-la trazer preparada, favorecendo nossa preguiça. Em segundo
lugar, a Humanidade, como os indivíduos, tem a sua infância, sua adolescência,
sua juventude e sua idade viril. Encarregados por Deus de instruir os homens,
devem pois, os Espíritos proporcionar-lhes ensinos para o desenvolvimento da
inteligência; não dirão tudo a todos e, antes de semear, esperam que a Terra
esteja pronta para receber a semente, a fim de fazê-la frutificar. Eis por que
certas verdades que nos são ensinadas hoje não o foram aos nossos pais, que
também interrogavam os Espíritos; eis por que, ainda, verdades para as quais
não estamos maduros só serão ensinadas aos que vierem depois de nós. Nosso
equívoco está em nos julgarmos chegados ao topo da escada, quando apenas nos
achamos a meio caminho”. Observando que “os Espíritos podem instruir os homens tanto se comunicando diretamente – como provam todas as
histórias sagradas ou profanas -, quanto encarnando-se entre eles, para o
desempenho das missões de progresso”, salienta que “não basta ser Espírito para
possuir a Ciência universal, pois assim a morte nos faria quase iguais a Deus.
Aliás, o simples bom senso se recusa a admitir que o Espírito de um selvagem,
de um ignorante ou de um malvado, desde que separado da matéria, esteja no
nível do cientista ou do homem de Bem. Isto não seria racional. Há, pois,
Espíritos adiantados, e outros mais ou menos atrasados, que devem superar ainda
várias etapas, passar por numerosas peneiras antes de se despojarem de todas as
imperfeições. Disso resulta que, no mundo dos Espíritos, são encontradas todas
as variedades morais e intelectuais existentes entre os homens e outras mais.
Ora,
a experiência prova que os maus se comunicam tanto quanto os bons. Os que são
francamente maus, são facilmente reconhecíveis; mas há também os meio sábios,
falsos sábios presunçosos, sistemáticos e até hipócritas. Estes são os mais
perigosos, porque afetam uma aparência séria, de ciência e de sabedoria, em
favor da qual proclamam, em meio a algumas verdades e boas máximas, as mais
absurdas coisa. E para melhor enganar, não receiam enfeitar-se com os mais
respeitáveis nomes. Separar o verdadeiro do falso, descobrir a trapaça oculta
numa cascata de palavras bonitas, desmascarar os impostores, eis, sem
contradita, uma das maiores dificuldades da ciência espírita. Para superá-la,
faz-se necessária uma longa experiência, conhecer todas as sutilezas de que são
capazes os Espíritos de baixa classe, ter muita prudência, ver as coisas com o
mais imperturbável sangue frio, e guardar-se principalmente contra o entusiasmo
que cega. (...). Mas infeliz do médium
que se julga infalível, que se ilude com as comunicações que recebe: o Espírito
que o domina pode fasciná-lo a ponto de fazê-lo achar sublime aquilo que, por
vezes, é apenas absurdo e salta aos olhos de todos, menos os seus”.
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