A questão da morte é vista de
forma dramática pela nossa cultura. Embora inevitável na caminhada desta vida
não só pela fragilidade de corpo físico que usamos como também pelo inevitável envelhecimento
provocado pelo seu desgaste natural, as pessoas preferem ignorar que a
encontrarão em algum ponto de sua caminhada existencial. Um caso, porem,
mostra-se como o mais difícil de todos. É o que envolve a perda de um filho de
forma inesperada em função de um acidente ou previsível pela gravidade de uma
doença manifestada. E, em meio a esses episódios, a dor de uma mãe chama mais a
atenção. Das mães que honram esse título é claro. Chico Xavier que, em
função da mediunidade, conviveu com milhares de casos dizia não existirem palavras
que pudessem definir tal dor. Dizia ser superlativa. Ideias e pensamentos os
mais absurdos levam-nas a gestos extremos. Seja por não suportarem tal sentimento,
seja pela ilusão de, talvez, se reencontram noutra vida com o ente cuja
convivência lhe interrompida. Embora seja grave delito perante as Leis
Cósmicas, neste caso é considerado com atenuantes. Na verdade, conforme nos
revela a Doutrina Espírita, nada é por acaso, e a perda de um ente querido,
geralmente, faz parte do programa que estamos cumprindo na passagem pela face
mais material da vida. Muitas vezes, solicitamos ou concordamos com tal
experiência para ajudar aquele que tem frustrada sua passagem por nossa
Dimensão, pelas profundas ligações que com eles mantemos desde Eras remotas. Ou,
como explicado pelo Instrutor Druso a Hilário e André
Luiz na obra AÇÃO E REAÇÃO (1957;
feb), contribuímos para suas quedas em vida passada e pedimos para nos redimir
das culpas que criamos, vivendo a difícil experiência da separação em meio a
sonhos e projetos aqui acalentados. Ninguém foge de si mesmo e, mais dia, menos
dia, nos sentiremos necessitados do enfrentamento dos efeitos causados por
nossas atitudes insensatas. Entre a farta documentação geradas através do
médium Chico Xavier – todos, casos reais -, encontramos exemplos de
como a deserção via suicídio acarreta consequências, também dolorosas para quem
dele se vale para fugir do aprendizado e da remissão. Um deles resulta da carta
escrita pela jovem Valéria Cosentino, desencarnada em acidente automobilístico, aos
23 anos, após abalroamento que levou o carro que dirigia a chocar-se com a
Ponte da Cidade Jardim, Marginal Pinheiros. Santista, católica, formada em
Odontologia, cursava Pós-Graduação na Universidade de São Paulo, razão porque
permanecia na capital paulista de quarta a sexta-feira. Prevenida desde 15 dias
antes através de significativos sonhos que sugeriam uma grande viagem, com sua
morte impôs aos pais e irmão, momentos de desespero e inconformação. Sua mãe,
contudo não resistiu e cedeu ao suicídio. Formação universitária, professora de
inglês, dias após a transferência da filha para a Vida Espiritual, fez uso de
um tiro no crâneo para aplacar o sofrimento em que se viu mergulhada. Pouco
mais de um ano após o acidente que mudou sua vida, o pai e marido,
encontrava-se na reunião pública do Grupo Espírita da Prece, onde Chico
Xavier, entre outras, psicografou esclarecedora e confortadora de Valéria,
oferecendo notícias de sua situação. Médico Legista e Cirurgião, encontrou em
suas palavras alento para seguir em frente com a própria vida. Valéria, expondo suas impressões sobre os
acontecimentos, relatando o sucedido após a morte do seu corpo físico, sua
angustiante recuperação ao tomar conhecimento do sucedido, conta da aflição
quando da primeira visita ao lar que deixara, em se referindo à mãe diz: -“Lutei,
mas lutei muito para arredar das ideias da Mãezinha o propósito do suicídio,
mas não consegui. Aquela alma forte e sensível fora ferida nas próprias
entranhas, e por muito nos dedicássemos a ela, no sentido de alterar-lhe as
disposições, incapaz de arrebata-la ao terrível intento, via-a arrasar o
próprio corpo, imaginando que isso lhe abriria as portas da visão para o
encontro comigo, quando o gesto dela, desertando da provação, nos agravava o
espanto de todos. (...). A Mãezinha demorou-se para retornar a si mesma. Agora,
já me reconhece, mas trouxe muito desequilíbrio no corpo espiritual, que lhe
tomará tempo para desaparecer. Pai, querido, a Mãezinha tem sofrido muito nos
remanescentes do suicídio a que se entregou, e agora confessa-me temer por sua
sanidade mental e pela sanidade do Paulo, e me solicitou pedir-lhes calma e resignação.
(...). Pai, ela e eu pedimos aos dois, com os nossos corações entrelaçados no
mesmo temor para que não alimentem qualquer desejo de encontrar a morte
prematura, que vem a ser uma calamidade na vida daqueles que a perpetram”.
Muito emocionante, dentre tantas outras mensagens vistas por mim ontem 10.01.14 em seminário "As Cartas de Chico Xavier" ministrado pelo Sr. Luiz Armando no Centro Espírita Casa do Caminho.
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