-“Porque os Espíritos dos grandes gênios, que
brilharam na Terra, não produzem obras-primas por via mediúnica, como fizeram
em vida, desde que sua inteligência nada perdeu?”. O questionamento foi apresentado na seção Perguntas
e Problemas do número de fevereiro de 1865 da REVISTA ESPÍRITA. A resposta incluiu
ponderações de Allan Kardec, de dois Espíritos que se manifestaram em reuniões
da Sociedade
Espírita de Paris e um comentário adicional do próprio Editor.
Argumenta ser difícil a real identidade dos Espíritos a não ser para os
contemporâneos, cujo caráter e hábitos são conhecidos, não deixando quaisquer
dúvidas sobre a autoria de seus escritos por uma porção de particularidades,
nos fatos e na linguagem. Considera que “antes de tudo, há que ver a utilidade das
coisas. Para que serviria isto. Dirão que para convencer os incrédulos. Mas que
se os vê resistindo a mais palpável evidência, uma obra prima não lhes provaria
melhor a existência dos Espíritos, porque a atribuiriam, como todas as
produções mediúnicas à superexcitação cerebral”. Afirma que “um
Espírito familiar, um pai, uma mãe, um filho, um amigo, que vem revelar
circunstâncias desconhecidas do médium, dizer essas palavras que vão ao
coração, prova muito mais que uma obra prima, que poderia sair do próprio
cérebro. Um pai, cujo filho que chora, vem atestar sua presença e sua afeição,
não fica mais convencido do que se Homero viesse fazer uma nova Ilíada, ou RACINE
uma nova FREDA? Porque, então, lhes pedir prodígios de força, que
espantariam mais do que convenceriam, quando eles se revelam por milhares de
fatos íntimos ao alcance do todo? Os Espíritos buscam convencer as massas, e
não este ou aquele indivíduo, porque a opinião das massas faz lei, enquanto que
os indivíduos são unidades perdidas na multidão. Eis porque dão pouco valor aos
obstinados que os querem levar à força. Sabem muito bem que mais cedo ou mais
tarde terão de curvar-se ante a força da opinião. Os Espíritos não se submetem
aos caprichos de ninguém; para convencer empregam os meios que querem, conforme
os indivíduos e as circunstâncias. Tanto pior para os que não se contentam com
isto; sua vez chegará”. Na primeira das mensagens mediúnicas citadas, o
Espírito Erasto na reunião de 6 de janeiro de 1865, através do
médium Sr D’Ambel, destaca haverem médiuns que, “por suas aquisições anteriores,
na existência que hoje percorrem, tornaram-se aptos por sua capacidade
intelectual a se tornar instrumentos para Espíritos mais desenvolvidos, o que
nada tem a ver com a questão moral”. Revela existir “mais
de uma obra-prima da literatura e das artes produto de uma mediunidade
inconsciente”. Frisa, no entanto, que “na maior parte das
circunstâncias, os Espíritos que se comunicam, os grandes Espíritos, bem
entendido, estão longe de ter sob a mão os elementos suficientes para a emissão
de seu pensamento na forma, com a fórmula que eles lhe teriam dado em vida”.
Na outra comunicação recebida na reunião de 20 de janeiro, através da médium
Srta M.C.,
assinada por um Espírito Protetor, ele destaca que “os Espíritos devem agir
sobre os instrumentos que estejam ao nível de sua ressonância fluídica. Que
pode um bom músico com um instrumento ruím? Nada. (...) Em é necessário
similitude, nos fluidos espirituais, como nos fluidos materiais. (...). Não
encomendais roupa ao chapeleiro, nem perucas a um alfaiate”. Alerta,
entretanto, que “os Espíritos levianos são em grande número, e aproveitam as vossas
faculdades com tanto mais facilidade quanto muitos, envaidecidos pelas
assinaturas notáveis, pouco se importam em se informarem se sobre a fonte
verdadeira, confrontando o que obtém com o que deveriam ter obtido”. Na
observação com que complementa a matéria, Allan Kardec enfatiza que embora a
segunda comunicação repouse num princípio verdadeiro que resolve perfeitamente “a
questão, do ponto de vista científico, não poderia ser tomado num sentido muito
absoluto. À primeira vista, o princípio parece contradizer os fatos tão
numerosos de médiuns que tratam dos assuntos fora dos seus conhecimentos e
pareceria implicar, para os Espíritos Superiores, a possibilidade de só se
comunicarem com médiuns à sua altura. Ora, isto só se deve entender quando se
trata de trabalhos especiais e de uma importância muito alta. Compreende-se
que se Galileu quiser tratar de uma questão científica, se um grande poeta
quiser ditar uma obra poética, tenham necessidade de um instrumento que
responda ao seu pensamento, mas isto não quer dizer, para outras coisas, uma
simples questão de moral, por exemplo, um bom conselho a dar, não poderá
fazê-lo por um médium eu nem seja cientista, nem poeta. Quando um médium trata
com facilidade e superioridade assuntos que “são estranhos, é um indício de que
o seu Espirito possui um desenvolvimento inato e faculdades latentes, fora da
educação que recebeu”.
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