“Um século é período demasiado
curto em assuntos do Espírito”, afirmou o engenheiro Gabriel
Dellane à André Luiz em entrevista realizada em 1965, em Paris, França. Hoje,
cento e cinquenta anos se passaram desde que Allan Kardec publicou o
que seria o quarto livro da sequência fundamental do Espiritismo. A obra O CÉU E O INFERNO ou a justiça
Divina segundo o Espiritismo, apareceu pela primeira vez nas livrarias
francesas no mês de agosto de 1865. Dividido em duas partes, na segunda reúne
mais de seis dezenas de casos exemplificando as impressões e situação de
pessoas que passaram por diferentes tipos de morte e foram, através de diversos
médiuns ligados à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – o laboratório onde se dissipavam mistérios sobre a realidade
espiritual que se confunde com a nossa - entrevistados em reuniões ali
desenvolvidas, para se conhecer as impressões nos instantes que precederam,
marcaram e sucederam o natural transe da morte. Com base nisso e o apoio da
Espiritualidade que assessorava Allan Kardec no trabalho de
organização dos “manuais” denominados Pentateuco Espírita: O LIVRO DOS ESPÍRITOS, O LIVRO DOS MÉDIUNS,
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, O CÉU E O INFERNO e A GÊNESE, resgata a reencarnação como instrumento indispensável no
processo evolutivo dos Espíritos, e, no capítulo 7 do quarto livro, reproduz o
que chama de CODIGO PENAL DA VIDA FUTURA. Trata-se de um conjunto de
33 artigos ou princípios que mostram como o Ser avança na direção de sua
iluminação ou na escala do progresso perante a Sabedoria que caracteriza a Obra
da Inteligência
Suprema do Universo, chamada por alguns Deus, por outros Arquiteto
Supremo do Universo, Consciência Cósmica, Allah, Jeová, etc. Uma ideia
como dito por Allan Kardec, que “materializamos conforme nossa materialidade”,
em outras palavras, que evolui com nossa evolução. Aprendemos que o
desenvolvimento de nossa consciência (efeito da ampliação de
nossa inteligência e memória), vai se manifestando em nós
o “sentimento
de culpa” a cada ação intencionalmente realizada confrontando a Lei do
Amor. O ciclo vicioso de experiências empurra a criatura na direção das expiações
e, os progressos realizados como Espírito resultam numa sequência de estados
mento-emocionais conhecidos como remorso,
seguido do arrependimento que passam a solicitar a reparação dos prejuízos
causados em nossa relação conosco mesmos através da vida em sociedade. Tudo
para que nos liberemos dos incômodos registros guardados na nossa memória de
profundidade, a memória integral, o grande banco de dados acumulados a partir
de nossas experiências. Para medir eventuais os resultados, as chamadas provas
vão se sucedendo, testando avanços ou aumentando a carga de perturbadoras desarmonias
pelo não aproveitamento das oportunidades criadas. Corpo físico, tempo, família de
origem, família organizada, desenvolvimento nesta ou naquela área são
instrumentos ou ferramentas fornecidas para o trabalho que incessantemente
temos a realizar. Como repassado pelo Espírito André Luiz através do
médium Chico Xavier, “o sentimento de culpa é sempre um colapso da
consciência e, através dele, sóbrias forças se insinuam”. O filósofo
Léon Denis considera que “o deslize do Espírito no mal implica
fatalmente na diminuição de liberdade. Os pensamentos e os atos criam em torno
da alma culpada, uma sombria atmosfera fluídica que se condensa pouco a pouco,
vai se contraindo e a encerra como numa prisão”. Como explicado pelo
Espírito Emmanuel, essa fuga ao dever, precipitando-nos no sentimento
de culpa, “origina o remorso,
com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da
alma”. Acrescenta que o “arrependimento, incessantemente fortalecidos
pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abcesso mental,
envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de
nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o
convívio”. Nas palavras de André Luiz, “a recordação dessa ou daquela
falta grave, mormente daquelas que jazem recalcadas no Espírito, sem que o
desabafo e a corrigenda funcionem como válvula de alívio às chagas ocultas do
arrependimento, cria na mente um estado anômalo que podemos classificar de
“zona
de remorso”, em torno as qual a onda viva e continua do pensamento passa a
enovelar-se em circuito fechado sobre si mesma, com reflexo permanente na parte
do veículo fisiopsicossomático ligada à lembrança da pessoa e circunstâncias associadas
ao erro de nossa autoria. Estabelecida a ideia fixa sobre esse nódulo de forças
mentais desequilibradas, é indispensável que acontecimentos reparadores se
contraponham ao modo enfermiço do Ser, para que nos sintamos exonerados desse
ou daquele fardo íntimo, ou exatamente redimidos perante a Lei”.
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