No Mundo Espiritual
muita gente vai se surpreender. Lá não seremos identificados pela importância,
ou melhor, pela suposta importância no mundo”, comentou
Chico Xavier com um grupo
de amigos. Cada um terá sua porta de acesso à verdadeira vida, bem como uma
realidade muito pessoal a enfrentar. Nossas ideias, revelam os estudos
propiciados pelo Espiritismo, especialmente as inferiores, com o tempo, se
cristalizam em nossa alma, impondo-nos aflitiva fixação mental, decorrente de
nossas criações íntimas. Em muitos casos, seu despertar se faz através dos
chamados trabalhos de desobsessão realizados em nossa Dimensão. É o caso do
Espírito cujo depoimento reproduziremos a seguir. Oculto, por razões óbvias,
apenas pela inicial F. de seu nome, ocupou a mediunidade
psicofônica de Chico ao final da reunião de 24 de junho de 1954,
retornava, oferecendo um alerta para todos nós. Entre outras coisas, diz ele:
-“Com aprovação de vossos orientadores, venho trazer-vos meu
reconhecimento e algo de minha amarga experiência, como aviso de um náufrago
aos viajantes do mundo. Quantas vezes afirmei que o dinheiro era a solução da
felicidade!.. Quanto tempo despendi, acreditando que a dominação financeira
fosse o triunfo real na Terra!... No entanto, a morte me assaltou empelna vida,
assim como o tiro do caçador surpreende o pássaro desprevenido no malto
inculto...Como foi o meu desligamento do corpo físico e quantos dias dormi na
sombra, por agora, nada sei dizer. Sei hoje apenas que acordei no espaço
estreito do sepulcro, com o pavor de um homem que se visse repentinamente
enjaulado. Sufocava-me a treva espessa. Horrível dispneia agitava-me todo.
Queria o ar puro...Respirar...respirar...E gritei por socorro. Meus brados,
contudo, se perdiam sem eco. Ao cabo de alguns instantes, notei que duas mãos
vigorosas me soergueram e vi-me, depois de estranha sensação, na paz do campo,
sorvendo o ar fresco da noite. Que lugar era aquele? Uma casa sem teto? De
repente, a cambalear, reconheci-me rodeado de grandes caixas fortes... Ao
frouxo clarão da Lua, reparei que essa caixas fortes surgiam milagrosamente
douradas...Tateei-as com dificuldade, percebi palavras em alto relevo e
verifiquei que eram túmulos...Espavorido, transpus apressado as grades daquela
inesperada prisão. Vi-me, semilouco, na via pública. Devia ser noite alta. Na
rua, quase ninguém...Um bonde retardado apareceu. Achava-me doente, inquieto e
exausto, mas ainda encontrei forças para clamar: -Condutor!...Condutor!...O homem,
porém, não me ouviu. Caminhei mais depressa. Tomei o veículo em movimento e
consegui a situação do pingente anônimo; todavia, com espanto, observei que o
bonde era todo talhado em ouro...As pessoas que o lotavam vestiam-se de ouro
puro.O motorneiro envergava uniforme metálico. Intrigado, sentia medo de mim
mesmo. E, para distrair-me, tentei estabelecer uma conversação com vizinhos. Os
circunstantes, porém, pareciam surdos. Ninguém me ouvia. Vencendo embaraços
indefiníveis, alcancei minha residência. As portas, no entanto, jaziam
cerradas. Esmurrei, chamei, supliquei... Mas tudo era silêncio e quietação. E
quando fitei o frontispício do prédio, o ouro me cercava por todos os lados.
Acomodei-me no chão de ouro e tentei conciliar, debalde, o sono, até que,
manhãzinha, a porta semiaberta permitiu-me a entrada franca. Tudo, porém,
alterara-se em minha ausência. Ninguém me reconheceu. Fatigado, avancei para
meu leito.... Mas o velho móvel se me apresentava agora em ouro maciço. Senti
sede e procurei a água simples, entretanto, o líquido que jorrava era ouro,
ouro puro... Faminto, busquei nosso antigo depósito de pão. O pão, todavia,
transformara-se. Era precioso bloco de ouro, de cuja existência, até então, não
tinha qualquer conhecimento em nossa casa. Meditei... Meditei...Todos os meus
afeiçoados como que como que conspiravam contra mim... Não passava de intruso
em minha própria moradia. Dia terrível aquele em que reassumia ou tentava
reassumir meu contato com os seres amados que, naturalmente, me deviam assistência
e carinho”. F prossegue em seu testemunho confirmando que
nosso “desejo-central”, aprisiona-nos nos efeitos do que causamos
em nossas próprias encarnações. Realmente como ponderou Chico Xavier no
apontamento com que iniciamos, “gente há que desencarna imaginando que as
portas do Mundo Espiritual irão se lhes escancarar, Ledo engano!. Ninguém quer
saber o que fomos, o que possuímos, que cargo ocupávamos no mundo. O que conta
é a luz que cada um já tenha conseguido fazer brilhar em si mesmo. Esse negócio
de ter sido fulano de tal interessa à consciência de quem foi e, na maioria das
vezes, se complicou.
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