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sábado, 28 de março de 2015

AINDA SOBRE A POSSIBILIDADE DE PREVER O FUTURO

Na tentativa de nos auxiliar a entender este intrigante fenômeno, Allan Kardec escreve na REVISTA ESPÍRITA de maio de 1864.-“Aquele a que é confiado o trabalho de revelar uma coisa oculta pode recebê-la, independentemente de sua vontade, como inspiração pelos Espíritos que a conhecem; então a transmite maquinalmente, sem se dar conta. Além disso, sabe-se que, quer durante o sono, quer em vigília, no êxtase da dupla vista, a alma se desprende e possui em grau mais ou menos grande as faculdades do Espírito livre. Se for um Espirito adiantado, se, como os profetas, tiver recebido a missão especial para esse efeito, goza, nesses momentos de emancipação da alam, da faculdade de abarcar, por si mesmo, um período mais ou menos extenso e vê, como presentes, os acontecimentos desse período. Então pode revela-los, imediatamente, ou lhes conservar a memória ao despertar. Se os acontecimentos devem ser mantidos em segredo, ele perderá a sua lembrança ou conserva apenas uma vaga intuição, suficiente para o guiar instintivamente. É assim que se vê essa faculdade desenvolver-se providencialmente em certas ocasiões, nos perigos iminentes, nas grandes calamidades, nas revoluções e que a maioria das seitas perseguidas tiveram numerosos videntes; é ainda assim que se veem grandes capitães marchar resolutamente contra o inimigo, com a certeza da vitória; homens excepcionais, como, por exemplo, Cristóvão Colombo, perseguir um objetivo, por assim dizer predizendo o momento de o atingir. É que viram esse objetivo, que não é desconhecido para seu Espírito. Todos os fenômenos cuja causa era desconhecida foram reputados maravilhosos. A Lei segundo a qual estes se realizam, uma vez conhecida, os colocaram na ordem das coisas naturais. O dom da predição não é sobrenatural, como não o são muitos outros fenômenos: repousa nas propriedades da alma e na Lei das relações entre os mundos visível e invisível, que o Espiritismo vem dar a conhecer. Mas como admitir a existência de um Mundo Invisível, se não se admitir a alma, ou se se não admitir sua individualidade após a morte? O incrédulo que nega a presciência é consequente consigo mesmo. Resta saber se o é com a Lei Natural. A Teoria da Presciência talvez não resolva de modo absoluto todos os casos que a previsão do futuro possa apresentar, mas, não se pode desconsiderar que ela estabelece o seu princípio fundamental. Se se não pode tudo explicar é pela dificuldade, para o homem. De colocar-se nesse ponto de vista extraterrestre; por sua inferioridade, seu pensamento, incessantemente arrastado para o caminho da vida material, muitas vezes é impotente para se destacar do solo. A esse respeito muitos homens são como as aves novas, cujas asas, demasiadamente fracas, não lhes permitem elevar-se no ar, ou como aqueles cuja vista é demasiado curta para ver ao longe, ou, enfim, como aqueles a quem falta um sentido para certas percepções. Entretanto, com alguns esforços e o hábito da reflexão, lá chegam: os Espíritas, mas facilmente que os outros, porque , melhor que os outros, podem identificar-se com a Vida Espiritual, que compreendem. Para compreender as coisas espirituais, isto é, para fazer delas uma ideia tão clara quanto a que fazemos de uma paisagem que está aos nossos olhos, falta-nos, realmente, um sentido, exatamente como a um cego falta o sentido necessário para compreender os efeitos da luz, das cores e da visão à distância. Assim, só por um esforço da imaginação é que o conseguimos, auxiliados por comparações tiradas das coisas familiares. Mas, as coisas materiais, só ideias muito imperfeitas nos podem dar das coisas espirituais. É por isso que não se deveriam tomar essas comparações ao pé da letra e, por exemplo, crer, no caso de que se trata, que a extensão das faculdades de perspectiva dos Espíritos depende de seu elevação efetiva, e que eles necessitem estar numa montanha ou acima das nuvens, para abarcar o tempo e o espaço. Essa faculdade é inerente ao estado de espiritualização ou, se se quiser, de desmaterialização. Por outras palavras, a espiritualização produz um efeito que se pode comparar, embora muito imperfeitamente, ao da visão de conjunto do homem sobre a montanha. Esta comparação apenas objetivava mostrar que acontecimentos que estão no futuro para uns, está no presente para outros e, assim, podem ser preditos, o que não implica que o efeito se produza da mesma maneira. Para gozar dessa percepção o Espírito não precisa, então, transportar-se para um ponto qualquer no espaço; o que está na Terra, ao nosso lado, pode possuí-la em sua plenitude, como se estivesse a milhares de quilômetros, ao passo que nada vemos fora do horizonte visual. Não se produzindo a visão nos Espíritos da mesma maneira e com os mesmos elementos que no homem, seu horizonte visual é bem outro. Ora, aí está precisamente o sentido que nos falta para o conceber; ao lado do encarnado, o Espírito é como um vidente ao lado de um cego”.


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