A jovem demonstrando sinais
de subnutrição, perturbação e desequilíbrios orgânicos de vulto, pediu ajuda ao
pequeno Centro Espírita de seu conhecimento. Avaliado pelos Benfeitores
Espirituais ali em atividade, foi diagnosticada a ação de um indivíduo
desencarnado tempos antes, com quem ela nutrira relacionamento afetivo,
interrompido pela morte prematura e inesperada do mesmo, aparentemente por
suicídio após retornar de extenuantes quatro dias ininterruptos dedicados às
festividades carnavalescas. Preparando-se para banho refazedor, adormeceu após
ligar o gás, inalando a substância letal que o expulsaria do corpo físico.
Desenfaixando-se da veste carnal, com o pensamento enovelado à paixão por ela,
esta sintonizou com ele, a ponto de retê-lo junto de si com aflições e
lágrimas, que passou a vampirizar-lhe o corpo. Desarvorado diante da
desencarnação, adaptou-se ao organismo da mulher amada que passou a obsidiar,
nela encontrando novo instrumento de sensação, vendo por seus olhos, ouvindo
por seus ouvidos, muitas vezes falando por sua boca e vitalizando-se com os
alimentos comuns por ela utilizados. Nessa simbiose, viviam ambos, há quase
cinco anos sucessivos, o que a levou em face de sua debilidade a procurar
socorro. O quadro, a princípio, sugeria o afastamento dos fluidos que a
envolviam, o que exigia o diálogo esclarecedor do desencarnado nos trabalho
especializados conhecidos como de desobsessão. Através de uma das mais bem preparadas
médiuns do pequeno grupo, o solteirão desencarnado que não guardava consciência
da própria situação, dialogou de forma tensa e áspera, com o dirigente do
grupo, reviu cenas de sua própria intimidade num aparelho denominado “condensador
ectoplásmico”, o qual condensando em si os raios de força projetados
pelos componentes da reunião, reproduz as imagens que fluem do pensamento da
entidade comunicante, facilitando o trabalho do esclarecedor que as recebe em
seu campo intuitivo, auxiliado pelas energias magnéticas do Plano Espiritual.
Por fim, defrontando-se com as ignoradas consequências das suas derradeiras
ações no Plano dos encarnados, entrou em crise emotiva que obrigou sua retirada
do recinto para a transferência para
organização próxima para que fosse convenientemente abrigado. O mais curioso,
contudo, se verificaria na madrugada que se seguiu, segundo relato do Espírito André
Luiz, através do médium Chico Xavier. Acompanhando o
Instrutor Espiritual que introduzia ele, e seu amigo Hilário nos assuntos da
mediunidade, partiram para atender pedido de conhecido a ele dirigido em favor
de um dos assistidos na reunião de horas antes. Narra André Luiz que a breve tempo, penetraram
nebulosa região, dentro da noite. Os astros desapareceram de seus olhos. Teve a
impressão de que o piche gaseificado era o elemento preponderante naquele
ambiente. Em derredor, proliferavam soluções e imprecações, mas a pequenina
lâmpada que um cicerone empunhava, auxiliando-os, não lhes permitiam enxergar
senão trilho estreito que lhes cabia percorrer. Findos alguns minutos de marcha,
atingiram uma construção mal iluminada, em que vários enfermos se demoravam,
sob a assistência de enfermeiros atenciosos. Entraram, cientificando-se estar
em hospital de emergência, dos muitos que se estendem nas regiões purgatoriais.
Tudo pobreza, necessidade, sofrimento... Aproximaram-se, por fim, da entidade
tratada, entre outras, no trabalho de horas antes, sendo informados que o
doente denotava crescente angústia. Auscultado, o especialista acompanhado por André Luiz,
informou: -“O pensamento da irmã encarnada
que o nosso amigo vampiriza está presente nele, atormentando-o. Acham-se ambos
sintonizados na mesma onda. É um caso de perseguição recíproca. Os benefícios
recolhidos no grupo estão agora eclipsados pelas sugestões arremessadas de longe”.
Em meio a alguns comentários, o doente fizera-se mais angustiado, mais pálido,
parecendo registrar uma tempestade interior, pavorosa e incoercível. Mal
acabara o orientador de formular o seu prognóstico sobre a vizinhança da irmã
que se lhe apoderou da mente, tornando-o mais dominado, mais aflito, a pobre
mulher desligada do corpo físico pela atuação do sono, apareceu à frente do
grupo, reclamando feroz: -Libório!. Libório! Porque te ausentaste? Não
me abandones! Regressemos para nossa casa! Atende!. Atende!”... Era a
mesma jovem que recorrera ao Centro em busca de socorro, e que na manhã
seguinte acordará lembrando-se vagamente de haver sonhado com a antiga paixão.
Ante a surpresa quase surreal, o Benfeitor ponderou que o auxílio solicitado “era
o que ela julga querer. Entretanto, no íntimo, alimenta-se com os fluidos
enfermiços do companheiro desencarnado e apega-se a ele, instintivamente.
Milhares de pessoas são assim. Registram doenças de variados matizes e com elas
se adaptam para mais segura acomodação com o menor esforço. Dizem-se
prejudicadas e inquietas, todavia, quando se lhes subtrai a moléstia de que se
fazem portadoras, sentem-se vazias e padecentes, provocando sintomas e
impressões com que evocam as enfermidades a se exprimirem, de novo, em
diferentes manifestações, auxiliando-as a cultivar a posição de vítimas, na
qual se comprazem”.
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